quarta-feira, 30 de setembro de 2015

O mundo fantástico das orquídeas (I)

Em matéria de realeza na flora, sou mais a orquídea do que a rosa como rainha das flores. Todas as fotos são do Google.































Atrito diplomático com Israel: Brasil veta colono nomeado embaixador por Netanyahu

[Aleluia! Surge pelo menos uma atitude coerente de Dilma NPS (Nosso Pinóquio de Saia): ela vetou o embaixador designado por Israel para representá-lo no Brasil. A indicação feita por Israel foi no mínimo uma provocação conosco: Dani Dayan, nomeado por Netanyahu, foi líder dos colonos que ocupam terrenos contestados na Cisjordânia (ele próprio reside lá) e presidiu por sete anos a organização de conselhos municipais de assentamentos na Margem Ocidental, que se opõe à criação de um Estado palestino. O Brasil reconheceu o Estado Palestino em 2010. Em sua viagem de três dias ao Oriente Médio em maio de 2014, o Papa rezou na barreira de concreto que Israel construiu dentro e à volta da Margem Esquerda.

A reportagem do site em português do jornal El País, reproduzida a seguir, é de Juan Carlos Sanz.]

A presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, transmitiu por canais diplomáticos sua rejeição à nomeação de Dani Dayan como novo embaixador de Israel em Brasília. A mandatária advertiu o Governo de Benjamin Netanyahu que negará a oficialização caso insista em manter sua designação, já que Dayan reside num assentamento judaico na Cisjordânia e foi dirigente da principal organização dos colonos, que se opõe à criação de um Estado palestino. 

O Ministério de Relações Exteriores de Israel, cujo titular é o próprio Netanyahu, confirmou no último dia 6 a nomeação de Dayan, nascido na Argentina há 59 anos, como embaixador em Brasília. A vice-ministra de Relações Exteriores, Tzipi Hotoveli, defendeu nesta segunda-feira a idoneidade do ex-dirigente dos colonos para o cargo diplomático. “Sua trajetória pública e sua ideologia devem ser uma vantagem, e não uma desvantagem para representar a postura do atual Governo, que apoia nosso direito a assentamentos na Judeia e Samaria [Cisjordânia]”, afirma Hotovely em comunicado citado pela agência EFE.

Mais de 40 organizações brasileiras e vários deputados questionaram o novo enviado de Israel, por simbolizar a ocupação do território palestino que o Brasil não reconhece como israelense. Setores da sociedade israelense também criticaram a nomeação de Dayan. O diplomata Alon Liel, ex-diretor geral no Ministério de Relações Exteriores, justificou na terça sua oposição à designação em declarações à emissora de rádio do Exército. “Em Israel, criou-se quase um consenso de que caminhamos rumo a um Estado único binacional, enquanto no resto do mundo há um claro consenso de que deve haver dois Estados [um israelense e outro palestino]”, argumentou.

Dayan, que entre 2007 e 2013 dirigiu o conselho que agrupa os assentamentos na Cisjordânia, faz parte do partido ultranacionalista Lar Judaico, peça-chave da coalizão liderada por Netanyahu. O principal reduto de votos dessa força política são as colônias dos territórios ocupados, onde vivem 550.000 pessoas, levando-se em conta os assentados de Jerusalém Oriental.


As relações entre o Brasil e Israel pioraram durante os Governos do Partido dos Trabalhadores (PT), que condenaram a violação do direito internacional representada pela ocupação israelense dos territórios palestinos. O Brasil retirou seu embaixador de Israel durante a guerra de Gaza de 2014.
“Israel está centrado no desenvolvimento de relações econômicas com os mercados da América do Sul, com ênfase no Brasil”, disse o primeiro-ministro ao anunciar a nomeação de Dayan em agosto passado. A comunidade judaica brasileira tem entre 100.000 a 120.000 membros, e milhões de cristãos evangélicos brasileiros mostram grande simpatia pelo Estado de Israel, como acontece com os dos EUA.

Dany Dayan, indicado por Israel para ser seu embaixador no Brasil - (Foto: Moti Milrod/Fonte: Haaretz)

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Compras de órgãos públicos tem superfaturamento médio de 17% em relação ao setor privado

[O gigantismo, a ineficiência e a corrupção do Estado brasileiro é patente, mas as perspectivas de melhora infelizmente são escassas. Vejam abaixo um artigo do IBPT - Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação publicado em agosto deste ano.]

Compras de órgãos públicos tem superfaturamento médio de 17% em relação ao setor privado

Estudo do IBPT demonstra que sobrepreço das mercadorias foi de R$ 4,68 bilhões em três anos
Fonte: IBPT
Estudo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação – IBPT, nesta terça-feira, 4, constatou um sobrepreço de R$ 4,68 bilhões nas mercadorias adquiridas pelos entes federais, estaduais e municipais entre os anos de 2012 a 2014. Com isso, o brasileiro precisa trabalhar 32 dias a mais por ano somente para pagar a corrupção e o superfaturamento das compras públicas no País, que é, em média, de 17% em comparação ao setor privado.

