Em sua edição de hoje, o jornal O Estado de S. Paulo informa (texto a seguir) que, agora, Dilma tem pressa em concluir o processo de compra do novo caça da FAB.
A escolha do novo caça de múltiplo emprego da Força Aérea Brasileira (FAB), o programa F-X2, entrou na etapa final. O processo está muito atrasado. A primeira versão foi apresentada há 16 anos, em 1996. Depois disso, houve vários adiamentos, o último em 2011. A presidente Dilma Rousseff está disposta a anunciar a decisão no menor prazo possível, talvez ainda no primeiro semestre deste ano, como disse o ministro da Defesa, Celso Amorim.
Há boas razões para isso. A janela de oportunidade permanecerá aberta apenas por mais seis meses. Depois de setembro, será difícil para qualquer dos três finalistas iniciar a entrega dentro do novo prazo, entre 2015 e 2016. A contar do momento do anúncio do vencedor, até a assinatura do contrato principal e dos compromissos acessórios, a negociação vai exigir um ano de ajustes. Nesse período o governo não fará nenhum pagamento. Mais que isso, o negócio, estimado entre US$ 4 bilhões e US$ 6,5 bilhões, está no ponto mais favorável, segundo especialistas em financiamento de equipamentos militares ouvidos pelo Estado. A operação de crédito é um dos pontos sensíveis da escolha. Há vários meses circulam no mercado de Defesa informações de que os concorrentes francês (Dassault, com o caça Rafale) e sueco (Saab, com o Gripen) teriam alongado os prazos de carência e amortização.
A americana Boeing (com o Super Hornet F-18) enfrenta problemas: o Eximbank não pode financiar a venda de produtos militares, levando a operação para os bancos privados e juros altos.
A seleção do Rafale para a encomenda de 126 unidades para a aviação da Índia é um fator considerado na escolha brasileira - todavia, não é decisivo. A transação ainda depende dos acertos financeiros e de transferência de tecnologia. É o viés que interessa na F-X2, cujo fundamento é o acesso irrestrito ao conhecimento. Há também uma discreta preferência pelos modelos bimotores, o F-18 e o Rafale, principalmente entre os "caçadores". Os engenheiros destacam a possibilidade de desenvolver um projeto completo, oferecida apenas pela Saab.
Fora de forma. O plano da Aeronáutica para a frota de combate fixa a desativação dos 12 Mirage 2000C/B do 1.º Grupo de Defesa Aérea - comprados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em acordo direto com o governo da França, em 2005 -, a partir de 2014 ou pouco além. O limite pode ser estendido, mas o custo de manutenção dos supersônicos vai crescer. Os F-X2 não chegarão a tempo de substituir a frota de superioridade aérea.
Por algum tempo o trabalho terá de ser feito pelo F-5M, o resultado da revitalização pela Embraer Defesa no velho F-5E americano, hoje o principal caça da FAB. Entretanto, ressalta um brigadeiro do setor tecnológico da Força, esses jatos estão sob risco de entrar em fadiga de célula - o nome do esgotamento físico das máquinas. O empreendimento completo da Defesa estabelece como meta, até 2027, o contrato de 124 caças. Em configurações próprias, sobre a mesma plataforma, vão substituir toda a frota de ataque da FAB.
[Há quem ache que, em consequência da vitória na concorrência na Índia, a negociação para uma eventual compra do Rafale pelo Brasil se torne mais complicada do que aparentava ser. Entre os motivos alegados estaria o ressurgimento da resistência de certos setores franceses ao nível de transferência de tecnologia exigido pelo Brasil, aliado ao fato de que as negociações da Dassault, fabricante do Rafale, com a Índia estão apenas se iniciando e serão complexas.]
O caça francês Rafale, da Dassault - (Foto: Google).
O caça sueco Gripen, da SAAB - (Foto: Google).
Amigo VASCO:
ResponderExcluirAí está um assunto que sempre me interessou; a tranferência de TECNOLOGIA, além da aviação como um todo.
Nosso país insiste em modêlos de transferência de tecnologia sempre que o bem a ser adquirido incorpore alguns aspectos que estão além das nossas possibilidades.
Por força de nosso trabalho na EMBRATEL, existe algo que é quase impossível de transferir.
Todos falam em transferência de KNOW HOW quando o mais importante é conhecer o KNOW WHY. Vivi isso nos desenvolvimentos de produtos quando chefiava o Laboratório da EMBRATEL.
Algumas soluções para os circuitos que os nossos engenheiros projetavam não apareciam explicitamente nos livros ou revistas especializadas, mAS se mostraram efetivas e eficazes no desenvolvimento dos circuitos eletrônicos.
Quando esses produtos eram industrializados, eramos sempre questionados sobre o POR QUÊ de tal solução. Nos tinhamos o KNOW WHY.
Acho que precisamos aprender isso, senão podemos voltar ao 14-BIS.
Abraços - LEVY
Caro Levy,
ResponderExcluirTransferência de tecnologia é o busílis da questão, o bode dentro da sala. A globalização, paradoxalmente, não veio ajudar muito. Em postagem anterior listei as empresas que cooperam com a Embraer no desenvolvimento de seu avião de transporte militar, que pretende substituir o legendário Hércules C-130 da Lockheed. A lista impressiona pela diversidade de empresas, países e produtos. E, portanto, pela diversidade de tecnologias, com diferentes níveis de complexidade.
Transferência de qualquer coisa exige capacidade de absorção, e é aí que o Brasil se ferra. Nossa capacidade de formação de mão de obra é precaríssima e isto, infelizmente, continuará por muito tempo sendo um gargalo no nosso progresso.