quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Decifrado um texto bíblico em um pergaminho carbonizado do Mar Morto, usando-se tecnologia médica

[O artigo traduzido abaixo, de autoria de Sal Emergui, foi publicado no jornal espanhol El Mundo. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.

Um scanner médico permite reconstruir um manuscrito da Torá em Israel. O pergaminho, da época bizantina, foi encontrado em 1970 após ter ficado enterrado por 1.500 anos.

A madrilenha Beatriz Riestra (37) não esconde sua emoção. Esta pesquisadora do departamento dos Pergaminhos do Mar Morto da Autoridade de Antiguidades de Israel nos mostra o objeto bíblico que é objeto de sua satisfação [ver vídeo no link citado acima]. Trata-se de um pergaminho carbonizado, que esteve enterrado por 1.500 anos e agora ressuscita, luzindo sua silhueta negra no laboratório de Jerusalém.

Graças às novas tecnologias, o documento foi decifrado para surpresa geral. "Decifrá-lo foi um momento muito emocionante e especial", reconhece Riestra. Um feito que parecia impossível desde que em 1970 arqueólogos israelenses o encontraram em Ein Gedi, a 40 km ao sul das cavernas de Qunram. 

Segundo relata a cientista, "são restos encontrados na antiga sinagoga de Ein Gedi, da época bizantina. Os arqueólogos da Universidade Hebraica os localizaram na área que acreditavam ser o local onde se guardavam os pergaminhos da Lei, os pergaminhos do Pentateuco [a coleção dos cinco primeiros livros do Velho Testamento (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio]. Durante 45 anos estiveram guardados, sem que se pudesse fazer nada por eles". Até hoje.

Tecnologia médica

Decifrar um texto tão antigo em um envoltório tão destroçado não teria sido possível sem a técnica da reconstrução digital. Merkel Technologies, a empresa israelense especializada em altas tecnologias para pesquisa, análises e diagnósticos médicos, ofereceu seus equipamentos para tentar decifrar esse pergaminho completamente queimado.

"Fizemos um teste com seu scanner. O técnico trabalhou as imagens e vimos com os com os Raios X que havia uma escrita. Nesse momento não pudemos decifrá-lo porque era uma imagem do tipo especular ou seja, as palavras estavam ao revés, mas vimos claramente que havia ali uma escritura. Pela primeira vez em 1.500 anos, olhos humanos viam o segredo desse pergaminho!", lembra Riestra com emoção.

O processo foi rápido. Após estimar que eram palavras em hebreu, se dirigiram à Universidade de Kentucky, nos EUA, para que o especialista Brent Seales desdobrasse os arquivos em forma virtual.

Depois de quatro meses, tocou o telefone no laboratório de Jerusalém. Era Kentucky do outro lado do aparelho. "Recebemos os resultados. Seales conseguiu desdobrar uma das camadas internas do fragmento e pudemos ler o texto. O que estava escrito em hebreu nessa parte interna era o início do Levítico", afirma Riestra, em alusão ao terceiro livro da Torá. 

"Me pareceu um milagre, porque sinceramente pensei que era impossível. Depois de 1.500 anos enterrado e desde 1970 guardado aqui, não pensávamos que poderíamos decifrá-lo", reconhece a diretora do projeto dos pergaminhos do Mar Morto, Pnina Shor.

Para vários dirigentes israelenses, "é uma prova a mais da profunda ligação do povo judeu com a terra de Israel". Antes de se reunir com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, Shor explicava ao El Mundo: "Contém os oito primeiros versículos do Levítico, que descrevem as regras dos sacrifícios rituais". 

"Depois dos Manuscritos do Mar Morto, é o achado mais significativo de uma Bíblia antiga. É um dos tesouros mais importantes da cultura ocidental. Podemos deixar às gerações futuras não apenas os Manuscritos do Mar Morto, mas também uma parte da Bíblia de uma Arca sagrada de uma sinagoga de 1.500 anos", acrescenta ela.


Os EUA ajudaram a decifrar o texto, escrito em hebraico, após sua reconstrução digital - (Foto: IAA)

"Ein Gedi foi completamente queimada no século VI e nenhum de seus habitantes voltou às suas ruínas para recuperar pertences valiosos", registra o descobridor do pergaminho, Sefi Porat.

"Pela primeira vez se descobre e se decifra um texto da Torá em uma sinagoga tão antiga como Ein Gedi. E, além disso, preenche a obscuridade do que é a transição do texto bíblico", conclui a pesquisadora espanhola recordando o período que vai da descoberta dos Pergaminhos do Mar Morto (do século III ao século I a.C.) até os grandes códices do século X. 

Nada que Riestra pudesse imaginar em 2001 quando, após estudar Filologia Hebraica na Universidade Complutense de Madri, pediu uma bolsa de estudos em Israel. 

[Imagens dos Manuscritos do Mar Morto (fotos do Google)








As três últimas fotos acima são das cavernas de Qunram, onde os manuscritos foram encontrados]

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