O ex-vice-presidente do Banco do Brasil Allan Toledo, que até dezembro
ocupava uma das áreas mais importantes da instituição, está sendo investigado por ter recebido quase R$ 1 milhão numa conta bancária no ano passado, informa reportagem de Andreza Matais, publicada na Folha desta terça-feira.
Toledo foi exonerado do banco depois de ser identificado pelo governo como participante de um movimento cujo objetivo seria desestabilizar o presidente do banco, Aldemir Bendine, e ficar com seu cargo, como revelou a coluna "Painel" da Folha.
O BB abriu sindicância para apurar o caso por suspeita de lavagem de dinheiro, notificou a Polícia Federal e trocou informações sobre o caso com ela. Toledo era vice-presidente da área de Atacado, Negócios Internacionais e Private Banking do banco. A investigação só teve início após a demissão de Toledo pela instituição e teve como origem relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), do Ministério da Fazenda, sobre a movimentação bancária de Toledo no ano passado.
O executivo abriu uma conta no Banco do Brasil em janeiro de 2011 e recebeu cinco depósitos mensais no valor total de R$ 953 mil. O dinheiro foi transferido para a conta dele pela aposentada Liu Mara Fosca Zey, de 70 anos. Antes de fazer as transferências para a conta de Toledo, Zerey recebeu um depósito de R$ 1 milhão numa conta que até então havia movimentado apenas para receber o dinheiro da aposentadoria. Quem depositou o dinheiro na conta da aposentada foi o empresário Wanderley Mantovani, que atua em diversos segmentos e é sócio do dono do frigorífico Marfrig, Marcos Molina, numa usina de biodiesel, a Biocamp.
Mantovani afirma que comprou uma casa da aposentada, mas não existe registro oficial da transação em cartório. Toledo diz que atuou no negócio como procurador da aposentada, e por isso movimentou o dinheiro em sua conta bancária pessoal.
O Marfrig recebeu nos últimos anos vários empréstimos do BB. O irmão do ex-vice-presidente do BB, Alex Toledo, é gerente de comunicação e marketing do Marfrig. [Que feliz conjunção de interesses, hem?]
Com 30 anos de carreira no BB, Toledo é o primeiro vice-presidente exonerado na história recente do banco. A história do depósito na conta bancária dele
está cheia de furos e contradições. Ele afirma que o dinheiro é
proveniente da venda de uma casa da aposentada, mas não existe registro
dessa venda em cartório e uma certidão da Prefeitura de São Paulo mostra
que a casa continua em nome da aposentada, que continua vivendo no
imóvel um ano e meio depois da alegada transação.
Toledo afirmou que só conheceu o comprador do imóvel, Wanderley Mantovani, durante a transação, mas Mantovani afirmou que tem "relação de amizade" com o ex-dirigente do BB há pelo menos três anos.
Disputa política
A exoneração de Toledo ocorreu em meio a uma disputa política que envolve a cúpula do BB e a Previ, o poderoso fundo de pensão dos funcionários da instituição. O presidente do BB, Bendine, homem de confiança do ministro da Fazenda, Guido Mantega, acusa o presidente da Previ, Ricardo Flores, de conspirar para derrubá-lo. O grupo de Flores diz que o presidente do BB quer um aliado em sua cadeira para ter influência no destino dos recursos do fundo de pensão.
Um dos indícios detectados pela cúpula do banco de que havia um movimento para derrubar Bendine no ano passado foi o vazamento para a imprensa de informações sobre a compra do Banco Postal pelo BB, um negócio bilionário concluído em 2011. Uma reportagem da revista Época sugeriu que o negócio teria sido mal conduzido por Bendine, e seus amigos enxergaram o dedo de Toledo no material publicado.
Poucos executivos do Banco do Brasil tinham informações sobre a transação. Toledo, que se aproximou de Flores nos últimos meses, era o vice-presidente mais bem informado sobre o assunto e por isso as suspeitas recaíram sobre ele. Toledo nega ter participado no vazamento.
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