terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Fracassa o lançamento do satélite sino-brasileiro

[O programa espacial brasileiro não tem sido, infelizmente, motivo de comemorações para o país. Desde a trágica explosão do foguete na plataforma de lançamento em Alcântara em agosto de 2003, em que morreram 21 pessoas, esse programa praticamente só enfrentou problemas e fracassos. A mais recente dessas falhas foi o insucesso do lançamento do satélite sino-brasileiro, descrito abaixo em reportagem de Giuliana Miranda na Folha de S. Paulo de ontem -- registre-se que esse lançamento já foi tentado com um ano de atraso.]

O sistema que colocaria o satélite sino-brasileiro CBERS-3 na velocidade correta parou de funcionar 11 segundos antes do tempo correto, já no último estágio do lançamento, provocando a queda do artefato.

Fracassa lançamento de satélite brasileiro em parceria com a China
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"É como um estilingue. Você puxa e coloca a pedrinha. Se não puxar bem o elástico, a pedrinha cai bem na sua frente. Se esticar direitinho, ela vai longe", comparou, em tom decepcionado, o vice-diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Oswaldo Duarte Miranda. Segundo ele, a propulsão, prevista para ser interrompida depois de 16 minutos, funcionou bem por 15 minutos e 49 segundos. "Infelizmente, esses 11 segundos foram fatais", resumiu.

O satélite, o quarto feito em parceria com a China, não conseguiu atingir nem a velocidade nem a órbita corretas.


Parceria Espacial, Versão 3.0 (clique na imagem para ampliá-la) -- (Ilustração: Editoria de Arte/Folhapress).


Ele deveria ter sido liberado a 776 km de altitude, mas acabou parando antes, a cerca de 720 km. "Se o problema fosse só a altitude, isso poderia ser corrigido. Os satélites têm combustível já prevendo esses ajustes. O problema foi a velocidade horizontal, que deveria ser de 7 km a 8 km por segundo. Tudo indica que ele o CBERS-3 estava bem abaixo disso", dise Miranda.

As causas da falha, no entanto, ainda estão sendo apuradas.

Em conversa com jornalistas na sede do instituto, responsável pela construção da parte brasileira do satélite, o vice-diretor e outros representantes do Inpe se mostraram decepcionados com o desfecho da missão, que chegou até a ser comemorada como sucesso nos primeiros minutos.

"É como perder um amigo", disse José Carlos Neves Epiphanio.

Eles afirmaram que não consideram que a missão foi um fracasso.  "Não houve fracasso. Depois do lançamento, o satélite foi liberado, fez os procedimentos que se esperava dele. Liberou o painel solar, abriu de forma completa, testou o computador de bordo. Os testes indicaram que energia, telemetria e telecomunicações, tudo estava funcionando", disse Oswaldo Duarte Miranda.

Foguete chinês

A falha no lançamento do CBERS-3 foi a primeira do foguete chinês Longa Marcha 4D. Ainda assim, após o problema, algumas pessoas criticaram a qualidade do veículo de lançamento chinês. O Inpe nega problemas na qualidade e diz que o sistema é confiável.

"Os chineses tiveram de vencer muitos preconceitos, mesmo entre os cientistas, mas o Longa Marcha é muito confiável. A respeitabilidade dos lançadores chineses aumentou muito quando eles colocaram um astronauta em órbita. É algo que não tem tanto valor tecnológico, mas chama a atenção do mundo".

Segundo o vice-diretor do Inpe, o instituto trabalha para tentar adiantar agora o lançamento do CBERS-4, que está previsto para 2015.  "Queremos minimizar o tempo de lançamento, mas sem comprometer a qualidade. Mas tudo vai depender também dos chineses", disse Miranda.

O próximo satélite será um gêmeo do CBERS-3, por isso, o Inpe já tem todos os equipamentos prontos, uma vez que eles foram produzidos simultaneamente.

O problema é a integração com os componentes chineses. Pelo acordo, o próximo satélite deverá ser montado no Brasil. Segundo uma estimativa do Inpe, para adiantar o cronograma de lançamento seriam necessários cerca de 50 engenheiros do país asiático trabalhando no Inpe para integrar os satélites.



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