São fatos incontestáveis que:
- desde junho do ano passado têm ocorrido manifestações públicas violentas no Rio e em outras cidades do país, pelos motivos os mais variados;
- tais manifestações têm se caracterizado, sistematicamente, por atos de vandalismo e de violência, que colocam em risco bens materiais públicos e a integridade física de quem se vir envolvido direta e indiretamente em tais atos de protesto, até por ato de simples e ocasional presença;
- tais atos de violência explícita têm sido exaustivamente cobertos pela mídia escrita, falada e televisiva do país e do exterior.
Eis que, no dia 06 de fevereiro de 2014 ocorre mais uma dessas manifestações na cidade do Rio de Janeiro, frente à Central do Brasil, à guisa de protesto contra o aumento das passagens de ônibus decretado pelo prefeito da cidade. Como de costume, o evento tornou-se logo de conhecimento da mídia e da polícia e transcorreu com o mesmíssimo padrão de violência e arruaça de inúmeras outras manifestações semelhantes anteriores.
Entre os inúmeros repórteres que cobriam o protesto, um cinegrafista da TV Bandeirantes, Santiago Andrade, é trágica e fatalmente atingido por um rojão disparado aleatoriamente -- é bom e essencial frisar -- por um dos vários black blocs boçais que participavam da manifestação, e falece no dia seguinte. A mídia imediatamente armou um tremendo auê e um gigantesco ruído sobre o ocorrido, e tem feito das tripas coração para transformar uma fatalidade em um atentado direcionado à liberdade de imprensa e à vida de jornalistas (ver postagem anterior: "A mídia está nítida e sintomaticamente forçando a barra na tipificação da tragédia que matou o cinegrafista da TV Bandeirantes").
Numa impressionante e revoltante demonstração coletiva de corporativismo patronal e de desprezo pela vida de seus repórteres, contradizendo a "democracia" que diz defender, a mídia como um todo se fechou em silêncio sepulcral e omissão, de maneira ostensiva e consciente, sobre a responsabilidade trabalhista e criminal da TV Bandeirantes pela morte de seu cinegrafista. Que mídia democrática fajuta e criminosa é essa que silencia sobre uma emissora de TV que manda para uma praça de guerrilha, sabidamente violenta e perigosa, um cinegrafista seu completamente desprovido de qualquer item de proteção à sua integridade física (colete à prova de balas, capacete, etc)?! Por que é que em nenhuma -- absolutamente nenhuma -- das "iradas" e inflamadas manifestações de protesto pela "imolação" de Santiago Andrade no altar da liberdade de imprensa surgiu no seio da mídia qualquer voz ou sussurro, por mínimo que fosse, de repúdio ao procedimento criminoso e irresponsável da TV Bandeirantes com seu cinegrafista?!
Com esse tipo de mídia irresponsável e delituosamente corporativa, autodiscriminatória e falsamente democrática estamos todos pessimamente mal servidos.
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