A decisão do Supremo Tribunal Federal que manteve o poder do Conselho Nacional de Justiça para iniciar investigações contra magistrados poderá restabelecer 15 punições ou processos relativos a juízes que estavam suspensos por liminares judiciais, informa reportagem de Flávio Ferreira, publicada na Folha deste sábado (a íntegra está disponível para assinantes do jornal e do UOL, empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha).
O efeito mais significativo do julgamento de quinta-feira do Supremo
deverá ser sentido no Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso. A corte foi alvo de decisão do CNJ que determinou a aposentadoria compulsória de oito desembargadores e dois juízes de primeira instância, acusados de desviar dinheiro para uma instituição ligada à maçonaria. Os magistrados estaduais, porém, recorreram ao Supremo e conseguiram liminares para serem reconduzidos aos seus cargos.
As decisões favoráveis aos juízes foram de autoria do ministro do STF Celso de Mello, que considerou que o CNJ passou por cima da corregedoria do TJ de Mato Grosso ao aplicar as punições. A AGU (Advocacia-Geral da União), responsável pela defesa do CNJ, apresentou recurso contra as liminares concedidas pelo ministro, que foi voto vencido no julgamento de quinta-feira do Supremo.
Agora, a AGU pode pedir ao ministro a aplicação da decisão sobre o poder de investigação do CNJ aos casos do Mato Grosso -- e a consequente anulação das liminares emfavor dos juízes estaduais. O requerimento da AGU poderá ser apresentado assim que for publicada a ata do julgamento do Supremo.
O mesmo procedimento poderá ser adotado pela AGU para outros casos de punições ou processos do CNJ suspensos por liminares do STF. No entanto, formalmente, o plenário da Corte Superior não concluiu ainda a análise de todos os pontos da ação sobre o papel do CNJ. O julgamento deverá ter continuidade na semana que vem, quando três artigos da resolução n° 135 contestados pela AMB (Associação de Magistrados Brasileiros) serão ainda apreciados pelos ministros da corte.
Em tese, os ministros do Supremo podem voltar atrás em seus votos sobre o poder de investigação do CNJ antes da conclusão do julgamento, mas isso é muito difícil de acontecer na prática.
Por 6 votos a 5, o STF reconheceu a autonomia do CNJ em abrir
investigações contra magistrados sem depender de corregedorias locais.
A decisão contraria liminar concedida pelo ministro Marco Aurélio Mello
no fim do ano passado, atendendo pedido feito pela AMB (Associação dos
Magistrados Brasileiros), que tentava fazer valer a tese de que o
conselho só poderia investigar magistrados após processo nas
corregedorias dos tribunais estaduais.
A AMB afirmou não considerar uma derrota a decisão. Para a entidade, ela
também não fortalece o CNJ. "Quem saiu fortalecido foi a magistratura
brasileira quando tivemos o resultado, em última instância, dado pelo
STF. É importante que se diga que a AMB quis uma manifestação do STF
sobre os assuntos polêmicos", diz em nota vice-presidente de Comunicação
da AMB, Raduan Miguel Filho, que acompanhou o julgamento.
A corregedora do CNJ, Eliana Calmon, afirmou ontem que retomará, de onde
pararam, as investigações contra magistrados que foram suspensas pela
liminar concedida.
Calmon disse, no entanto, que isso só poderá acontecer quando o STF terminar de analisar a ação.
Apesar de já estar resolvido o principal ponto da ação, que tratava dos
poderes de investigação do conselho, os ministros ainda precisam julgar
outros artigos que também foram questionados. O julgamento será retomado
na próxima quarta-feira.
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