sexta-feira, 15 de novembro de 2013

43.000 mortos no trânsito, mais de 43.000 assassinatos e 50.600 estupros por ano -- que país é este?!

A imagem de que somos um país cordial já virou um conto de fadas há muito tempo. Somos na realidade um país extremamente violento, dos piores do chamado mundo civilizado nesse particular, as estatísticas estão aí escancaradas. 

O número de acidentes de trânsito não para de subir. Um problema que também atinge a economia do país: são milhões de reais em impostos gastos, todos os anos, com tratamento das vítimas de acidentes. Sem falar na dor das famílias que perderam parentes. E nas vítimas que ficaram com sequelas. São 43 mil mortos por ano, o que nos coloca em quarto lugar no mundo nesse ranking terrível. 

O Brasil fez um pacto com a Organização das Nações Unidas para reduzir em 50% o número de mortes no trânsito até 2020. Esse será certamente mais um compromisso que o país não irá honrar -- as causas para essa tragédia são múltiplas e permanecem praticamente inatacadas. Não há noção de civilidade em lugar nenhum na vida cotidiana e muito menos no trânsito, isso é relegado a segundo plano nas escolas. A lei não é aplicada p'ra valer nem nas cidades nem nas estradas, são frequentes os casos de corrupção nos Detrans e Polícia Rodoviária, nossos carros  são dos mais inseguros do planeta  (o governo decidiu que isso não é problema dele e sim a redução do IPI para as montadoras) e o trânsito nas grandes cidades é simplesmente caótico (o do Rio, por exemplo, acaba de ser considerado o 3° pior do mundo). A vertente da embriaguez ao volante sofreu forte impacto redutor com a Lei Seca, mas há muito mais ainda por fazer.

A taxa de homicídios intencionais no Brasil cresceu 41% em 17 anos, de 1992 a 2009, de acordo com a pesquisa IDS 2012 (Indicadores de Desenvolvimento Sustentável) divulgada em junho do ano passado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Relatório do Escritório da ONU para Drogas e Crimes (UNODC, em inglês) para 2012 mantém o Brasil em triste e lamentável posição de destaque no ranking mundial de homicídios intencionais. Aqui também as estatísticas demonstram o fracasso dos governos (federal, estadual e municipal) nas áreas de segurança pública, educação, cultura e lazer, vetores que seguramente exercem papel importante para frear esses números.

Segundo o relatório do UNODC, o país foi o 11° mais violento do mundo em 2012, com um índice de 21,7 homicídios intencionais por 100.000 habitantes. Na América do Sul somos o terceiro mais violento nesse quesito, atrás de Venezuela e Colômbia. Há divergências de cifras quanto ao número total de homicídios no Brasil em 2012 -- com a taxa de 21,7 (hom/100³ hab) do UNODC e uma população de 198,7 milhões de habitantes em 2012, o país teria tido cerca de 43.100 homicídios no ano passado. Na semana  passada, o jornal Bom Dia Brasil da Globo deu esse número como sendo de mais de 50.000 mas não citou a fonte. O site do UOL fala em 47.136 assassinatos. Qualquer que seja o número real, ele é elevadíssimo, absurdo e inaceitável.



Mapa global com as taxas mais recentes dos países por taxa de homicídio a cada 100.000 habitantes. Fonte: UNODC.
  0-1
  1-2
  2-5
  5-10
  10-20
  >20

Não bastassem todos esses números impressionantes, há uma terceira estatística que atesta o assustador nível de violência da sociedade brasileira: o número de estupros ocorridos no país. Segundo o site do UOL já citado, as estatísticas de segurança pública no Brasil apontam que, em 2012, os casos de estupro superaram os de homicídios dolosos (ou seja, com intenção de matar), com 50.617 ocorrências contra 47.136 assassinatos. Os dados integram o 7º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que será divulgado na cidade de São Paulo, nesta terça-feira (5), pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que geraram o quadro abaixo (Fonte: UOL).



Em dez anos de guerra no Afeganistão, o número de mortos entre civis e militares foi de 13.000A Guerra do Iraque já contabiliza a morte de pelo menos 174 mil pessoas ao longo dos últimos dez anos, desde a invasão do país pelas forças internacionais lideradas pelos Estados Unidos. Desse total, entre 112 mil e 122 mil eram civis. O número de mortos no conflito sírio passa de 100 mil, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Parte dessa contagem vem das análises da ONG Human Rights Data Analysis Group, que atua estudando dados obtidos na Síria há um ano e meio. Todas as mortes em cada um desses conflitos trágicos perdem impacto diante dos quase 90.000 brasileiros vitimados apenas no ano passado por homicídio intencional e pelo trânsito. Vivemos diariamente uma enorme tragédia sob qualquer ponto de vista, e absolutamente nada explícito de parte do governo e da sociedade sinaliza qualquer preocupação com relação a isso. 

A anestesia e a apatia generalizadas que se apossaram do país com relação às três estatísticas apavorantes retratadas acima -- já que elas não mostram sinais de arrefecimento nenhum, ou de pelo menos alguma importância -- apontam para uma absurda banalização da vida humana e para uma inadmissível acomodação com uma situação tão chocante, que fica muito difícil ou quase impossível poder-se confiar no Brasil que vem se desenhando a partir de tanta violência.

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