A novela da compra de aviões Super Tucano pelos EUA teve mais um capítulo, que pode ser o derradeiro, com o cancelamento da compra pelo governo americano, como informa a reportagem (reproduzida abaixo) publicada ontem pela Folha de S. Paulo.
A Embraer informou nesta terça-feira que lamenta o cancelamento do
contrato de fornecimento de 20 aviões Super Tucano à Força Aérea dos
Estados Undidos e que cumpriu as exigências feitas pelo país. Os EUA cancelaram o negócio, de US$ 355 milhões, citando problemas com a documentação. [Desculpa esfarrapada e ridícula -- não dá p'ra acreditar que a decisão de compra de aviões militares por um país como os EUA tenha sido feita com base em documentação errada ou incompleta. Sintomaticamente, essa "falha" de documentação só foi anunciada depois que a concorrente americana da Embraer entrou na justiça contra o resultado da concorrência, que deu vitória à Embraer. É sempre bom lembrar que os EUA vetaram a venda desse mesmo avião à Venezuela e à Colômbia sob a alegação de que ele está equipado com tecnologia americana -- praticamente toda a aviônica do Super Tucano seria americana.]
"Junto com sua parceira nos Estados Unidos, Sierra Nevada Corporation
(SNC), a Embraer participou do referido processo de seleção
disponibilizando, sem exceção e no prazo próprio, toda a documentação
requerida", disse a empresa.
Segundo nota da companhia brasileira, a decisão a favor do Super Tucano,
divulgada pela Força Aérea Americana no dia 30 de dezembro, foi "uma
escolha pelo melhor produto, com desempenho em ação já comprovado e
capaz de atender com maior eficiência às demandas apresentadas pelo
cliente". "A Embraer permanece firme em seu propósito de oferecer a melhor solução
para a Força Aérea dos Estados Unidos e aguardará mais esclarecimentos
sobre o assunto para, junto com sua parceira SNC, decidir os próximos
passos", diz a nota.
O caso
A Força Aérea americana disse que vai investigar e refazer a licitação,
que também está sendo contestada na Justiça dos EUA pela norte-americana
Hawker Beechcraft após sua aeronave AT-6 ser excluída da competição --o que levou o negócio a ser suspenso no começo de janeiro. O contrato havia sido concedido pela Força Aérea dos EUA para a Embraer e a parceira Sierra Nevada Corp.
No ocasião, a Força Aérea havia dito que acreditava que a competição e a
avaliação para seleção do fornecedor tinham sido justas, abertas e
transparentes. Hoje, porém, mudou o tom.
"Apesar de buscarmos a perfeição, nós às vezes não atingimos nosso
objetivo, e quando fazemos isso temos que adotar medidas de correção",
disse nesta terça-feira o secretário da Força Aérea, Michael Donley, em
comunicado.
"Uma vez que a compra ainda está em litígio, eu somente posso dizer que o
principal executivo de aquisições da Força Aérea, David Van Buren, não
está satisfeito com a qualidade da documentação que definiu o vencedor". O comandante da área de materiais da Força Aérea dos Estados Unidos,
Donald Hoffman, ordenou uma investigação sobre a situação, afirmou o
porta-voz da Força Aérea.
O contrato, em negociação há um ano, gerou resistências, principalmente
entre congressistas do Kansas, Estado-sede da Hawker. Pedidos de
investigação internacional para apurar eventual subsídio do Brasil à
Embraer chegou a ser cogitado.
A avaliação é que um contrato dessa magnitude (em momento de crise
econômica) e um setor tão sensível não podem chegar às mãos de uma
empresa estrangeira.
Pacote de serviços
O negócio havia sido anunciado no final de 2011 e incluía, além do
fornecimento das aeronaves, um pacote de serviços, como treinamento de
mecânicos e pilotos responsáveis pela operação do avião.
Pelo contrato, a Embraer teria 60 meses para entregar esse primeiro
lote, prazo que começaria a contar já neste mês. O primeiro avião teria
de ser entregue em 2013.
A unidade de São José dos Campos, no Vale do Paraíba (SP), produziria
grande parte do avião. A montagem final seria feita nos EUA.
A companhia mantinha expectativas de vender mais 35 aviões, o que poderia elevar o contrato à cifra de US$ 950 milhões.
Defesa
O fornecimento das 20 unidades do A-29 Super Tucano era o primeiro contrato da Embraer com a Defesa americana.
Quando anunciou o contrato, a Embraer disse que o negócio seria "uma
grande vitrine". "Esse é o primeiro contrato com a Força Aérea dos EUA.
Esse é um item sensível no maior mercado de defesa do mundo. Muitos
países vão olhar isso", disse na ocasião Luiz Carlos Aguiar, presidente
da Embraer Defesa e Segurança.
Com esse pedido, a Embraer alcançaria 200 encomendas do modelo Super
Tucano (desenvolvido pela FAB em 1995 e exportado para vários países do
mundo). Apenas 40 precisam ainda ser entregues, mas esse número inclui o
pedido que havia sido feito pela Força Aérea americana.
O A-29 Super Tucano, projetado para missões de contra-insurgência,
atualmente é empregado por seis forças aéreas e possui encomendas de
outras, segundo a Embraer.
De acordo com a licitação, as aeronaves da Embraer seriam utilizadas
para treinamento avançado em voo, reconhecimento e operações de apoio
aéreo no Afeganistão.
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