segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Emílio de Menezes, o último boêmio

O curitibano Emílio Nunes Correa de Menezes (1867-1918) foi exímio e respeitado poeta, mas passou à história de nossa literatura principalmente como um trocadilhista insuperável e um poeta satírico muitas vezes implacável com suas "vítimas". Gozador incorrigível, detestava ser gozado, um dos traços estranhos de sua personalidade. Boêmio inveterado, frequentador assíduo da Confeitaria Colombo (que só abriu em 17/9/1894, antes dela o ponto de encontro era a "Pascoal", na rua do Ouvidor), tinha entre seus parceiros de copo e de farras Olavo Bilac, Bastos Tigre, Paula Nei, Capistrano de Abreu, Gregório de Matos, Guimarães Passos, Martins Fontes, e outros, além de conviver com outras figuras ilustres do cenário cultural da época, como José do Patrocínio e Raimundo Correa, por exemplo. Era admirador incondicional de Machado de Assis, que considerava o "Mestre dos Mestres".

Na sua época o humor se fazia através de trocadilhos e de poesias satíricas -- estas últimas podem hoje nos soar hoje um tanto anacrônicas, mas foram um estilo muito cultuado e popular na época de Emílio de Menezes, que foi um de seus expoentes máximos.

Frequentava a roda emiliana um certo guarda-livros, metido a conquistador e que se caracterizava pelo tamanho descomunal das orelhas, que em sua última aventura donjuanesca levou uma tremenda surra do marido ultrajado. Quando reapareceu completamente estropeado, Emílio fez-lhe um epitáfio:
Morreu depois de uma sova
E como não tinha campa,
De uma orelha fez a cova
E da outra fez a tampa.

Quando o poeta Vicente de Carvalho amputou um dos braços, conta Medeiros e Albuquerque, Emílio com uma desumanidade inexplicável dissera que Deus lhe fizera perder esse braço para que não passasse a vida a aplaudir-se.

Quando ingressou na Academia Brasileira de Letras o notável escritor João do Rio, homossexual assumido, de roupas espalhafatosas, Emílio com a maldade de sempre celebrou o fato com estes versos:
Na previsão de próximos calores,
A Academia que idolatra o frio,
Não podendo comprar ventiladores,
Abriu as portas para o João do Rio ...

Essas e outras histórias de Emílio Menezes e de sua época são encontradas no livro de Raimundo de Menezes (que era cearense, e nada tinha a ver com Emílio) "Emílio de Menezes, o Último Boêmio" , Editora Saraiva, 1949 (certamente só disponível em sebos). O livro permite conhecer hábitos incríveis da cidade do Rio, como a história das vacas leiteiras, com campainhas ao pescoço, que eram tangidas até ao centro e permitiam tomar-se leite em copo quentinho, tirado na hora, e isso se tornara muito comum e dava a nota característica à rua que amanhecia ... Mais tarde, Francisco Pereira Passos, prefeito da cidade entre 1902 e 1906, acabou com esse feio hábito.

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