segunda-feira, 11 de novembro de 2013

EUA e Europa negociam R$ 1 bilhão do Brasil para construir telescópios gigantes

[A reportagem abaixo, de Rafael Garcia e Giuliana Miranda, foi publicada ontem (10/11) na Folha de S. PauloO que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]


Dois dos três projetos de telescópios mais ousados do planeta estão pleiteando, juntos, quase R$ 1 bilhão em ajuda do Brasil. Concorrentes, ambos permitirão ver pela primeira vez com detalhes a atmosfera de planetas fora do Sistema Solar, para buscar "gêmeos" da Terra, e medir a expansão do Universo em tempo real. E a disputa por descobertas futuras já incendeia rivalidades dentro da comunidade astronômica brasileira.


O menor dos projetos, o GMT (Giant Magellan Telescope), terá um espelho de 25 metros de diâmetro -- duas vezes e meia o tamanho do maior espelho de aumento usado hoje num telescópio.

A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) anuncia na quinta detalhes do acordo que negocia para entrar do projeto, liderado por um consórcio americano. Desembolsando US$ 40 milhões (R$ 92 milhões), a agência obteria uma cota de 5% do tempo de observação no GMT.




O outro projeto em busca de auxílio brasileiro é o E-ELT (European Extremely Large Telescope), um monstro de 39 metros de diâmetro a ser construído pelo ESO (Observatório Europeu do Sul). O governo federal assinou em 2010 um acordo em que se compromete a desembolsar € 270 milhões de euros (R$ 836 milhões) em dez anos.

Dentro do ESO, que já está acolhendo astrônomos brasileiros mesmo antes da ratificação, o Brasil não tem cota fixa; tem de disputar tempo de telescópio com os outros 14 países do observatório. O acordo, porém, garante acesso não só ao futuro E-ELT, mas também ao VLT (Very Large Telescope), o maior telescópio óptico do mundo hoje, e ao Alma, o mais poderoso conjunto de radiotelescópios do planeta.

O acordo com os europeus foi aprovado anteontem pela Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados, mas precisa ser ratificado pelo plenário no Congresso para ter efeito. Pelos termos do acordo, o Brasil começa a pagar o valor total com parcelas menores, que crescem ano a ano. As três primeiras parcelas já estão vencidas e somam € 47,5 milhões (R$ 147 milhões). Se o acordo for ratificado, o país precisará quitar o valor.

Tanto o GMT quanto o E-ELT têm término previsto para depois de 2020, situam-se em montanhas no Chile e operam na região óptica do espectro de luz -- as ondas eletromagnéticas que o olho humano é capaz de captar.

O terceiro observatório gigante com projeto em andamento é o TMT (Telescópio de Trinta Metros), idealizado por astrônomos californianos. Hospedado no Havaí e com inauguração marcada para 2018, o aparelho está com financiamento atrasado e buscou apoio de chineses, indianos e japoneses.

Como o GMT e o E-ELT serão os únicos observatórios desse porte no hemisfério Sul, porém, é provável que entrem em concorrência direta por descobertas no céu austral, que de modo geral é mais rico que o boreal.

A proporção dos gigantes (clique na imagem para ampliá-la) - (Ilustração: Editoria de Arte/Folhapress - Fonte: Folha de S. Paulo).

A participação brasileira em cada um dos projetos está sendo negociada por grupos que já são rivais no país, o que despertou um clima de animosidade na academia. Enquanto defensores do acordo com os EUA dizem que a filiação ao ESO sai cara demais, opositores dizem que os americanos não oferecem acesso a nenhum telescópio antes de o GMT ficar pronto.

[Há qualquer coisa que não bate na história acima. O registro que tenho e que coloquei no blogue em janeiro de 2012 é que em 2010, no governo do NPA (Nosso Pinóqio Acrobata, Lula), o Brasil comprometeu-se a participar financeiramente da construção do ESO. A opção brasileira já teria sido portanto feita. Na época, o Brasil seria o 15° país a participar do projeto e o primeiro país não europeu nele incluído, e sua contribuição seria de 300 milhões de euros (quase R$ 1 bi, como diz a reportagem)].


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