A Argentina se converteu no país com mais roubos na América Latina, superando inclusive países nos quais esses delitos eram um flagelo como México e Brasil. Nosso país tem a terceira maior taxa de roubos registrada na América Latina, segundo relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) sobre a violência na região divulgado nesta terça-feira (12). Dados de 2011 utilizados pelo relatório apontam uma taxa de roubos a cada 100 mil habitantes no Brasil de 572,7. Entre os 18 países analisados, apenas Argentina (973,3 roubos a cada 100 mil habitantes) e México (688 a cada 100 mil habitantes) registraram números maiores.
O relatório ressalta que as taxas podem ser ainda mais elevadas, visto que muitos roubos não são reportados às autoridades. Todos os países possuem uma taxa de vitimização (número de pessoas que se disseram vítimas de roubos em pesquisas realizadas entre a população) muito maior que os dados oficiais.
Dezoito países tiveram dados analisados: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. Nem todos forneceram ao Pnud dados de 2011 – no caso da Argentina, por exemplo, os números são de 2008.
O estudo aponta que, de maneira geral, os crimes cometidos e a insegurança sentida pela população nos países da América Latina impedem a região de obter um maior desenvolvimento econômico e humano. Dos 18 países analisados, 11 possuem taxas de homicídios considerada epidêmicas, incluindo o Brasil – a taxa brasileira, de 21 homicídios a cada 100 mil habitantes, é maior que a de Argentina, Uruguai, Chile, Bolívia, Peru, Equador, Costa Rica, Nicarágua e Paraguai (na maior parte dos países, com exceção da Argentina, os dados referem-se principalmente ao ano de 2011).
Entre 2000 e 2010 a taxa de homicídios cresceu 11% na região. No mesmo período, ela diminuiu ou se estabilizou na maior parte das regiões do mundo (considerando-se os locais onde há registros; a África, por exemplo, não possui dados confiáveis). O número de roubos triplicou nos últimos 25 anos na região, e de acordo com o levantamento, seis em cada dez roubos são realizados com violência na América Latina.
A percepção de segurança também piorou – cinco em cada dez habitantes dos países analisados relatam ter uma menor sensação de segurança países atualmente. Na mesma pesquisa, foi constatado que 65% da população local deixou de sair à noite devido à insegurança, e que 13% precisou mudar de bairro por se sentir ameaçado.
US$ 24 bilhões perdidos
Tudo isso implica custos financeiros. De acordo com o Pnud, as altas taxas de crime prejudicam a economia local e impedem que os países se desenvolvam mais. Segundo o estudo, se a taxa de homicídios estivesse em níveis aceitáveis, a região poderia ter tido um Produto Interno Bruto (IB) 0,5% maior em 2009 – o que representaria um ganho potencial de US$ 24 bilhões (quase R$ 55 bilhões).
Outra forma de calcular o custo da violência é em anos de vida perdidos. Em toda a região, 331 milhões de anos de vida foram perdidos em 2009 devido aos homicídios. Caso a taxa de homicídios fosse reduzida à média mundial no Brasil, por exemplo, a expectativa de vida da população seria 11 meses maior. Na Venezuela, o crescimento seria de um ano e oito meses.
A explicação para o aumento da violência nos últimos anos na região está baseada em uma série de fatores, segundo o relatório: baixa qualidade do crescimento, instituições sociais fracas e incapacidades do Estado.
A pobreza e o desemprego sozinhos não explicam o aumento da violência – na última década, a região teve um crescimento econômico médio de 4,2%, segundo o relatório, mais de 70 milhões de pessoas saíram da linha da pobreza e as taxas de desemprego caíram continuamente entre 2002 e 2009. Entretanto, o crescimento urbano rápido, aliado a uma maior expectativa de consumo e à baixa mobilidade social são fatores que levam muitas pessoas ao crime. E o desemprego não está diretamente relacionado a taxas criminais mais altas. Uma pesquisa inédita realizada com presos de seis países da região (Argentina, Brasil, Chile, El Salvador, México e Peru) deixa clara esta questão. No Brasil, 70% dos presos entrevistados estavam empregados quando cometeram os crimes pelos quais foram detidos – e na média, eles começaram a trabalhar aos 13,9 anos.
Os problemas dos sistemas educacionais também influenciam diretamente nos índices criminais – sem educação, a população tem mais dificuldades para ascender socialmente, e em alguns casos busca nos crimes um acesso mais rápido. Nos países da região, 51% dos homens e 45% das mulheres não completam o ensino médio. Por fim, as instituições familiares fracas possuem seu peso – enquanto a taxa de fertilidade entre adolescentes caiu 26% no mundo entre a década de 1970 e o período entre 2005 e 2010, na América Latina a redução foi de apenas 5%.
Apesar de os números brasileiros não se destacarem e ficarem na média entre os países em que a pesquisa com os presos foi conduzida, o país tem a quinta maior densidade de presos nas penitenciárias na América Latina, atrás apenas de El Salvador, Guatemala, Nicarágua, Panamá e República Dominicana. Também é importante destacar que os dados da região são os mais altos do mundo, considerando as regiões onde há números confiáveis – o que coloca as taxas brasileiras em um patamar alto. [Enquanto isso, na Suécia ...]
Taxa de roubos por 100.000 habitantes, América Latina, valores aproximados de 2005 e 2011 (clique na imagem para ampliá-la). - (Fonte: Clarín).
Principal ameaça à segurança de acordo com os cidadãos, América Latina, 2012 (clique na imagem para ampliá-la). - (Pandillas = bandos/quadrilhas; - Crime organizado e narcotraficantes; - Delinquentes comuns) - (Fonte: Clarín).
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