Na sua época o humor se fazia através de trocadilhos e de poesias satíricas -- estas últimas podem hoje nos soar hoje um tanto anacrônicas, mas foram um estilo muito cultuado e popular na época de Emílio de Menezes, que foi um de seus expoentes máximos.
Frequentava a roda emiliana um certo guarda-livros, metido a conquistador e que se caracterizava pelo tamanho descomunal das orelhas, que em sua última aventura donjuanesca levou uma tremenda surra do marido ultrajado. Quando reapareceu completamente estropeado, Emílio fez-lhe um epitáfio:
Morreu depois de uma sova
E como não tinha campa,
De uma orelha fez a cova
E da outra fez a tampa.
Quando o poeta Vicente de Carvalho amputou um dos braços, conta Medeiros e Albuquerque, Emílio com uma desumanidade inexplicável dissera que Deus lhe fizera perder esse braço para que não passasse a vida a aplaudir-se.
Quando ingressou na Academia Brasileira de Letras o notável escritor João do Rio, homossexual assumido, de roupas espalhafatosas, Emílio com a maldade de sempre celebrou o fato com estes versos:
Na previsão de próximos calores,
A Academia que idolatra o frio,
Não podendo comprar ventiladores,
Abriu as portas para o João do Rio ...
Essas e outras histórias de Emílio Menezes e de sua época são encontradas no livro de Raimundo de Menezes (que era cearense, e nada tinha a ver com Emílio) "Emílio de Menezes, o Último Boêmio" , Editora Saraiva, 1949 (certamente só disponível em sebos). O livro permite conhecer hábitos incríveis da cidade do Rio, como a história das vacas leiteiras, com campainhas ao pescoço, que eram tangidas até ao centro e permitiam tomar-se leite em copo quentinho, tirado na hora, e isso se tornara muito comum e dava a nota característica à rua que amanhecia ... Mais tarde, Francisco Pereira Passos, prefeito da cidade entre 1902 e 1906, acabou com esse feio hábito.
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