Reproduzo a seguir um editorial do O Estado de S. Paulo, do dia 03 deste mês de abril, porque contém informações interessantes nem sempre disponíveis ao grande público e que, a meu ver, merecem atenção. O que estiver entre colchetes e em itálico refere-se a comentário meu e não do jornal, sendo portanto de minha responsabilidade.
Com o rápido aumento da frota de veículos e a quebra na produção de
etanol nos últimos anos, o consumo de gasolina no Brasil em janeiro
deste ano foi de 493 mil barris por dia, 36% acima do mesmo mês do ano passado. Em vista desse aumento, a Secretaria de Comércio Exterior
(Secex) apresenta agora em separado, em suas estatísticas, o quadro de
importação de gasolina. Verifica-se assim que, no primeiro bimestre
deste ano, as importações do produto custaram US$ 566,72 milhões,
podendo superar US$ 3 bilhões ao fim deste ano. A Petrobrás produz 85%
da gasolina consumida no País e importa outros 15%, segundo o diretor de
Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa, que informou que essa
dependência de importações só será definitivamente superada a partir de
2013, quando deve entrar em operação a Refinaria Abreu e Lima, em
Pernambuco. Essa unidade, no entanto, não vai produzir gasolina, mas
diesel, querosene de aviação (QAV) e gás liquefeito de petróleo (GLP).
Liberará, entretanto, outras refinarias para produzir maior volume de
gasolina.
A previsão soa otimista, tendo em vista o aumento do consumo de gasolina
e a persistência dos problemas não resolvidos quanto ao etanol. A
presidente da Petrobrás, Graça Foster, disse recentemente à Folha de
S.Paulo que a empresa gostaria de ter menor exposição à gasolina, mas
não encontra etanol a preços razoáveis. "Agora, neste ano de 2012, como
em 2011", disse ela, "estamos sendo punidos pelas próprias transações do
mercado. A Petrobrás entra no mercado, e o que está valendo 10 vira 15.
Por 15, não retorna o capital empregado e a gente não vai entrar de
cabeça para perder dinheiro em hipótese alguma".
Além disso, há atrasos na construção de quatro refinarias programadas.
Na Abreu e Lima, as obras avançam, mas há ainda pendências quanto à
participação da Petróleos de Venezuela (PDVSA). A refinaria do Complexo
Petroquímico do Rio de Janeiro deveria entrar em funcionamento em 2015,
mas deve atrasar com o corte no orçamento de investimentos da Petrobrás.
Em situação semelhante estão as Refinarias Premium l, no Maranhão, e
Premium 2 no Ceará, previstas agora para 2019. [Todas essas refinarias produzirão diesel, e não gasolina. A Refinaria Abreu e Lima processará 200 mil barris de petróleo por dia (bpd), e 70% de sua produção serão destinados à produção de óleo diesel, e o restante a produtos nobres da área petroquímica. A Refinaria do Comperj (Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro) beneficiará 330 mil bpd em sua etapa final e produzirá também óleo diesel e uma gama enorme de outros produtos, mas não gasolina. A Refinaria Premium 1 processará 600 mil bpd em sua etapa final e produzirá óleo diesel de alta qualidade e outros derivados, mas não gasolina. A Refinaria Premium 2 beneficiará 300 mil bpd e produzirá óleo diesel e outros produtos, mas não gasolina.]
Para reforçar sua atuação no setor, a Petrobrás decidiu, em anos
anteriores, adquirir refinarias já prontas no exterior, de onde provém
uma parte de suas importações de combustíveis. Segundo o jornal Valor
(28/3), para atender à demanda de sua controladora no Brasil, a
refinaria Petrobrás América, instalada em Pasadena, no Texas (EUA),
adquirida em 2010 da Astra Oil Trading, vai aumentar em duas vezes e
meia as suas vendas de gasolina para o Brasil, que deverão alcançar 9
milhões de barris este ano, em comparação com 3,5 milhões de barris em
2011. As exportações de diesel também vão mais que dobrar, passando de
3,6 milhões para 8 milhões de barris. Essa refinaria utiliza petróleo
mais leve, dos EUA, Nigéria e Angola.
A unidade de Pasadena tem capacidade de processar 100 mil barris de
combustíveis por dia, capacidade igual à refinaria que a Petrobrás
possui em Okinawa, comprada da Sumitomo em 2008, a única refinaria
estrangeira no Japão. Outra refinaria da estatal brasileira está
instalada em Bahía Blanca, na Argentina, adquirida em 2001 da Repsol
YPF, com capacidade de 30 mil barris diários. O fato de essas refinarias processarem petróleo leve não significa que o
óleo pesado produzido no Brasil não encontra mercado no exterior. Os
EUA absorveram 40% das exportações brasileiras de petróleo no ano
passado, tornando-se individualmente o maior cliente da Petrobrás.
Essa situação mostra que, na realidade, o Brasil não atingiu a
autossuficiência em petróleo. Depois de décadas de esforço, o País se
tornou um exportador líquido de petróleo em bruto, mas continua
altamente dependente de gasolina importada, o derivado que mais consome.
Como já vai se tornando cada vez mais comum, o Brasil avança na
exportação de produtos primários, mas tem ainda dificuldades de se
firmar como exportador de produtos com maior valor agregado, e a área de
derivados de petróleo, como se vê, não é exceção.
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