O levantamento teve como base a análise de 3 milhões de notas fiscais, emitidas no período de três anos, pelas compras de mercadorias e produtos pelos órgãos públicos nas esferas federal, estaduais e municipais, no valor total de R$ 27,55 bilhões. Para concluir o estudo, o IBPT obteve as informações por meio da Lei de Acesso à Informação ( Lei nº 12.527/2011).
“Entendemos que há uma deficiência do setor público em disponibilizar as informações e estamos nos propondo a entregar um software gratuito, para que possam fazer a análise e o ordenamento dessas informações. Não podemos mais ter essa cultura do sigilo no Brasil”, avaliou o presidente do Conselho Superior e coordenador de estudos do IBPT, Gilberto Luiz do Amaral, durante o lançamento do estudo, em São Paulo.

O estudo concluído pelo IBPT faz parte do Projeto Lupa nas Contas Públicas, que entre outras ações, terá um grupo com representantes de órgãos de controle da administração pública, entidades de classe e da sociedade civil que se reunirão mensalmente para debater e propor soluções para um melhor gerenciamento dos gastos públicos.
Baixe o estudo agora mesmo, clique aqui! [Para ter acesso ao estudo é preciso se cadastrar no site do IBPT, o que pode ser feito através do texto original do artigo acima.]

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Gilberto Kassab e Eduardo Cunha são os políticos que mais utilizaram os jatinhos da FAB neste ano

[Continua a farra de políticos com os jatinhos da FAB, como confirma a reportagem abaixo publicada no site Brasil Post. Os dois envolvidos desta vez nunca foram flores de cheiro suportável, e suas fichas (leia-se "prontuários") de limpas não têm nada.]


O ministro das Cidades, Gilberto Kassab (PSD-SP), e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foram os políticos da capital federal que mais utilizaram os jatinhos da Força Aérea Brasileira (FAB) para viagens de serviço e viagens particulares, segundo levantamento da Band News FM.
De 1º de janeiro a 22 de setembro, eles realizaram 187 e 110 voos, respectivamente.
O político campeão do uso para fins pessoais foi Eduardo Cunha. Ele fez 71 viagens particulares, diz a rádio.
O levantamento calculou que um voo da FAB partindo da capital federal até o Rio de Janeiro — estado de origem do deputado — custa, em média, R$ 60 mil.
O segundo colocado nesse ranking é o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que realizou 22 viagens com essa finalidade.
A Band News calculou que neste ano os políticos que trabalham na capital do País realizaram 2.206 viagens no total usando jatos da FAB.
Outros políticos que se destacaram no uso dos jatinhos foram Aldo Rebelo (PCdoB-SP), ministro da Ciência e Tecnologia, e Aloisio Mercadante (PT-SP) , ministro da Casa Civil.
Ouça mais dados do levantamento aqui.



Caminho Inca, a estrada milenar que ajudou a criar e a destruir um império

[Os incas criaram uma civilização fantástica e admirável, que nos surpreende até hoje com seu alto conteúdo cultural e tecnológico. Isso é mais uma vez comprovado pela reportagem traduzida abaixo, de autoria de Jane O'Brien, da BBC Washington, que foi publicada no site BBC News. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]


O Caminho Inca, construído inteiramente à mão, é uma verdadeira obra de engenharia - (Foto: Doug McMains)

Construtores que morreram há muito tempo têm a resposta para o desenvolvimento rodoviário mais sustentável? Uma nova exposição no Museu Smithsoniano em Washington (EUA) mostra porque o império inca construiu uma infraestrutura duradoura.

O Caminho Inca é uma das obras de engenharia mais extraordinárias do mundo. No século XVI, ajudou a transformar um pequeno reino no maior império do hemisfério ocidental. E, para inveja dos engenheiros modernos, trechos substanciais da rede de 39.000km sobrevivem no dia de hoje, unindo centenas de comunidades através de Argentina, Bolívia, Chile, Equador e Peru. Incrivelmente, ela foi toda construída inteiramente à mão, sem ferro ou transporte com rodas.

Uma exposição no Museu Nacional dos Índios Americanos é o resultado de sete anos de pesquisas, que concluíram que os incas tinham muito conhecimento prático sobre a água.

