[Mal chego do feriadão da Semana Santa e me deparo com o Globo de ontem com a manchete de primeira página: "Derrota do Verde -- Iphan preserva invasões do Jardim Botânico". Recepção pior, impossível. Reproduzo abaixo trechos da reportagem.]
Depois de três décadas de disputa sobre a permanência de 621 famílias
num dos maiores espaços de interesse cultural, histórico e ambiental do
Rio, já está nas mãos do Ministério do Meio Ambiente o projeto do Iphan
que mantém 316 moradias erguidas nas chamadas comunidades do Horto, em
lugar destinado à ampliação do arboreto e das instituições de pesquisa.
Outras 305 casas seriam removidas. A finalização da proposta coincide
com a notícia da saída do presidente do Jardim Botânico, Liszt Vieira,
conforme antecipou ontem o colunista do GLOBO Ancelmo Gois.
"O Iphan não pode abrir mão de área que ele tombou no passado (o
tombamento do Horto é de 1967). Ainda mais em se tratando de espaço
público e de preservação ambiental", reclama Alfredo Piragibe, dirigente
do movimento SOS Jardim Botânico.
A solução apresentada pelo Iphan preserva, por exemplo, as 61 casas que
estão na localidade conhecida como Caxinguelê, que é de interesse para a
expansão do Jardim Botânico. O Clube Caxinguelê, porém, tem de ser
retirado. “As instalações esportivas são impactantes e não se justifica a
permanência de um equipamento privado no interior da área pública”, diz
o documento do instituto.
(...) O Iphan quer ainda regularizar as 40 casas da Vila 64, alegando
tratar-se de um “conjunto arquitetônico e urbanisticamente consolidado,
isolado e com acesso direto para a Rua Major Rubens Vaz”. De novo,
contrariando o Jardim Botânico, que pretende instalar setores
administrativos nesses imóveis. Já as 24 edificações precárias da Vila
do Major, no meio da mata, devem ser derrubadas.
Ainda de acordo com o documento do Iphan, com a retirada do Clube
Caxinguelê, do Serpro e das casas do Morro das Margaridas e do Grotão II
(duas localidades do Horto), “fica garantida a manutenção de um
corredor verde ligando o Jardim Botânico com o Parque Nacional da
Tijuca”. A proposta, porém, difere da apresentada por Liszt ao
Ministério do Meio Ambiente e ao TCU no ano passado. O presidente do
Jardim Botânico só aceita a permanência de cerca de 150 casas, que estão
na localidade denominada Dona Castorina e entre a Rua Pacheco Leão e o
Rio dos Macacos.
A proposta do Iphan também desagradou à Associação de Moradores do Jardim Botânico. "O Iphan não pode entregar uma área pública, tombada, para a
regularização fundiária. Só por força de lei", reage a advogada da
associação, Regina Carquejo.
Entre ambientalistas, a saída de Liszt — confirmada ontem à noite pelo
próprio — preocupa. Ele está no cargo desde 2003. Uma das pessoas
cotadas para o cargo é a secretária do Ministério do Meio Ambiente,
Samyra Crespo.
(...) O Ministério do Meio Ambiente não confirmou a troca de Liszt Vieira por
Samyra Crespo e negou que a proposta fundiária para o Jardim Botânico
seja remover apenas metade das moradias do parque, acrescentando que o
texto ainda está sendo elaborado pelo governo. O prazo dado pelo TCU,
depois de dois adiamentos, para a delimitação da área tombada termina em
julho. O tribunal decidiu que em 450 dias (a contar de 11 de setembro
de 2012, quando foi publicado acórdão de sua decisão) todo o local
tombado esteja liberado.
[Essa batalha pela preservação da área total do Jardim Botânico, mediante a remoção de casas e moradores ali instalados regularmente, é uma dessas histórias repelentes que se arrasta há anos. Já fiz postagem sobre isso -- nela conto que o deputado federal Edson Santos (PT-RJ), ex-ministro da Integração
Social de Lula, é irmão de Emília Maria de Souza, que ocupa um dos
imóveis a serem (que deveriam ser) devolvidos e comanda(va) a associação de moradores local.
Essa senhora, que a cada 15 dias costumava até muito recentemente (pode
ser que ainda o faça, mas pode ter parado por esperteza para evitar
flagrante) comandava em sua casa, com o apoio da mãe (exímia cozinheira)
uma tremenda feijoada, regada a muita cerveja e roda de samba, tudo
pago como se bar fosse (estive lá uma vez) ou seja, explorando
comercialmente em benefício próprio um bem público, vem(vinha) comandando toda a
ruidosa reação contra a reintegração. Se a casa dessa dona Emília Maria de Souza não estiver no lote das casas que o Iphan quer manter no Jardim Botânico, sou capaz de ter um infarte provocado pela surpresa. Vamos juntar esforços para expulsar esses invasores de um local que não é patrimônio apenas do Rio, mas do próprio país. A preservação de casas no Jardim Botânico interessa politicamente tanto a Lindbergh Farias, candidato a candidato do PT ao governo do RJ, quanto a Pezão, atual vice-governador e candidato de Sérgio Cabral e do PMDB ao mesmo cargo. Trepada no muro, por enquanto, equilibrando-se como pode, está nossa terna e eternamente sorridente Dona Dilma.]
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