- OAB fará vigilância em trotes de calouros universitários em MS -- Jornal Agora MS - 31/1/2014
- Trote pornográfico no campus da UFMG assusta calouros de turismo -- O Estado de Minas, 22/3/2012
- Trote universitário - Festa para calouros, trotes têm histórico de violência; reveja casos. - UOL Educação
- Trotes universitários - "Brincadeira" que pode se tornar um crime!
- Trotes universitários: brincadeira ou humilhação?
- Em 2010, estudantes da Unicastelo, em Fernandópolis, foram obrigados a fumar, tirar as roupas íntimas, pedir dinheiro em semáforos e até beber álcool combustível . No mesmo período, na Escola Superior de Propaganda e Marketing, também em São Paulo, um estudante foi agredido, e teve ossos do nariz e do rosto quebrados .
- Em 10 de fevereiro de 2009, o calouro Bruno César Ferreira, de 21 anos ia começar o curso de veterinária da Faculdade Anhanguera, em Leme, interior de São Paulo, mas desistiu após o trote. Além de ser obrigado a ingerir bebidas, e ter entrado em coma alcoólico, o calouro também teve de rolar em uma lona com animais mortos e fezes em decomposição. "Eles esfregaram na gente. Fizeram a gente rolar numa lona com aquilo e ingerir pinga", conta ele.
- Em 2009, o aluno Vitor Vicente de Macedo Silva, 22 anos, do Departamento de Física da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro morreu afogado numa piscina de saltos ornamentais (9 m de profundidade). Segundo se suspeita, ele teria sido forçado a entrar na piscina mesmo sem saber nadar, isso porque Vítor tinha sido admitido no alojamento há pouco tempo.
- Morte de calouro da USP - Em 1999, o calouro da USP Edison Tsung Chi Hsueh, 22 anos, morreu afogado em uma piscina da universidade durante um trote. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) arquivou o caso em 2006, por entender que não havia elementos para justificar a acusação de homicídio. Ninguém foi punido. -- Coluna de Ricardo Setti, na Veja de 06/8/2013: "O prodígio mais recente da Suprema Corte brasileira aconteceu agora, no início deste último mês de junho, quando se deu como “extinto” qualquer tipo de processo penal pelo assassinato do estudante Edison Tsung Chi Hsueh, morto por afogamento durante um trote na Faculdade de Medicina da USP, a mais celebrada do Brasil. O crime foi cometido, acredite-se ou não, em 1999, e estava sem punição até agora, catorze anos depois; daqui para diante, ficará impune para sempre".
- Em 1990, George Mattos, de 23 anos, estudante do curso de Direito da Universidade de Rio Verde (GO), morreu de parada cardíaca quando fugia do trote estudantil.
- Em 1980, o estudante de jornalismo Carlos Alberto de Souza, de 20 anos, da Universidade de Mogi das Cruzes morreu de traumatismo craniano em consequência do trote.
Algumas fotos de trotes universitários
Ao ler as notícias listadas acima e ver as fotos que as seguem o leitor e o espectador desavisados poderão achar que se trata de um concurso de boçalidades, brutalidades e aberrações praticadas por uma sociedade primitiva, não atingida ainda por qualquer senso de humanismo e respeito ao próximo. O grande e gravíssimo problema é que isso é feito há décadas, com toques de sadismo, humor quadrúpede e ranços de discriminação pela comunidade acadêmica do país, aí incluindo estudantes das melhores universidades do país. Esses estudantes são, em tese, a esperança do país. E ninguém se mexe para acabar com essa insanidade e essa estupidez -- estamos todos incluídos nessa esparrela.
A futura elite da nossa sociedade inicia sua formação universitária sendo humilhada, para logo em seguida tornar-se também humilhadora -- com requintes de crueldade e barbárie, não raro com resultados fatais (ver por exemplo o caso de Edison Tsung Chi Hsueh e de outros citados acima). Absolutamente nada justifica essa prática medieval do trote, muito menos a de um pretenso humor -- qual é a graça idiota de se submeter alguém ao ridículo?! Os displicentes -- cúmplices irresponsáveis dessa estupidez -- que alegam que isso tudo é brincadeira de jovens são uns embotados que não percebem que nesses trotes cultiva-se o germe da violência e do desrespeito à dignidade humana, que deságua na sociedade violenta, permissiva e amoral que domina o país em todos os seus escalões.
O trote estudantil não é uma exclusividade brasileira, muito menos foi inventado no Brasil. Seu histórico pode ser traçado a partir do começo das primeiras universidades, na Europa da Idade Média. Nestas instituições, surgiu o hábito de separar veteranos e calouros, aos quais não era permitido assistirem as aulas no interior das respectivas salas, mas apenas em seus vestíbulos (de onde veio o termo "vestibulando" para designar esses novatos). Por razões profiláticas, os calouros tinham as cabeças raspadas e suas roupas muitas vezes eram queimadas.
Todavia, já no século XIV, as preocupações com a higiene haviam se transformado em rituais aviltantes, com nítida conotação sadomasoquista. Isto é observado nas universidades de Bolonha, Paris e, principalmente, Heidelberg, onde os calouros, reclassificados como "feras" pelos veteranos, tinham pelos e cabelos arrancados, e eram obrigados a beber urina e a comer excrementos antes de serem declarados "domesticados".
Em Portugal, os trotes violentos (como o notório "Canelão") podem ser rastreados a partir do século XVIII na Universidade de Coimbra. Não por coincidência, estudantes da elite brasileira que por lá realizaram parte de seu processo educativo, trouxeram a "novidade" para o território nacional. Em decorrência disso, surgiram desavenças entre veteranos e calouros que culminaram com a morte, em 1831, de um estudante da faculdade de Direito de Olinda, Pernambuco– seria a primeira, mas lamentavelmente não a última vítima de um trote violento no Brasil.
Em Portugal o trote é chamado de "praxe" e também é questionado por parcelas crescentes de sua sociedade. Em dezembro passado, na praia do Meco, seis jovens universitários da Universidade Lusófona morreram afogados com fortes indícios de estarem cumprindo um ritual de "praxe". Vizinhos disseram que, durante a tarde do dia da tragédia, viram os jovens a arrastar-se pelo chão com pedras amarradas aos pés.
Não é possível e admissível que com um histórico desses a sociedade permaneça apática e passiva à estupidez do trote em geral, e do universitário em particular. No meu caso pessoal, que completei 50 anos de formado no ano passado, nunca vi a minha geração esboçar qualquer reação ou sequer comentar esse assunto. Depois, ficamos todos -- engenheiros e não engenheiros, mas de nível superior -- nos perguntando ridiculamente por que a sociedade brasileira é tão violenta.
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