Os ministros de Finanças do euro ratificaram o acordo de princípios firmado entre a troika e o presidente cipriota, o conservador Nikos Anastasiadis, o que abre uma via rumo ao controvertido resgate de Chipre. Os principais dirigentes do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do BCE (Banco Central Europeu), assim como suas contrapartes da Comissão Europeia, do Conselho e do mecanismo de resgate europeu submeteram na noite de ontem, em última instância, sua proposta a Anastasiadis que, depois de quase meio dia de uma maratona de reuniões, aceitou o que até agora se recusava a aceitar: um acordo duro, que subentende um golpe mortal para alguns de seus grandes bancos, que durante anos se fartaram com um modelo de negócio que aceitava sem repulsa o dinheiro sujo da Rússia e da Ucrânia.
Ao longo de hoje (segunda-feira) o parlamento cipriota terá que dar ao acordo o sinal verde definitivo. Isso salvará Chipre de uma quebra certa e de uma possível saída do euro, após o ultimato do BCE. Entretanto, nada salvará o país de uma dura jornada, na qual se espera uma recessão profunda combinada com um corte expressivo em seu sistema financeiro.
E, finalmente, não haverá nenhum tipo de imposto ou taxação sobre os depósitos bancários, exceto uma taxa de até 40% para os depósitos acima de 100.000 euros em um dos grandes bancos do país, o Laiki ("Popular", em grego) e provavelmente também no Banco de Chipre. Com isso, Chipre deve conseguir cerca de 7 bilhões de euros e os contribuintes europeus poriam mais 10 bilhões de euros para fechar de uma vez por todas o resgate a Chipre. Uma coisa, sim, está segura: foi por água abaixo o acordo do eurogrupo de dez dias atrás. A Europa dá um giro de 180° e evita taxar os depositantes. E, em nenhuma hipótese, imporá perdas para quem estiver com seus depósitos em nível inferior ao montante mágico afiançado pelos fundos de garantia europeus, os 100.000 euros. Christine Lagarde (FMI) e Mario Draghi (BCE) se encarregaram de eliminar isso [a taxação genérica de depósitos] da agenda, para evitar mais problemas, e assumiram as rédeas das negociações, nas quais tiveram também papel ativo José Manuel Barroso (Comissão Europeia), Herman Van Rompuy (Conselho Europeu) e Klaus Regling (que preside o mecanismo de resgate). No entanto, o resgate de Chipre está muito longe de estar concluído.
Se salva o ultimato do BCE, que ameaçava cortar nesta madrugada a liquidez da banca cipriota, o que seguramente geraria uma bancarrota. Mas, serão necessários os controles de capitais, para evitar uma fuga maciça de depósitos. Isso pressupõe, mais cedo ou mais tarde, o desmantelamento do modelo de negócios de Chipre, que durante anos inflou e inflou sua banca oferecendo altas taxas de juros e via de maneira muito condescendente e frouxa a origem do dinheiro estrangeiro que recebia. A troika trata assim de desmontar um paraíso fiscal, em uma experiência que esteve a ponto de dar-lhe um desgosto após uma semana muito estressante, repleta de erros grosseiros nas decisões de seus líderes.
(...) O ministro de Economia e Finanças da França, Pierre Moscovici, que esteve sumido no eurogrupo que conseguiu um primeiro acordo, derrubado pelo parlamento cipriota, fez o melhor resumo da situação em uma entrevista televisionada: "Àqueles que dizem que estamos a ponto de estrangular um povo e àqueles que dizem que a proposta europeia é imoral, é preciso lembrar-lhes que Chipre converteu sua economia em um cassino que estava à beira da falência. É preciso fazer algo para acabar com essa aberração. Os depósitos na França estarão protegidos, haja o que houver, ainda que nada vá a acontecer porque não estamos em absoluto em uma situação como a de Chipre", acrescentou ele. Enfim, a França não é Chipre. Isso foi repetido por todos e cada ministro do euro em sua chegada ontem à reunião do eurogrupo.
Anastasiadis sai da reunião do eurogrupo em Bruxelas - (Foto: Geert Vanden Wijngaert/AP)
Nenhum comentário:
Postar um comentário