domingo, 12 de fevereiro de 2012

Nova área da psicologia tenta entender comportamento científico

Quando questionada sobre por que é cientista, a geneticista Luiza Bossolani Martins, doutoranda da Unesp (Universidade Estadual Paulista), foi taxativa: "Desde pequena queria descobrir a cura de doenças. Não dá para explicar".

Agora, a psicologia quer entender aquilo que Martins não consegue explicar: o que leva algumas pessoas a terem comportamento científico?

A atitude questionadora de quem quer entender o que está ao seu redor, independentemente de a pessoa ser mesmo cientista, é alvo de uma disciplina recém-criada, a "psicologia da ciência".  Idealizada pelo psicólogo norte-americano Gregory Feist, da Universidade San Jose, na Califórnia, a área reúne pesquisas sobre os aspectos que envolvem o interesse pela ciência -- tudo isso sob o guarda-chuva da psicologia.

Esses trabalhos já têm até periódico próprio: o jornal do ISPST (sigla de Sociedade Internacional de Psicologia da Ciência da Tecnologia). "Entendendo os aspectos da personalidade, da cognição e do desenvolvimento do talento científico, teremos mais condições para incentivar jovens com essas qualidades para uma carreira em ciência", disse Feist à Folha.

De fato, conversas com cientistas deixam claro que o incentivo, especialmente na escola, contam muito na escolha pela carreira científica. "Sou cientista por uma razão muito simples: tive um professor de ciências na escola cujas aulas eram fascinantes", conta o fisioterapeuta Nivaldo Parizotto. Ele é professor da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e está nos EUA hoje para estudar a ação do laser no envelhecimento.

Outro relato comum entre os cientistas é uma vontade de "explicar o mundo". "Por que abriria mão de escrever um pouco mais sobre como as coisas funcionam?", questiona o físico Pierre Louis de Assis, que faz pós-doutorado na Universidade Joseph Fourrier, na França.

O que move os cientistas? - (Clique na imagem para ampliá-la) -- (Desenho: Editoria de Arte/Folha Press).

A psicologia da ciência pode ajudar a estimular talentos para ciência --o que é propício em um país como os EUA, que tem perdido cientistas. Mas, para Feist, não há evidências de que a nova disciplina possa ser usada para tornar qualquer pessoa mais interessada em ciência. Os estudos podem também esclarecer aspectos psicológicos dos pesquisadores. De acordo com Feist, cientistas tendem a sofrer mais transtornos psicológicos do que não cientistas -- mas menos que artistas ou músicos. 

O Brasil não tem nenhum grupo de pesquisa sobre o tema entre os mais de 27 mil grupos cadastrados no CNPq (Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento). Mas, de acordo com a socióloga da ciência Léa Velho, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), a psicologia da ciência já tinha espaço nos estudos sociais da ciência desde 1970. A ideia de Feist é "emancipar" a área e focar nas pesquisas de comportamento.

Um comentário:

  1. Amigo VASCO:
    Esse artigo não fala tudo sobre o que está acontecendo no mundo da Física, ou da Ciência em geral.
    Acabei de ler um excelente livro do LEE SMOLIN, um dos pioneiros da Teoria da Cordas/Supercordas,que mostra como as grandes universidades/institutos de pesquisa, em nível mundial, manipulam e orientam os trabalhos que querem ver estudados. A razão é, sempre, financeira. Não há espaço para que aqueles que se dedicam aos estudos na fronteira da Física tenham algum tipo de remuneração compatível com suas necessidades. O problema é complexo, pois as novas teorias, ainda não provadas, exigem tempo e recursos. SMOLIN fala na existência de um ramo para estudar o tema, que ele chama de SOCIOLOGIA da FÍSICA. Acho que isso pode star acontecendo aqui no nosso país, talvez em escala menor.
    Depois falamos mais sobre o assunto.

    Abraços - LEVY

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