[O programa espacial brasileiro tem um histórico carregado de problemas, o mais traumático deles a explosão do foguete VLS-1 na plataforma de lançamento em 22 de agosto de 2003, com a morte de 21 técnicos civis. Temos tido dificuldades com nossos parceiros ucranianos, com os quais formamos a empresa binacional Alcântara Cyclone Space (ASC). Há rumores de forte resistência dos EUA à capacitação brasileira, resistência essa que não seria só retórica. Há muito disse-me disse-me, pois o nível de transparência envolvendo esse projeto é baixíssimo.]
Para evitar um apagão de mão de obra no desenvolvimento de suas
atividades espaciais, o
governo pretende acelerar a formação de profissionais altamente qualificados no setor, com investimentos de R$
9,1 bilhões no período 2012-2021. Caso todas as promessas de investimentos realmente saiam do papel,
estimativas extraoficiais apontam a necessidade de contratação de mais 3
mil profissionais nos próximos dois anos. O número engloba não só
cientistas e engenheiros aeroespaciais, mas também especialistas
envolvidos em outras áreas da cadeia produtiva, como físicos, químicos e
técnicos de laboratório.
Segundo o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), José Raimundo
Coelho, pelo menos quatro ações sendo preparadas para atacar o déficit
de engenheiros aeroespaciais: a abertura de cursos de graduação
especializados em universidades federais, o envio ao exterior de 300
estudantes de mestrado e doutorado, a importação de profissionais
estrangeiros e novos concursos públicos. Hoje existem apenas seis faculdades no país com graduação em engenharia
aeroespacial. "Isso não é suficiente. A demanda por especialistas vai
ser muito grande", diz Coelho. Ele afirma que está negociando a criação
de novos cursos com três universidades federais: a UFF (Federal
Fluminense), a UFCE (Ceará) e a UFRN (Rio Grande do Norte). "Quando a
agência foi instalada, há 19 anos, não havia nenhum apelo para esses
cursos. Hoje é bem diferente".
Nos níveis de mestrado e doutorado, o plano é enviar cerca de 300
estudantes ao exterior, dentro do programa Ciência Sem Fronteiras. Até
agora, a concessão de bolsas na área se resume a dez alunos de mestrado
da Universidade de Brasília, que foram completar sua formação em
engenharia aeroespacial na Ucrânia. "Estamos estudando a iniciativa de contratá-los. Parte pela própria AEB,
parte pela Alcântara Cyclone Space (empresa binacional constituída
entre o Brasil e a Ucrânia) e parte pela indústria nacional", diz
Coelho. A fim de ampliar o número de brasileiros estudando em centros de
referência mundial, uma proposta de mandar mais 300 mestrandos e
doutorandos, a partir de 2014, foi levada ao Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) no mês passado. Os
países-alvo são principalmente Rússia, Ucrânia, Estados Unidos, Japão,
França e Itália.
Uma odisseia no espaço - Os principais projetos da AEB até 2021 (clique na imagem para ampliá-la) - (Ilustração: Valor Econômico).
Até a importação de especialistas, aproveitando a disponibilidade de mão
de obra por causa da crise internacional, entrou no radar do governo.
"Queremos atrair gente de fora. Sabemos até de americanos que perderam
emprego na Nasa. A Espanha também tem um programa especial muito ativo e
possui mão de obra disponível", observa Coelho. Segundo ele, os
estrangeiros poderão ser alocados em universidades ou em órgãos oficiais
envolvidos com o programa espacial, como o Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe) e o Departamento de Ciência e Tecnologia
Aeroespacial (DCTA).
A estratégia de atacar o risco de déficit de profissionais se
complementa com a abertura de concursos. Na AEB, que funciona com
pessoal cedido de outras instituições, a meta é fazer o primeiro
concurso em quase duas décadas de história. Um projeto de lei foi
aprovado na Câmara dos Deputados, criando um quadro próprio da agência, e
ainda tramita no Senado. O primeiro concurso, tão logo seja autorizado,
abrirá vagas para 120 a 150 pessoas. "Daremos prioridade às áreas mais
técnicas", afirma Coelho, garantindo que pelo menos 80% dos cargos serão
para as atividades-fins. Para ele, não é mais possível trabalhar apenas com cargos comissionados,
que têm salários relativamente baixos e são muito instáveis. "É um
desastre. No princípio, a AEB se restringia a conversar com os órgãos
executores do programa espacial. Hoje, assumimos diretamente uma parte
do programa. Não concebemos mais uma agência sem um quadro de pessoal
próprio".
Para a Associação Aeroespacial Brasileira, uma entidade civil que
congrega representantes do setor, o governo precisa agir urgentemente
para resolver esses problemas. "Já temos um déficit de quadros", diz o
presidente da entidade, Paulo Moraes Júnior. De acordo com ele, um tema que aflige o setor é a aposentadoria de
"dezenas" de profissionais no Inpe e no DCTA, agravando a escassez de
mão de obra. "É um processo que tem ocorrido a conta-gotas. Se não
houver uma reposição gradual, o problema vai se tornar crítico até
2015", ressalta Moraes, ele mesmo um engenheiro do DCTA que vai se
aposentar no fim do ano que vem. A associação vê demanda por mais 3 mil profissionais, nos próximos dois
anos, mas destaca que não basta apenas formar gente. A preocupação é
assegurar também que o programa espacial não será descontinuado e que
não vão faltar oportunidades. "Isso geraria uma desmotivação muito
grande", pondera.
O Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), lançado em janeiro,
define prioridades para o período 2012-2021 e busca justamente dar mais
previsibilidade aos principais projetos do setor. Ele prevê
investimentos anuais perto de R$ 900 milhões, não só com base no
orçamento da própria AEB, mas incluindo parcerias internacionais ou com
empresas. É o caso do veículo lançador de satélites Cyclone-4,
desenvolvido com a Ucrânia, e o satélite geoestacionário de defesa e
comunicações estratégicas, que tem recursos da estatal Telebras.
A projeção de investimentos é uma gota no oceano de US$ 276 bilhões que a
indústria espacial de todo o mundo movimentou em 2010 (último dado
disponível). Países como Brasil, Argentina, México, Coreia do Sul,
África do Sul, Cazaquistão e Ucrânia têm investido uma média de US$ 100
milhões a US$ 200 milhões por ano. Novos atores, como Austrália, Taiwan,
Indonésia, Tailândia, Malásia, Bolívia, Chile e Venezuela têm investido
entre US$ 20 milhões e US$ 50 milhões.
José Raimundo Coelho: "A demanda por especialistas vai ser muito grande" - (Foto: Valor Econômico).
Amigo VASCO:
ResponderExcluirCom esse dinheiro quem vai fazer a festa é a FABRICA DE FOGOS CARAMURU!!!!
E ainda pensam em construir um satélite.
Só se for para lançamento por estilingue.
Abraços - LEVY