Na sexta-geira passada, dia 14, o jornal O Globo usou toda a primeira página de seu caderno de Economia para informar e afirmar que as "empresas de Eike acumulam débitos de R$ 18,8 bi, valor que supera o patrimônio". Ou seja, com chamada na primeira página do jornal e enorme estardalhaço e destaque na sua seção de Economia, o maior jornal carioca e um dos maiores do país informou e afirmou categoricamente a Deus e o mundo que o grupo de empresas de Eike Batista era simplesmente insolvente. Nada mais, nem menos que isso.
Hoje, 17 de junho, três dias depois, o mesmo O Globo usa menos da metade da segunda página do mesmo caderno de Economia para informar que errou completamente, e errou feio, primária e ridiculamente com a notícia dada sobre as empresas de Eike. Da manchete ao texto, a notícia do dia 14 era uma enorme mentira. Arrogante e indiferente até no reconhecimento do erro, o jornal acusa a falha mas o faz como se tivesse cometido um lapso trivial, e o faz também com um título extremamente capcioso. A retificação (de segunda página, repito) diz que "O Globo errou sobre dívidas de empresas do grupo de Eike" -- ora bolas, dito assim a coisa parece insignificante! A diferença do dia 14 para hoje é que o grupo Eike passou de insolvente para solvente. O jornal tinha que desmentir diretamente a notícia anterior e informar em manchete que, ao contrário do que dissera, o patrimônio do grupo é superior ao seu passivo.
Não morro de amores por Eike -- e tampouco pelo Globo --, mas acho repugnante, absurda e criminosa a atitude do jornal, de fio a pavio. Como toda nossa imprensa em geral, O Globo é feroz e contundente em suas denúncias e acusações mas extremamente meigo e complacente consigo mesmo e um tanto debochado, eu diria, com seus leitores e as vítimas de seus erros e falhas. No caso presente, por exemplo, não houve sequer o protocolar pedido de desculpas às empresas e seus acionistas por tê-los, irresponsavelmente, jogado no lixo. Suas retratações jamais têm o mesmo destaque dos erros retratados. Esse é um tipo de imprensa da pior qualidade possível, indigno de uma sociedade que se diz democrática.
A espantosamente branda reação de Eike ao enorme estrago que o jornal fizera ao seu já combalido grupo empresarial nos permite pensar em que, novamente, existe algo mal cheiroso no reino da Dinamarca.
Nenhum comentário:
Postar um comentário