O Brasil participará da conferência de paz sobre a Síria, no dia 22 de janeiro na Suíça. A confirmação foi dada pela ONU, após uma reunião nesta sexta-feira, 20, em Genebra entre os governos dos EUA e da Rússia com o mediador da Nações Unidas para o conflito na Síria, Lakhdar Brahimi.
No último sabado, 14, o Estado revelou com exclusividade que o Brasil havia sido sondado para participar da negociação. Moscou insistia na participação completa dos Brics, como forma de garantir uma "legitimidade internacional" ao processo de paz que poderá ser iniciado, mas também como maneira de contrabalançar a presença de um amplo número de países que consideram que a conferência de paz deve ser um instrumento para retirar o governo de Bashar Assad do poder.
A lista final de participantes foi fechada hoje. Ela inclui todos os membros do Conselho de Segurança da ONU e também outros 26 governos. A maioria é da região do Golfo ou de influência no mundo muçulmano, como Argélia, Turquia, Egito, Jordânia, Líbano, Catar, Emirados Árabes e Arábia Saudita. Entre os europeus, a lista inclui Alemanha, Itália, Espanha, Suíça, Dinamarca e Noruega.
A única dúvida é em relação a participação do Irã, defendida por russos e pela ONU, mas rejeitada pelos EUA e pelos europeus. "Não temos um acordo sobre isso ainda", declarou Brahimi. "Não é um segredo que nós na ONU defendemos a participação do Irã. Mas nossos parceiros nos EUA não estão convencidos de que seja coisa correta a ser feita".
A oposição síria ainda não definiu uma delegação para o processo que começa no dia 22 e não tem data para acabar. Para diplomatas, essa negociação é a última esperança de um acordo que interromperia a guerra civil que já matou mais de 120 mil pessoas na Síria.
[Pelo visto, a presença do Brasil nessa conferência é fruto de pressão da Rússia, segundo o jornal Estadão de 14/12: "A ideia de incluir os brasileiros vai além da presença de uma grande comunidade síria local ou da crescente influência do Brasil no Oriente Médio. A principal motivação dos russos seria equilibrar a relação de forças na conferência de paz e evitar que Moscou fique isolado diante de americanos, europeus e países do Golfo, que exigem a imediata renúncia de Bashar Assad. Com seu discurso de defesa do diálogo e oposição à ingerência externa, o Brasil poderia servir para reforçar uma resistência contra aqueles que querem o fim do regime sírio como precondição para que a negociação avance".
Essa inclusão do Brasil, assim como outras iniciativas que têm praticamente direcionado os entendimentos sobre o conflito sírio, relegando os EUA a segundo plano, seria mais uma demonstração do crescente protagonismo internacional da Rússia sob o comando de Vladimir Putin. Também o caso do asilo "temporário" a Edward Snowden, contra toda a enorme pressão americana, foi mais um golpe de mestre do judoca faixa preta Putin contra Obama. Até na lista da revista americana Forbes dos homens mais poderosos do mundo em 2013 Putin garantiu o primeiro lugar, deslocando Obama para o segundo posto.
A guerra civil na Síria, que vai completar seu terceiro ano de carnificina, é mais uma aberração do cenário político internacional e uma criminosa omissão das principais potências mundiais e da ONU com relação a um conflito extremamente violento e sangrento, que vem dizimando a vida de milhares de civis inocentes, incluindo crianças. Essa reunião sobre um projeto de paz para a Síria, a realizar-se em 22/01/2014 na cidade suiça de Montreux desde já não se configura animadora. Juntar quase 30 países em uma reunião de apenas um dia, para discutir um conflito de 3 anos que depende essencialmente dos 5 países do Conselho de Segurança da ONU -- com nível de entendimento praticamente nenhum sobre ele -- soa mais como um teatro lamentável. A relação nominal completa dos países convidados para tal reunião -- que inclui o Brasil -- é apresentada em vídeo da entrevista coletiva de Lakhdar Brahimi sobre esse evento em Montreux, no site BBC News World.]
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