quarta-feira, 14 de maio de 2014

Após 500 anos, são encontrados os restos do navio Santa Maria, de Cristóvão Colombo

[A reportagem traduzida abaixo é do jornal inglês The Independent e foi publicada hoje, 13/5.]


Restos de navio encontrados ao largo da costa do Haiti são considerados uma das mais importantes descobertas submarinas da história - (Ilustração: The Independent).

Mais de cinco séculos depois que o navio capitânia de Cristóvão Colombo, o Santa Maria, foi destruído no Caribe, pesquisadores arqueológicos acham que podem ter encontrado os há muito perdidos restos do navio -- repousando no fundo do mar ao largo da costa norte do Haiti. Essa é provavelmente uma das mais importantes descobertas arqueológicas submarinas no mundo. "Todas as evidências geográficas, de topologia submarina e arqueológicas sugerem fortemente que esses são os destroços do famoso navio capitânia de Cristóvão Colombo, o Santa Maria", disse o chefe de uma recente expedição de reconhecimento ao local, um dos principais pesquisadores de arqueologia submarina dos EUA, Barry Clifford. "O governo haitiano tem sido extremamente solícito -- e agora necessitamos continuar trabalhando com ele para executar uma detalhada escavação arqueológica dos destroços", disse ele.

Até agora, a equipe de Clifford fez unicamente trabalho de pesquisa não invasivo no local, medindo-o e fotografando-o.

A identificação provisória dos destroços como sendo do Santa Maria tem sido possível por meio de descobertas bastante separadas entre si, feitas por outros arqueólogos em 2003, sugerindo que a localização do ponto de defesa ou vigília de Colombo estava relativamente próxima. Munido dessa nova informação sobre essa localização, Clifford pôde usar os dados do diário de Colombo para calcular onde os destroços deveriam estar. Uma expedição, feita por sua equipe uma década atrás, já havia encontrado e fotografado os destroços -- mas não havia no entanto, naquele estágio, percebido sua provável identidade. 

Foi um reexame atual das fotografias submarinas feitas naquela investigação inicial (executada em 2003), combinado com dados de recentes mergulhos de reconhecimento feitos no local (realizados pela equipe de Clifford no início deste mês), que permitiu a Clifford identificar provisoriamente os destroços como sendo do Santa Maria. Até agora, as evidências são substanciais. É a localização certa em termos do que Colombo, escrevendo em seu diário, descreveu o ponto do naufrágio em relação ao seu posto de vigilância. 

O local fecha também com o conhecimento histórico existente sobre a topografia submarina associada com a perda do Santa Maria. As correntes locais são também consistentes com o que se sabe historicamente sobre o modo como o navio foi deslocado imediatamente antes de seu desaparecimento. A impressão digital dos destroços, representada pela pilha do lastro da embarcação, está também exatamente onde se esperaria que estivesse em se tratando de um navio do porte do Santa Maria.

Utilizando magnetômetros marinhos, sonares laterais e mergulhadores, a equipe de Clifford tem há vários anos examinado mais de 400 anomalias do fundo do mar ao largo da costa norte do Haiti e reduziu a busca pelo Santa Maria à minúscula área onde foram encontrados os destroços que a equipe acredita que sejam exatamente do navio perdido de Colombo.



Os destroços submarinos que se considera serem do navio capitânia de Cristóvão Colombo - (Foto: Brandon Clifford - Fonte: The Independent).

Um reexame das evidências fotográficas tiradas durante a investigação inicial de 2003 por Clifford e seu filho Brandon forneceram também indicações consistentes com a hipótese de que a embarcação é da época de Colombo -- incluindo um provável canhão antigo, exatamente do tipo dos que se sabe estavam a bordo do Santa Maria.

Quando Clifford e sua equipe retornaram ao local no início deste mês, seu objetivo era identificar de maneira definitiva o canhão e outros artefatos de superfície que haviam sido fotografados em 2003. Mas, infelizmente, todos os objetos visíveis para avaliação -- incluindo o canhão -- haviam sido pilhados por mergulhadores ilegais. "Informamos o governo haitiano de nossa descoberta -- e estamos na expectativa de trabalhar com ele e com outros colegas haitianos para assegurar que o local seja plenamente protegido e preservado. Será uma oportunidade maravilhosa trabalhar com as autoridades haitianas para preservar as evidências e as peças do navio que mudou o mundo", disse Clifford. "Estou confiante em que uma escavação completa dos destroços resultará na primeira evidência arqueológica marinha detalhada já feita da descoberta da América por Colombo". 



Cristóvão Colombo (Alamy) - (Fonte: The Independent).

"Em termos ideais, se as escavações forem bem sucedidas e dependendendo do estado de conservação de qualquer madeira que lá esteja, é possível afinal içar o que lá estiver, preservá-lo de maneira completa e colocá-lo em exposição permanente em um museu do Haiti. Acredito que, tratados dessa maneira, os destroços têm o potencial de desempenhar um papel importante no desenvolvimento adicional da indústria do turismo do Haiti no futuro", disse Clifford.

Barry Clifford, que conversou sobre o local dos destroços com o presidente do Haiti, Michel Martelly, no ano passado, é um dos mais experientes exploradores de sítios arqueológigos submarinos no mundo. Nas últimas quatro décadas ele realizou trabalhos de investigação em dezenas de destroços históricos em diferentes partes do mundo. Foi ele que descobriu e escavou  os primeiros destroços completamente identificados de um navio pirata, o Whydah, em 1984, e mais recentemente descobriu o navio capitânia do Capitão Kidd ao largo de Madagascar.

O Santa Maria foi construído em algum momento na segunda metade do século 15 no País Basco, ao norte da Espanha. Em 1492, Colombo alugou o navio e navegou com ele saindo da costa atlântica do sul da Espanha, via Ilhas Canárias, em busca de uma nova rota ocidental para a Ásia.  

Após 37 dias, Colombo chegou às Bahamas -- mas, exatas dez semanas depois, sua nave capitânia Santa Maria, com ele a bordo, foi arrastada à noite para um banco de recifes ao largo da costa norte do Haiti e teve que ser abandonada. Então, em uma vila nativa próxima, Colombo começou a construir sua primeira fortificação -- e uma semana depois, deixando muitos de seus homens na fortificação, usou seus dois navios restantes para voltar à Espanha para informar aos seus patrões reais -- o rei Fernando e a rainha Isabela da Espanha -- sua descoberta do que entendia ser uma nova rota ocidental para a Ásia.


A jornada fatal do Santa Maria - A rota da primeira viagem de Cristóvão Colombo. Três navios partiram, o Santa Maria foi perdido mas o Nina e o Pinta completaram a viagem. - A primeira viagem: partida: 3 de agosto de 1492 -- retorno: 15 de março de 1493. -- 25 de dezembro - o Santa Maria é destruído.

Um importante arqueólogo marítimo americano, o professor Charles Beeker da Universidade de Indiana, que participou da recente expedição de reconhecimento de Clifford ao Haiti e que também fez uma avaliação visual submarina do local, disse que "isso garante uma investigação científica detalhada para obter peças para diagnóstico". "Há alguma evidência persuasiva a partir da fotos de 2003 do local e dos recentes megulhos de reconhecimento de que esses destroços podem muito bem ser do Santa Maria".

"Mas, será necessária uma escavação para encontrar mais evidências e confirmar isso", disse o professor Beeker, que é diretor do Departamento de Ciência Submarina da Universidade de Indiana.

A investigação dos destroços tem o apoio do canal "History" da TV americana, que adquiriu direitos exclusivos para produzir um grande programa de televisão sobre o assunto.











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