Os países vizinhos do Brasil estão apreensivos com o desempenho da economia brasileira. Os sinais de desaceleração ficaram claros com a
divulgação do resultado do PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro
trimestre deste ano, que registrou variação zero em relação ao trimestre
anterior, de acordo com o IBGE.
Assessores dos governos e analistas econômicos ouvidos pela BBC Brasil
destacaram que o desempenho da economia brasileira tem hoje influência
maior nos países vizinhos do que a crise europeia e dos Estados Unidos. "O que acontece no Brasil hoje afeta diretamente a economia argentina. A
crise na Europa ainda é para nós um fato distante. Por isso, o
resultado do PIB merece nossa atenção. Se o Brasil vai bem, podemos
exportar mais para seu mercado", disse o economista argentino Diego
Giacomini, da consultoria Economia e Regiões, de Buenos Aires.
Outro economista argentino, Raúl Ochoa, especialista em comércio
exterior e professor da Universidade de Buenos Aires (UBA), disse que a
estagnação da economia brasileira era esperada. Com a desaceleração, vem
à tona o temor do empresariado argentino com uma eventual "invasão" de
produtos brasileiros no país vizinho. "A economia argentina depende da economia brasileira. Hoje, mais de 20%
das exportações argentinas vão para o Brasil. Se o Brasil cresce menos,
compra menos, e pior, como temem os empresários, pode exportar para a
Argentina o que não está vendendo em seu próprio mercado", disse.
No Brasil, o Ministério da Fazenda estima crescimento de 3,2% para 2011 e de entre 4% e 5% para 2012. As previsões do Ministério da Economia da Argentina para 2012 são de 5% de expansão.
Para muitos especialistas, o Brasil, com a maior economia da América Latina, é hoje a "locomotiva" da região.
Setor automotivo
O comércio entre os dois países vinha bem neste ano. Segundo a
consultoria Abeceb, de Buenos Aires, divulgados na semana passada, o
comércio Brasil-Argentina registrou resultados recordes em novembro
deste ano, frente a 2010.
Mas no mesmo mês veio uma luz amarela, de alerta, com a queda no
desempenho do setor automobilístico. Na segunda-feira, a Associação de
Fábricas de Automóveis (Adefa) informou que as exportações do setor
caíram 17,8% em novembro na comparação com o mesmo mês de 2010.
O Brasil, como lembrou o economista Marcelo Elizondo, absorve 80% das exportações do setor automotivo argentino. "É dependência demais e por isso sempre estamos atentos à economia
brasileira e igualmente a da China, principal compradora da soja
argentina", disse.
Paraguai
No Paraguai, segundo assessores do Ministério da Fazenda, o governo já
tinha reduzido a previsão de crescimento econômico de 2011, de olho no
desempenho do Brasil. A economia paraguaia também terá crescimento menor por causa do impacto
da febre aftosa no gado local, que reduziu as exportações do país.
"Antes da aftosa, a previsão era de um crescimento econômico de 6,5% em
2011. Mas com a menor venda de carne para a Rússia, Chile e Brasil
tivemos que rever este dado reduzindo a previsão para 4,5% este ano. Em
2012, esperamos entre 3,5% e 4% porque a retomada da confiança dos
compradores de carne pode demorar um ano", disse um assessor do
Ministério.
O economista paraguaio Fernando Masi, do Centro de Análises e de Difusão
da Economia Paraguaia (Cadep), de Assunção, disse que o país exporta
mais de 20% da sua produção para o Brasil. "Se somarmos os produtos de outros países enviados daqui para o Brasil
este índice salta para 40%. Ou seja, se o Brasil cresce menos nos afeta
diretamente", disse Masi.
Uruguai
No Uruguai, a situação é, até o momento, diferente, segundo assessores do Ministério da Economia. A previsão oficial é que o país crescerá este ano acima do previsto,
registrando 6% de expansão e não os 4,5% anteriormente esperados, de
acordo com dados de setembro, últimos disponíveis.
"O aumento constante do Investimento Estrangeiro Direto (IED), com alta
de 30% em seis anos, é um dos principais motores da nossa economia hoje.
Mas claro que sempre estamos atentos ao que acontece no Brasil",
disseram.
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