O governo brasileiro endureceu o tom das discussões e deu um ultimato à Argentina para que apresente sua oferta com vistas à negociação de uma área de livre-comércio do Mercosul com a União Europeia. Em uma reunião de ministros das Relações Exteriores e de Economia do bloco, na terça-feira passada, em Caracas, o chanceler brasileiro, Luiz Alberto Figueiredo, cobrou uma posição do colega argentino, Héctor Timerman, segundo fontes.
"O clima é de muito mal-estar por parte do Brasil e do Uruguai, que já estão com suas propostas fechadas, faltando apenas a da Argentina para harmonizar com as demais e fechar a oferta do bloco", disse uma fonte do governo uruguaio.
Uma nova reunião extraordinária será realizada no dia 15 de novembro, também na capital venezuelana, presidente pro tempore do Mercosul. Até lá, "a Argentina terá que definir sua situação". "O que não pode é manter essa indefinição porque os prazos já esticaram demais", comentou a fonte.
Atribuindo a informação a fontes do governo argentino, em seu programa de rádio, o jornalista argentino Marcelo Bonelli disse que Figueiredo discutiu em duros termos com Timerman, afirmando que um país do tamanho do Brasil não ficará refém da Argentina.
A Argentina deveria ter encaminhado sua proposta de abertura de mercado durante a reunião realizada há uma semana, para dar início à formulação da proposta consolidada do bloco. O compromisso do Mercosul é de apresentar a oferta em dezembro. "Está claro que vamos apresentar uma oferta do Mercosul, mas para isso, precisamos que a Argentina apresente a sua. Até o Paraguai, que ainda não regressou ao bloco formalmente, já tem uma proposta fechada", disse a fonte uruguaia.
Outra fonte do governo do Uruguai comentou que a Argentina não disse se vai ou não apresentar uma proposta. Pelo contrário, tem argumentado que o país se encontra em um período de "reindustrialização" e deve ser cuidadoso para não interromper esse processo. "Se não vai apresentar sua oferta, a Argentina terá de dizer isso claramente", ressalvou.
Fonte do governo argentino reconheceu que a Argentina está demorando em dar uma resposta ao bloco, mas garante que haverá uma oferta do país. "Temos tido reuniões setoriais e entre os três ministérios envolvidos no assunto: Relações Exteriores, Economia e Indústria", disse a fonte. A última reunião entre as autoridades foi realizada na sexta-feira, apenas três dias após a conversa entre Figueiredo e Timerman.
Resistência. A maior resistência para fechar uma proposta argentina parte do secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, o xerife dos preços no país. "As políticas de controle de importações de Moreno e todas as demais que têm adotado no país são rudimentares e ideológicas", apontou a fonte.
As negociações para formar uma área de livre-comércio entre o Mercosul e o bloco europeu começaram em 1999, mas o projeto foi engavetado em 2004. Somente em 2010 as conversas foram retomadas.
[O jornal argentino Clarín, que sofre implacável perseguição de Cristina Kirchner, noticiou no dia 2 deste mês que "Devido às dificuldades criadas pela Argentina a UE negociaria apenas com o Brasil", acrescentando que "a União Europeia cansou-se de esperar pela Argentina. As negociações comerciais entre a UE e o Mercosul estão bloqueadas há vários anos e em Bruxelas se põe a culpa por isso principalmente em Buenos Aires. A última rodada de negociações ocorreu em outubro de 2012 e os bloqueios se arrastam desde 1999". Vê-se que já perdemos incríveis 14 anos para fechar negociações de extrema importância, porque o Mercosul por definição só pode negociar em bloco e o Brasil tem tido prazer em ser refém da Argentina.
No mesmo dia 2/11 o mesmo Clarín informava que o presidente uruguaio José Mujica acusou a Argentina de "deixar o Mercosul em cacos". Esse é o Mercado "Comum" ao qual o Brasil se subjugou.]
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