quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Símbolo do declínio cubano, porto revive com investimento brasileiro

 [Diante da posição decepcionante da presidente Dilma quanto à questão dos direitos humanos em Cuba durante sua recente visita a Havana, e levando em conta a notícia abaixo, é lícito concluir que estamos usando com Cuba a mesmíssima política "pragmática" que hipocritamente criticamos nos americanos. Com uma obra de quase um bilhão de dólares para apenas uma empresa brasileira, o governo cubano pode fazer o que quiser com seus cidadãos, isso não é problema nosso ...]

Uma parceria entre Brasil e Cuba pretende transformar o Porto de Mariel, a 40 km de Havana, em um dos maiores da América Latina.

A presidente Dilma Rousseff visita nesta terça-feira o local, que deve se tornar o principal símbolo do recente processo de abertura econômica da ilha. Serão investidos, em quatro anos, US$ 957 milhões, dos quais US$ 682 milhões (71%) financiados pelo BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social). Trata-se da maior obra em Cuba desde que, em 1959, Fidel Castro liderou a Revolução que o levou ao poder e instaurou o socialismo no país.

Três décadas atrás, o Porto de Mariel foi o local de partida de cerca de 125 mil cubanos que deixaram a ilha caribenha rumo aos Estados Unidos em 1980 atrás de melhores condições de vida e acabou tornando-se um símbolo da derrocada da economia cubana. O êxodo precedeu o declínio do então maior parceiro econômico de Cuba, a União Soviética, e teve o dedo do presidente Fidel Castro, que, diante de uma onda de invasões da embaixada peruana por cubanos desejosos de emigrar, declarou que todos que quisessem abandonar a pátria poderiam fazê-lo.

A migração em massa dos "marielitos", como ficaram conhecidos, prejudicou as ambições de reeleição do então presidente americano Jimmy Carter quando se descobriu que parte do grupo era integrada por presos e doentes mentais cubanos.

A viagem de Dilma a Cuba ocorre uma semana após a liberação da última parcela do empréstimo à obra, executada pela empresa brasileira Odebrecht, iniciada em 2010 e prevista para terminar em 2014. Em visita ao porto em setembro, o presidente Raúl Castro, que sucedeu o irmão Fidel em 2008, afirmou: "Esta obra tem uma importância econômica extraordinária, não só para o desenvolvimento presente do país, mas também para o futuro".

O empreendimento inclui uma "zona especial de desenvolvimento" de 400 quilômetros quadrados, que abrigará indústrias voltadas à exportação e ao mercado cubano. Segundo diplomatas brasileiros, além de ajudar Cuba em sua missão de "atualizar" o socialismo e diversificar suas fontes de receitas, a ampliação do porto abrirá oportunidades de negócios para empresas brasileiras interessadas em se instalar ou expandir as operações na América Central. E caso os Estados Unidos suspendam seu embargo econômico à ilha, as empresas instaladas no porto terão acesso privilegiado ao maior mercado global, uma vez que Mariel está a apenas 160 km do Estado americano da Flórida.

Por ora, uma companhia brasileira – a fabricante de vidro Fanavid – já se prepara para abrir uma unidade no local, em associação com o governo cubano. Cerca de 80% da produção da fábrica deverá se destinar à exportação.
As obras em Mariel incluem ainda ações para facilitar o acesso de produtos ao porto, como a reforma de mais de 30 km de estradas e a construção de 18 km de rodovias, 63 km de estrutura para ferrovias e quase 13 km de vias ferroviárias.

Com a dragagem do porto, que permitirá seu uso por navios de grande calado, ele poderá movimentar 1 milhão de contêineres por ano. Comparado com portos brasileiros, Mariel só terá capacidade inferior ao de Santos, que em 2011 movimentou 2,7 milhões de contêineres. Também serão construídos 700 metros de cais para o terminal de contêineres, um centro de carga, pátios, redes de abastecimento de água e tratamento de resíduos, além de toda infraestrutura para o fornecimento de energia elétrica.

Atualmente 2,7 mil trabalhadores atuam nas obras; após a conclusão do porto, espera-se que ele gere 3 mil empregos diretos e 5 mil indiretos.

Com a reabertura de Mariel, o porto deve recuperar a notoriedade que experimentou há décadas, mesmo antes do êxodo dos "marielitos" rumo à Flórida, em 1980.

Em 1962, auge da Guerra Fria e no caso que ficou conhecido como a Crise dos Mísseis de Cuba, aviões americanos fotografaram sete barcos lança-mísseis Komar, de fabricação soviética, ancorados no porto. A descoberta gerou temores nos Estados Unidos de que os soviéticos estivessem se preparando para um ataque nuclear às terras americanas, suspeita reforçada após a divulgação de imagens que mostravam cerca de 40 silos para abrigar armas atômicas em Cuba.

 Dilma Rousseff e o presidente cubano Raúl Castro na recente visita oficial da presidente a Cuba, ambos irradiando felicidade -- já os dissidentes cubanos ... - (Foto: Google).

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