A frota dos novos aviões de patrulha P-3, da Força Aérea, pode receber mísseis Harpoon, americanos, de última geração. A negociação está na primeira fase, de liberação das pesadas restrições impostas pela legislação federal dos Estados Unidos a esse tipo de operação. O valor do contrato pode chegar a US$ 167 milhões - cerca de R$ 367,4 milhões - referente a 16 mísseis operacionais, 4 modelos recuperáveis, de adestramento, e ao material de suporte técnico, documentação de manutenção e treinamento, além de peças e componentes.
Há três dias, os Departamentos de Estado e de Defesa notificaram ao Congresso o detalhamento da requisição comercial. O fabricante do míssil Harpoon é a Boeing Defense.
O custo do pacote é apenas uma referência. A etapa de discussões pode resultar em cifras menores. Na Índia a aquisição de 45 unidades - desdobrada em duas encomendas, a primeira cobrindo 24 mísseis e a segunda outros 21 - teria saido por US$ 200 milhões, cerca de US$ 4,4 milhões a peça, em comparação desfavorável frente aos prováveis US$ 8,35 milhões da proposta ao Brasil. Há outras ofertas. A sueca Saab, que levou em dezembro os US$ 4,5 bilhões do contrato da escolha do caça de alto desempenho Gripen de nova geração, e vendeu ao Exército um lote de mísseis de defesa aérea RBS-70, produz o modelo RBS-15 - orgânico do sistema de armas do supersônico, compatível com outras aeronaves.
Os aviões de patrulha marítima P-3AM modernizados pela Airbus Military para a FAB (nove turboélices) devem atuar sobre área de cobertura de segurança quase 5,5 milhões de km² sobre o Atlântico - 2 milhões de km² além da zona conhecida como Amazônia Azul. Na configuração atual podem despejar minas antinavio, lançar mísseis, foguetes e torpedos.
O P-3AM é a versão militar do Electra, utilizado na ponte aérea entre Rio de Janeiro e São Paulo de 1975 a 1992. As aeronaves ficam na base aérea de Salvador, agregadas ao 7.º Grupo de Aviação. Pesadas e de grande porte, podem permanecer em voo por 16 horas, com alcance de até 9 mil km em patrulha - ou metade disso em missão de combate. Foram fabricados entre agosto de 1964 e dezembro de 1965. O trabalho de incorporação à FAB exigiu investimento de US$ 470,9 milhões.
O Harpoon Block II, na versão AGM-84L, cobre distância superior a 125 quilômetros. A ogiva de ataque pesa 221quilos. Pronto para disparo, mede 3,84 metros e voa a 850 km/h procurando o alvo por meio de uma combinação de radar interno, GPS e caixa inercial de navegação. Já foram produzidos mais de 7,3 mil mísseis, adotados por forças de ao menos 28 países.
[A FAB apresentou seus dois primeiros P-3AM Orion de patrulha marítima, modernizados e revitalizados na Espanha, em 30/9/2011. A frota desses aviões (9 aeronaves) será empregada na patrulha da área de extração do petróleo da camada do pré-sal, no Oceano Atlântico.
P-3 AM Orion - Aeronave fabricada na década de 1960 passou por processo de modernização na Espanha - (Foto: FAB/Divulgação).
Essa negociação nos permite vislumbrar um pouco da complexidade que é a política externa de um país, especialmente na área de segurança, e a inequívoca dependência que ainda temos dos EUA. Pontos a assinalar no pano de fundo desses entendimentos:
- O chamado "pragmatismo" -- que pode ter inúmeras nuanças, boas e ruins -- mostra que o cenário externo e ostensivo de ranhetices políticas (jogo de cena para o grande público) corre distante do realismo comercial e estratégico. Fazemos beicinhos e caras feias -- no que Dilma NPS (Nosso Pinóquio de Saias) é PhD -- para os EUA, mas na hora do pega p'ra capar geralmente fica difícil escapar deles. A compra dos caças suecos foi um ponto à parte, mas não completamente porque parte da aviônica desses jatos é americana.
- Matutar não é proibido, nem é pecado. A Boeing, fabricante do míssil Harpoon que poderá equipar ps P-3 AM, assinou em abril de 2012 um acordo de cooperação com a Embraer que, por sua vez, está investindo pesado em seu braço de Defesa e Segurança. Nesta área, a Embraer tem em suas pranchetas o desenvolvimento do avião de transporte militar KC-390 para competir com o lendário Hércules C-130, ou mesmo substituí-lo -- o C-130 é fabricado pela Lockheed, uma forte rival da Boeing em projetos militares.
- Além da nossa crônica incompetência técnica, financeira e organizacional, os EUA têm sido um dos principais obstáculos para a implantação plena da base de lançamento de foguetes em Alcântara (MA). Os americanos, depois de nos pressionar (sem êxito até agora, felizmente) para serem os donos de fato da base, com exigências que transformariam aquelas instalações praticamente em um território americano incrustado no Brasil, tantas e tamanhas as restrições multidisciplinares que nos seriam impostas, têm exercido enorme pressão contra nossa capacitação tecnológica no setor aeroespacial.
A Wikipédia registra que às 13h30 (horário de Brasília) do dia 22 de agosto de 2003, três dias antes antes da data prevista para seu lançamento, uma enorme explosão destruiu o foguete brasileiro VLS-1V03 em sua plataforma de lançamento em Alcântara, durante os preparativos para o lançamento, matando 21 técnicos civis. O objetivo da missão, denominada Operação São Luiz, era colocar em órbita circular equatorial a 750 km de altitude o microssatélite meteorológico SATEC do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e o nanossatélite UNOSAT, da Universidade do Norte do Paraná. Essa explosão foi um golpe mortal no programa aeroespacial brasileiro, que desde essa época tenta reerguer-se, sem sucesso. Já em 2003, o Brasil iniciou com a Ucrânia uma cooperação para reerguer a base de Alcântara e lançar o foguete Cyclone-4, mas a Alcantara Cyclone Space (ACS), a empresa mista criada em partes iguais pelos dois países, já consumiu US$ 918 milhões, sendo metade disso injetado em meados de 2013 na forma de aumento de capital, e nada saiu ainda do papel.
Como era de se esperar, há uma teoria de sabotagem cercando a explosão de Alcântara mas nada foi confirmado, pelo menos publicamente até agora. O vídeo acima apresenta uma vertente dessa teoria conspiratória, assim como imagens geradas pelas câmeras de controle do lançamento até o momento da explosão. Com o vídeo pode-se acessar também um jornal de televisão em que o jornalista Bob Fernandes informa que o Brasil já era fortemente espionado pelos EUA desde o governo FHC e cita uma série de reportagens que fez na revista Carta Capital de 1999 a 2004 sobre isso. Bob Fernandes fala como se 1999 fosse o marco zero da espionagem americana no Brasil, nada disso existindo antes desse ano -- nem antes, durante ou depois da ditadura militar. Essa cegueira seletiva e a referência a FHC são facílimas de entender, porque o diretor de redação da Carta Capital é o jornalista Mino Carta, um baba-ovo lendário do NPA (Nosso Pinóquio Acrobata, Lula) e do petismo, e para essa gentalha o Brasil começou com FHC e não com Pedro Álvares Cabral. ]
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