quinta-feira, 5 de abril de 2012

Brasil critica superoferta de dinheiro na zona do euro -- as posições de Dilma em sua recente visita à Alemanha

Agradeço ao caro amigo Levy o envio da reportagem que traduzo a seguir, publicada hoje no site alemão Manager Magazin Online, a propósito da recente visita de Dilma Rousseff à Alemanha  para participar da feira de computação Cebit.


Nos países emergentes cresce o receio de um tsunami monetário vindo dos EUA e da Europa. Após um encontro com a chanceler Angela Merkel na feira da Cebit, a presidente brasileira Dilma Rousseff externou fortes críticas à política do dinheiro barato. "Expressei à chanceler a preocupação brasileira quanto à expansão monetária que está em marcha", disse ela. Os EUA representam a maior parte do problema, sem dúvida.  "Mas, a União Europeia (UE) também depreciou sua moeda". Com isto, Rousseff referia-se ao expressivo volume de dinheiro disponibilizado pelo BCE - Banco Central Europeu para os bancos comerciais da eurozona.

Em dois leilões, em dezembro e fevereiro, o BCE injetou mais de um trilhão de euros no mercado. Esse dinheiro tem que ser reposto daqui a três anos. Do mesmo modo, o banco central americano, o Fed, supriu o setor financeiro doméstico com dinheiro barato desde o começo da crise financeira, há quatro anos.

Países emergentes como o Brasil têm que enfrentar fortes ingressos de moeda, devido aos baixos juros dos países industrializados. Consequentemente, as moedas desses países tornam-se claramente valorizadas -- o que, por outro lado, encarece as exportações e barateia as importações. Em resposta a isso, alguns países emergentes elevaram os impostos para produtos importados, como no caso dos automóveis no Brasil. Na opinião de Rousseff trata-se de uma "desvalorização artificial de moedas".

Já anteriormente, Rousseff havia acusado os países ricos de fazer uma "guerra cambial" com sua políticas de créditos favorecidos e juros baixos. Em reação à crise global, o mundo se viu inundado por um tsunami de dinheiro barato.

Brasil estabelece condições para reforço ao FMI

Merkel disse que entende a preocupação do Brasil, de que algumas moedas se valorizaram e, em consequência, reduziram-se as possibilidades de exportação. "Deixei bem claro, que essa é uma medida temporária", disse ela com relação à decisão do BCE. Isso deve dar tempo aos países da zona do euro para resolverem seus problemas e melhorar sua competitividade.

Merkel alertou os países emergentes a não adotarem medidas prejudiciais ao comércio. "No passado há vários exemplos de que liquidez em excesso acabou gerando medidas protecionistas", alertou ela. Brasil e Alemanha não queriam isso, e iriam portanto abordariam o tema na próxima reunião do G-20 no México.

No encontro, em junho, estará também na ordem do dia a reforma do FMI. O Brasil e outros exigem mais poder de decisão. Em contrapartida, Rousseff já decidiu aumentar a quota do Brasil para ampliar os recursos anticrise do FMI.

Do ponto de vista alemão, essa demonstração de confiança é muito importante, pois esse aumento [de recursos] do FMI permitirá que se tenha como premissa que o Fundo poderá oferecer mais ajuda aos países da eurozona castigados pela crise. Os EUA mantêm-se até agora reticentes e exigem uma maior participação financeira dos próprios europeus, possivelmente através de um aumento dos recursos de longo prazo do guarda-chuva de resgate do euro, do Mecanismo de Estabilidade Europeu (EMS, em inglês), a partir dos 500 bilhões de euros já acordados.

Presidente Dilma Rousseff e chanceler Angela Merkel: nem sempre com a mesma opinião - (Foto: dapd).

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