terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Produção italiana de azeite de oliva ameaçada -- bactéria nativa das Américas dizima oliveiras na Itália

[A reportagem abaixo, tradução de Rachel Warszawski, foi publicada no jornal Valor Econômico de 13/12. É tristemente preocupante.]

Um microorganismo que ataca plantas encontrado na Europa está matando oliveiras centenárias na região de Apulia, no sul da Itália. Os pesquisadores ainda desconhecem o grau de propagação do agente patogênico.




Agente patogênico detectado em novembro é ligado à "morte" de uma área de 8 mil hectares de oliveiras próxima a Lecce - ((Foto: Getty Images/Fonte: Valor Econômico).



Cientistas encontraram a bactéria nativa das Américas Xylella fastidiosa nas plantas em toda a Província do Lecce, no sul da região de Apulia, e atualmente ampliam a busca para toda a região, disse Anna Maria D'Onghia, diretora de gestão integrada de pestes do Instituto Agronômico Mediterrâneo de Bari.

O agente patogênico, detectado no mês passado, é ligado ao definhamento, até a morte, de uma área de 8 mil hectares de oliveiras próxima à cidade de Lecce, segundo a Agência Europeia de Segurança Alimentar (EFSA, na sigla em inglês). A Apulia é a principal região de cultivo de oliva da Itália, responsável no ano passado por uma produção de cerca de 11 milhões de toneladas, ou 36% da safra nacional.
"É uma área de produção de azeitona muito importante; é claro que isso tem um grande impacto sobre os produtores", afirmou Anna Maria. "O problema é evidente porque as maiores árvores estão definhando. Estamos falando de oliveiras muito antigas". A bactéria está exterminando oliveiras de 500 anos.
O instituto de Bari está testando plantas desprovidas de sinais de contaminação para delimitar uma zona de isolamento protetora. O microrganismo pode ter sido introduzido por meio da importação de plantas ornamentais, segundo Anna Maria. "A Xylella vai para todo lugar; a gama de hospedeiros é muito ampla. Estamos pesquisando até onde o agente patogênico se propagou, ou ainda se propaga, a partir desta área. Normalmente, quando a gente vê as árvores atingidas pela doença, é tarde demais".
O Ministério da Agricultura da Itália disse que está formando uma força-tarefa para delimitar as fronteiras das áreas contaminadas e desenvolver um plano para prevenir nova disseminação. A classe da bactéria que afeta as oliveiras de Lecce é Xylella fastidiosa multiplex, que, ao que se sabe, não atinge videiras nem árvores de frutas cítricas, disse Anna Maria. A subespécie multiplex contamina amêndoas e árvores produtoras de drupas (frutos carnosos com núcleo duro), como pêssego e damasco.  "Essa não deve ser a classe que afeta uvas e frutas cítricas", afirmou Anna Maria. "Digo 'deve'. A pesquisa está em curso", disse.
A variedade Xylella fastidiosa pode causar a doença de Pierce, que mata as parreiras atingidas, segundo a Universidade da Califórnia. O mal custou aos produtores de uvas do Estado americano US$ 105 milhões ao ano, dos quais US$ 47 milhões em perda de produção e custos de replantio, detectou um estudo realizado em 2012 pela universidade.  A bactéria infecta o xilema, o tecido lenhoso das plantas responsável pelo transporte da água. Todos os insetos europeus que se alimentam da seiva de partes lenhosas devem ser considerados potenciais transmissores, segundo o órgão de segurança alimentar europeu. Anna Maria disse que a bactéria pode ser propagada por várias espécies de insetos conhecidos como cicadelídeos, como a cigarra.
O único procedimento recomendado é extirpar a árvore doente, arrancando-a pela raiz, escreveu Raffaele Baldassarre, membro italiano do Parlamento Europeu, em perguntas encaminhadas à Comissão Europeia, em que procurava saber do braço executivo da União Europeia (UE) qual o montante de ajuda financeira que poderia ser concedido aos produtores afetados. O número de plantas hospedeiras na Europa não é conhecido porque muitas espécies terão contato com a bactéria pela primeira vez, escreveu a agência europeia.
O microrganismo é "uma ameaça muito grave" à Europa, escreveu a Organização Europeia e Mediterrânica para a Proteção das Plantas (EPPO, em inglês) em alerta on-line. A bactéria bloqueia o transporte de água e de nutrientes minerais das plantas, embora "numerosas" plantas silvestres como gramíneas podem portar Xylella fastidiosa sem apresentar sintomas, informou o grupo, sediado em Paris.
As oliveiras que morreram na Apulia também apresentavam diversos tipos de fungos.  "Não há registro de uma erradicação bem-sucedida da Xylella fastidiosa após ela se instalar no campo, devido ao grande espectro de hospedeiros do agente patogênico", escreveu a EFSA. O órgão disse que os controles devem se concentrar em plantas vivas e em insetos vivos transportados com as plantas. A doença "pode ser um grande problema", com "um enorme alcance", disse Francesco Serafini, diretor do departamento ambiental do Conselho Internacional do Azeite de Oliva, sediado em Madri. 




































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