Após assistir à onda de imigração de haitianos, o Brasil pode se tornar o principal destino de migrações relacionadas a problemas ambientais na América do Sul. As mudanças climáticas, a ciência dá como certo, vão agravar as catástrofes naturais. Secas ficarão mais severas, chuvas, mais fortes, e a água, escassa. Nessas circunstâncias, algumas regiões do continente devem sofrer. E, sem ter como permanecer em seus países, alertam especialistas, haverá um afluxo de pessoas buscando refúgio em outras nações. Elas chegarão em situação extremamente vulnerável, muitas vezes sem condições de arcar com despesas básicas, como alimentação e moradia.
Na hora de escolher um novo lugar para recomeçar a vida, o Brasil é visto como o melhor destino. A enorme fronteira é uma barreira fácil de ser transposta.O país não atravessa crise econômica e, além da capacidade de absorver a mão de obra, não impõe restrições severas aos estrangeiros, mesmo que ilegais. A política brasileira de imigração é branda, sobretudo quando comparada com a de outras nações, como os Estados Unidos e os países da Europa. [Ver postagem anterior sobre o aumento da presença de mão de obra estrangeira no país, e as medidas que o governo pensa implementar para estimular a vinda de imigrantes mais qualificados.]
Entre os países que mais deverão sofrer com as mudanças climáticas na América do Sul, destaque para o Peru. O aquecimento global começa a reduzir as geleiras dos Andes peruanos e isto deverá comprometer o abastecimento de água de vilarejos e cidades, de acordo com o coordenador dos cursos de pós-graduação de gestão ambiental da Escola Politécnica da UFRJ, Haroldo Mattos de Lemos.
Especialistas também citam Colômbia, Bolívia, Equador e Guiana, além de Peru e Haiti, como exemplos de países cujos problemas ambientais agravarão movimentos migratórios.
Uma das mais majestosas geleiras andinas terá este ano seu fluxo de água de degelo reduzido em 30%. Essa é a previsão de cientistas para a espetacular Cordilheira Branca, no Peru, cujos cumes de numerosas montanhas facilmente ultrapassam os 5 mil metros de altura. Mas, nem a grande altitude é capaz de frear o ritmo do aquecimento da temperatura, que faz nevar menos e aumenta o degelo. Segundo uma pesquisa liderada por Michel Baraer, da Universidade McGill, do Canadá -- que contou com a participação de especialistas americanos e peruanos, e foi publicada há duas semanas na revista "Journal of Glaciology" -- as geleiras que alimentam o Rio Santa, por exemplo, já são pequenas demais para manter o fluxo hídrico. [Glacier recession and water resources in Peru's Cordillera Blanca].
"As regiões da América Latina que têm uso intensivo de água de geleiras estão entre as mais vulneráveis", diz Baraer. "Mesmo que as emissões de gases-estufa parem no mundo inteiro, muitas geleiras continuariam retraídas por um tempo", acrescenta ele.
As geleiras da Patagônia, na Argentina e em parte do Chile, derretem mais rapidamente do que as de qualquer outra parte do planeta, de acordo com dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) de dezembro de 2010. Na Bolívia e no Equador, a retração do gelo do cume dos Andes acelerou nos últimos 20 anos.
O climatologista José Marengo, do CPTEC/Inpe, ressalta que é difícil estimar com precisão quando os eventos climáticos provocarão migrações emlarga escala. Mas, considera o derretimento de gelo nos Andes como um caso crítico.
[...] "Algumas estimativas indicam que em 2025 faltará gelo em várias partes dos Andes. E em certas regiões dos Andes tropicais o gelo desaparecerá totalmente", afirma Marengo. "Sem água, habitantes das áreas montanhosas deverão migrar".
A água do degelo sazonal é importante não só para o consumo e as hidrelétricas. Ela também ameaça a biodiversidade de alimentos. No peru, por exemplo, há centenas de variedades nativas de batatas, todas vulneráveis. "Parte dos Andes pode virar deserto sem as geleiras", diz Mattos de Lemos.
O Brasil não está livre dos problemas ambientais que causarão migrações. As secas já castigaram extensas áreas do Rio Grande do Sul. A Amazônia também pode sofrer com a instabilidade do regime de chuvas. A falta de chuvas agravará as condições de vida na Região Nordeste, prevêem estudos. "A Amazônia deverá ter menos chuvas. Tivemos duas secas recentemente como sinais das mudanças climáticas. A floresta se tornaria um cerrado", analisa Lemos. "No Sul, há um pequeno deserto se formando na região de Alegrete".
Especialista em migração agravada por questões climáticas, Fernando Malta ressalta que a movimentação de pessoas já acontece. [...] "Há poucos dados científicos sobre migrações", reclama Malta.
Além de enfrentar as catástrofes naturais, que forçaram o abandono do local de origem, e de não encontrar apoio dos governos de seus países, os migrantes ambientais acabam caindo em um vazio jurídico internacional. Os tratados assinados para proteger refugiados prevê apenas cinco causas de [erseguição, seja ela política, cultural ou religiosa, entre outras. Porém, não estão listadas as razões climáticas.
Omasuyos, na Bolívia, cujas montanhas têm perdido geleiras - (Foto: Google).
Amigo VASCO:
ResponderExcluirA notícia, com exposta por você, é preocpante.
Mas me parece haver muita coisa de POLÍTICA no meio da mesma.
A migração só está havendo entre populações de países que não se sustentam. Muitos dos migrantes teêm origem nas antigas possessões os países dominantes alguns anos, ou séculos, atrás.
Agora, me parece, que o CLIMA MUNDIAL é o que é o responsável por tal migração. Não há dúvidas de que o clima mudou, mas participamos de um SISTEMA FECHADO, sob o ponto de vista da Física.
A menos que a agua existente no nosso planeta esteja se perdendo no espaço, o volume dágua permenece o mesmo, nesse sistema fechado.
O HOMEM pode estar influenciando nessa igualdade de distribuição e, se for o caso, a correção é POLÍTICA. As matas ciliares, os desmatamentos, etc., não são coisa da NATUREZA e, infelizmente, não são combatidas por NENHUM país do mundo. Cada um acha que a culpa é do outro, atuando por proteger seus mercados em busca do lucro fácil.
Particularmente, não vejo solução global para o problema. A ONU é uma ficção em nosso mundo real.
Sergio LEVY
Caro Levy,
ResponderExcluirAcho que caminhamos muito rapidamente para uma situação cada vez mais crítica e, o que é pior, com boa parte ou a maioria das principais economias do mundo muito relutante em adotar medidas que reduzam o aquecimento global sequer a longo prazo. A fotografia de estações de esqui completamente sem neve, como a de Courchevel nos Alpes franceses, é simplesmente inacreditável e assustadora!
Quanto à ONU, uma organização em que apenas cinco países têm o poder de vetar decisões que podem, às vezes, afetar seus quase duzentos membros só tem uma definição: é uma excrescência.