sexta-feira, 1 de novembro de 2013

A China é muito mais do que podemos enxergar

Três manchetes sobre a China em alguns dos principais jornais mundiais -- no caso, o Financial Times, o Wall Street Journal e o International New York Times -- chamaram minha atenção ontem, quinta-feira. Duas delas eram de conteúdo tecnológico, e a outra sobre poluição ambiental. 

Das tecnológicas, a mais surpreendente e emblemática para mim -- e acredito que para muita gente -- foi a de que a China fornecerá componentes para reatores de usinas nucleares americanas que estão em fase de construção (três reatores na Geórgia e um na Carolina do Sul). Estas usinas são as primeiras a serem construídas nos EUA após o acidente com a usina de Three Mile Island em 28 de março de 1979. A expressiva expansão chinesa na geração elétrica de origem nuclear -- que no seu auge chegou a ver a construção de um novo reator a cada poucos meses -- demonstrou que o país possui uma cadeia produtiva capaz de suprir projetos internacionais. 

Os reatores novos americanos utilizam a tecnologia do projeto AP1000 da Westinghouse, a mesma usada em quatro reatores em construção na China, o que permite economia de escala no fornecimento de componentes. A Westinghouse, hoje propriedade da Toshiba, transferiu a tecnologia do AP1000 para a State Nuclear Power Technology Co (SNPTC) da China em 2006. [Pergunta inocente: como é mesmo a história por trás da construção de Angra I, II e III?].

A possibilidade de que a China seja supridora de peças e componentes para as usinas nucleares americanas seria parte de um acordo bilateral de cooperação entre os dois países segundo Ernest Moniz, o secretário de Energia dos EUA. "Trata-se fundamentalmente da mesma tecnologia de terceira geração que está sendo  aplicada às quatro usinas em construção na China e às quatro em construção nos EUA", disse ele em Pequim na quarta-feira. Moniz disse ainda que essa cooperação poderia resultar em um consórcio entre a Westinghouse, a SNPTC e China National Nuclear Corp para participar da concorrência de um reator no Reino Unido.

Moniz estava na China para participar do início da construção do Centro de Excelência em Segurança Nuclear, um projeto bilateral destinado a ajudar a treinar técnicos chineses em segurança operacional -- a rápida expansão nuclear chinesa deixou o país carente de equipes experientes em operação de usinas desse gênero.  

As peças e componentes a serem fornecidos pelos chineses ainda não foram identificados e especificados em detalhes, mas poderiam incluir recipientes de pressão, geradores de vapor e tubulações para refrigeração dos reatores.  

A segunda notícia tecnológica envolvendo os chineses informava que a fabricante chinesa BYD havia ganho a concorrência para o fornecimento de ônibus elétricos para o sistema de transporte público de Los Angeles e Long Beach.  A BYD montou uma empresa de US$ 30 bi que venceu seus concorrentes americanos na referida concorrência, e será a primeira empresa chinesa a construir veículos nos EUA.

Se nos lembrarmos de que em novembro de 2012 a gigante estatal chinesa State Grid entrou firme no setor energético brasileiro e de que o consórcio ganhador do leilão de Libra contou com a participação de duas estatais chinesas (a CNPC e a Cnooc), veremos que enquanto ficamos discutindo sexo de anjo e aplaudindo Dilma NPS (Nosso Pinóquio de Saias) brincar de presidente  os chineses estão fazendo direitinho seu dever de casa e comendo nosso mingau pelas beiradas. Fico imaginando se um dia pintar um problema com qualquer dessas estatais amarelas, quem é que vai peitar o governo chinês ...

A terceira notícia sobre a China referia-se à enorme poluição atmosférica reinante no país, que já chegou ao ponto de reduzir à metade o número de turistas em Pequim.  As fotos abaixo dão uma pequena amostra da dimensão do problema ambiental chinês.

Poluição sobre a China, fotografada por satélite da Nasa [clique na imagem para ampliá-la e ver a posição de Pequim (Beijing)]. 

Poluição no dia 21 de outubro na cidade de Harbi, no nordeste da China - (Foto: Reuters).

Turista com máscara na entrada da Praça da Paz Celestial em Pequim em dia de poluição em Pequim - (Foto: Associated Press).


Uma ciclista em Pequim.









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