Eis que surge um legítimo herói tupiniquim, com cara e coragem para afrontar a marginália do Complexo do Congresso: d. Manuel Edmilson da Cruz, bispo emérito de Limoeiro (CE). Na primeira entrega da Comenda de Direitos Humanos d. Hélder Câmara, oferecida pelo Senado a personalidades de destaque na área, os parlamentares viram o bispo não só recusar de público a homenagem como ouviram dele sermões pelo reajuste dos próprios salários em 61,8%, aprovado na semana passada.
O religioso comparou o aumento a "um atentado, uma afronta ao povo brasileiro, ao cidadão, ao contribuinte e a todos aqueles que contribuem com o trabalho, a dignidade e o suor do rosto". E da tribuna, d. Manuel anunciou aos senadores: "Só me resta uma atitude: recusar a comenda, porque senão estaria procedendo contra os direitos humanos e esse momento perderia todo o sentido histórico", afirmou. Para d. Manuel, a comenda não representa a pessoa do "cearense maior que foi d. Hélder Câmara", e sim "desfigura-a".
O bispo não parou por aí. Fez um jogo de palavras para criticar a atitude de deputados e senadores. "Quem assim procedeu não é parlamentar, é para lamentar".
A entrega da comenda coincidiu com a publicação no Diário Oficial da União do decreto legislativo que também reajusta os salários do presidente da República, vice-presidente e ministros de Estado. (Fonte: O Estado de S. Paulo, de 22/12/10).
No meio de tanta baixaria, com esse escandaloso e absurdo aumento salarial de parlamentares, com um presidente da República que só faz inaugurar obras inacabadas e mente desbragadamente sobre seus feitos e o estado do país, com um deputado nomeado para o Ministério do Turismo que faz temporada pré-ministerial em um motel de S. Luiz (MA) e paga as despesas com dinheiro da Câmara, é animador e reconfortante ver essa atitude decente e corajosa desse bispo cearense.
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