[Um mistério médico ronda as relações entre os dois principais membros do Mercosul: por que o Brasil não teve ainda uma indigestão de tanto engolir sapos da Argentina?! - Ver postagem anterior sobre nosso relacionamento com a Argentina.]
A queda nas exportações para a Argentina e no superávit comercial com o
país
foi maior para o Brasil que para todas as outras nações que têm forte comércio com os argentinos. As importações argentinas de produtos
brasileiros diminuíram 18% em relação a 2012 e o saldo comercial, 65%,
segundo estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), com dados da
consultoria argentina Abeceb.com.
Entre os cinco maiores sócios comerciais da Argentina, todos os outros
tiveram melhoria em seu saldo - de 52% para a Alemanha, 29% para os EUA e
14% para a China. A Argentina, enquanto reduzia compras do Brasil,
aumentou em 160% as da Holanda, 9% as dos EUA, 7% as do Japão e 2% as da
Alemanha. Só as exportações provenientes do Canadá tiveram um tombo
proporcionalmente semelhante ao do Brasil.
O aumento das compras de energia elétrica e os altos e baixos dos
influentes mercados de automóveis e bens de capital explicam boa parte
do mau desempenho do Brasil. A magnitude das quedas, porém, levanta
desconfiança de excesso de proteção
[contra o Brasil]. O resultado é que
a Argentina leva governos e empresários vizinhos a cair na tentação de rever as bases do acordo que criou o Mercosul como
união aduaneira - onde, na teoria, bens e serviços circulariam sem
limitações. Na semana passada, o presidente do Uruguai, José Mujica,
repetiu um velho cantochão uruguaio e declarou aos jornais que os sócios
do Mercosul estariam melhor sem o voto de obediência ao bloco.
Empresários brasileiros se queixam de que é mais fácil um camelo passar
pelo buraco de uma agulha do que atravessar as alfândegas platinas com
certas mercadorias. Em 2004, menos de 4% das vendas brasileiras à
Argentina sofriam algum tipo de restrição. Em 2008, eram 13% e em 2011,
20%. Em 2012, chegou-se ao inferno dos 100%, com a imposição de um
verdadeiro purgatório burocrático. Nos preparativos para o encontro marcado entre presidentes, que foi
adiado após a morte do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, as
autoridades brasileiras pediram que a Argentina eliminasse, pelo menos
para sócios do Mercosul, a famigerada Declaração Juramentada Antecipada
de Informações (Djai), exigida de todos os produtos que cruzam a fronteira. Os
negociadores argentinos lavaram as mãos.
Criada no ano passado, como parte do esforço argentino para garantir
folga nas contas externas,
a Djai é o principal mecanismo heterodoxo de controle sobre importações. Atrasando ou simplesmente brecando a emissão
das Djai, o governo argentino administra sua balança comercial, que, em
2012, teve um saldo comercial de quase US$ 12,7 bilhões, graças,
principalmente, ao calvário imposto aos importadores no país. As
exportações argentinas, aliás, caíram 7% em 2012.
A rejeição do pedido brasileiro confirma a suspeita de que o controle
informal das importações incorporou-se definitivamente ao credo
argentino em matéria de comércio. O Observatório de Defesa Comercial da
CNI definiu o ano de 2012, como um "ponto de inflexão" nas heresias
comerciais do vizinho, pelo volume de medidas: além da Djai, a
Argentina, em 2012, criou uma "Djas", para os serviços; passou a atrasar
a emissão de licenças de importação (medida suavizada nos últimos
meses, após queixas dos principais parceiros comerciais); criou
"valores-critério", preços mínimos para produtos importados; e os planos
"uno por uno", em que, para liberar os papéis de importação, o governo
passou a exigir que se exportassem mercadorias no mesmo valor.
Consideradas blasfêmia grave no sistema multilateral, essas iniciativas
argentinas foram contestadas na Organização Mundial do Comércio (OMC),
onde União Europeia, Japão e Estados Unidos abriram painéis contra as
medidas do governo Cristina Kirchner. O México ameaçou, mas abandonou a
disputa em troca de cotas de exportação de carros na Argentina - que,
como o Brasil, havia decidido rever o comércio administrado com os
mexicanos.
Para o economista Dante Sica, da consultoria Abeceb.com, a balança
comercial será o principal impulso para a economia argentina, com a
benção da melhoria no cenário externo, de maiores preços de commodities e
melhores condições econômicas nos maiores mercados. No campo da relação
bilateral, o comércio Brasil-Argentina tem pouco espaço para melhorar,
mas é nos investimentos de um país no outro que estão as principais
oportunidades de preparar os sócios do Mercosul para um relacionamento
maduro com a região da Ásia e do Pacífico, que promete ser o polo mais
dinâmico da economia mundial nos próximos anos, avalia Sica.
Há consenso entre os dois governos de que é preciso seguir esse caminho e
incentivar a integração produtiva entre os sócios do Mercosul. Cabe aí,
porém, um velho chavão: o diabo está nos detalhes. O futuro dessas
difíceis conversas sobre integração dependerá da sinalização emitida
pelos países aos potenciais investidores - como, por exemplo, a forma
como o governo argentino administrar a recente decisão da Vale de
suspender seus investimentos no bilionário projeto Rio Colorado, de
extração de potássio no país. Por enquanto, o governo Kirchner proibiu
demissões, ameaçou confiscar a mina onde a Vale enterrou US$ 2,2 bilhões
e trata a questão como uma afronta nacional.
Amigo VASCO:
ResponderExcluirJá que o Brasil abriu as pernas, que aguente agora!!!!