Os atos e ameaças de caráter racista, antissemita e antimuçulmano tiveram um "forte aumento" (+ 23%) na França em 2012, alarmou-se no dia 19 de março em seu relatório anual a Comissão Nacional Consultiva dos Direitos do Homem (CNCDH), que considera que a intolerância se instala de maneira "preocupante" na sociedade francesa. No total, 1.539 atos e ameaças foram registrados pela polícia civil e pela polícia militar (gendarmerie) no ano passado, de acordo com o relatório de 2012 sobre "Racismo, antissemitismo e a xenofobia na França".
No tocante ao antissemitismo, a CNCDH constata "a existência de picos em março, no rastro da questão Merah [Mohammed Merah, um islamita franco-argelino de 23 anos identificado como autor dos atentados a tiros em Toulouse e Montauban em março de 2012 contra soldados franceses e civis judeus] e em outubro-novembro, quando da intensificação das tensões entre Israel e os territórios palestinos". Mas, o problema Merah teve impacto também no racismo antimuçulmano, sublinha a Comissão, que aponta igualmente "um forte aumento" em setembro-outubro "quando da apresentação do filme 'A inocência do muçulmano' e da publicação de caricaturas do profeta Maomé (...)".
"A intolerância aumenta"
"Pelo terceiro ano consecutivo", constata a CNCDH, "os indicadores de racismo estão em alta, a intolerância aumenta. O fenômeno se firma em sua duração, e esta evolução é particularmente preocupante", escreve a Comissão, baseando-se em uma pesquisa realizada em 2012 com 1.029 pessoas pelo instituto CSA [Conselho Superior do Audiovisual]. A pesquisa enfatiza "um aumento sempre mais marcante da desconfiança em relação aos muçulmanos" e "uma rejeição crescente aos estrangeiros, vistos cada vez mais como parasitas e até mesmo como uma ameaça".
No todo, 55% das pessoas pesquisadas consideram que os muçulmanos formam "um grupo à parte na sociedade" (+ 4 pontos percentuais em relação a 2011) e 69% das pessoas declararam que "há imigrantes demais hoje na França" (+ 10 pontos percentuais em relação a 2011). "Assiste-se a uma perigosa banalização das propostas racistas", insiste a Comissão -- e, segundo ela, "a Internet contribui grandemente para essa banalização". A Comissão observa, entretanto, "que ela se alimenta também da instrumentalização no discurso político de certos temas (como imigração, religião-laicidade), assim como de certos desvios e das polêmicas que a eles se seguiram".
Enquanto "o racismo" vive uma "estabilidade relativa" (+ 2%), o "racismo" antimuçulmano (+ 30%) e, sobretudo, "o antissemitismo" (+ 58%) registraram os maiores aumentos.
A CNCDH é uma instituição nacional independente de promoção e proteção dos direitos do homem, que desempenha um papel de consultoria e proposições junto ao governo.
[Quem já esteve ou for a Paris, percebe fácil e nitidamente a tensão latente no metrô, por exemplo, com africanos e árabes, fenômeno que se acentua à medida que se caminha para os bairros mais periféricos. Ver africanos ou árabes pulando sobre as roletas do metrô, sob o olhar revoltado dos demais passageiros, não é um fato raro em Paris. A impressão que se tem é que há um barril de pólvora -- o problema é saber o tamanho exato do estopim. Ver postagem anterior sobre isso.]
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