"Quando se vê Machu Picchu, no Peru -- essa estrutura maravilhosa no topo de uma montanha que milhões de turistas visitam todos os anos -- o que a maioria das pessoas não vê e infelizmente tampouco sabe é que debaixo dela existe uma verdadeira maravilha", diz José Barreiro, um dos curadores da exposição O Grande Caminho Inka (o museu Smithsoniano usa a forma quíchua para a palavra "inca"). [Ver postagem anterior sobre Machu Picchu].

Foto: Doug McMains

As construções de pedra de Machu Picchu estão localizadas sobre um complexo sistema de irrigação de galerias e canais, que controlam o fluxo de água em direção a fontes que funciona ainda hoje. E embora arqueólogos saibam disso há algum tempo, a exposição revela a extensão do conhecimento que os incas possuíam sobre a água e como aplicaram a mesma tecnologia à construção de estradas.

"Todos os anos, a água destrói muitas estradas modernas. Mas, as estradas incas tendem a resistir e sobreviver", diz Barreiro.

José Barreiro diz que as estradas incas tendem a ter uma duração incrivelmente longa - (Foto: AP)

"As construções foram feitas prevendo a possibilidade de eventos sísmicos, e é isso que os engenheiros de hoje têm interesse de estudar -- como podemos nos beneficiar desse conhecimento". 

Sustentabilidade foi a chave para o  sucesso. Os incas eram atentos às condições locais, utilizando materiais locais e trabalhando com a paisagem.

Em terrenos escarpados, construíram degraus para dissipar a energia das águas e conter a erosão. Nas altitudes elevadas, pavimentaram as estradas com pedras locais para proteger a superfície contra o gelo e a neve derretida, e quando necessitavam de muros de contenção deixavam buracos para a drenagem de água.

"Os incas se preocuparam com a preservação do meio ambiente, e as estradas são uma parte da Mãe Natureza", diz Ramiro Matos, chefe dos curadores da exposição e um nativo que fala o quíchua. Ele cresceu transitando pelas estradas incas (também conhecidas como Qhapaq Nan) no altiplano central do Peru, e diz ter uma conexão forte com elas. 

A Unesco declarou o Caminho Inca um Patrimônio da Humanidade em 2014  - (Foto: Smithsonian Institute)

"A estrada não é apenas uma via física", diz ele. "É uma estrada cosmológica, e pessoas de hoje a consideram uma estrada com vida, viva". 

"Os Kallawaya (doutores itinerantes da Bolívia) ainda usam a estrada para caminhar e reciclar suas energias. Eles dizem que a estrada tem um espírito". 

O centro espiritual e a capital do império era Cusco, no sudeste do Peru. Todas as estradas se originavam nessa cidade. Ao longo das rotas, todos os lugares sagrados eram marcados com wakas [uma classe de objetos sagrados]-- afloramentos de pedras, edifícios ou até a confluência de rios, que serviam de altares para a Pachamama (Mãe Terra) ou para Inti (o deus sol). 

Muitas dessas tradições continuam ainda hoje, e parte da exposição explora a maneira pela qual a estrada ainda une povos de diferentes etnias ao longo da vasta região andina. "Contactamos os descendentes dos incas e conversamos com eles sobre como se sentem quanto à estrada e ao seu significado", diz Matos. "Tínhamos a investigação histórica, agora temos a história oral". 


Dois moradores passam pelo Caminho Inca próximo a Jujuy, na Argentina - (Foto: Axel Nielsen)

A exposição revela um lado diferente dos incas, que são mais frequentemente lembrados por seu notório desejo por sangue e sua predileção por sacrifícios humanos. Mas, retratá-los como ambientalistas não nega suas características menos atraentes.

"Não estamos passando a imagem de que há culturas perfeitas", diz Barreiro. "Mas nosso foco foi afastar o macabro e olhar para os outros 90% da vida, como era organizada e a genialidade e o ímpeto dos incas para executar essa tarefa em particular [de construir o Caminho]". 

Ele diz que a sociedade inca era certamente "severa/rigorosa" mas, no seu âmago, era uma filosofia de reciprocidade. Os incas devolviam à natureza o que ela lhes dava, e cada um sabia seu papel na comunidade. "Todo o meio ambiente estava vivo. Tudo, das pedras para os animais, para o cosmos, necessitava de algum tipo de interação com um ser humano, fosse em orações, conectividade ou apreço". 

"Tudo era organizado e regulado pelo Estado. Você tinha os controladores do Caminho, os controladores das pontes e os khipu -- um dispositivo provido de nós que fazia o acompanhamento das pessoas que transitavam pela estrada, dos produtos que por ela circulavam, organizava censos das pessoas e das notícias de todas as partes do império". [Para mais informações sobre os khipus, ver postagem anterior.]

Exemplos de khipus e de 140 outros objetos -- alguns com mais de 2.000 de existência -- estão incluídos na exposição do Smithsoniano para ajudar a ilustrar o desenvolvimento do Caminho Inca e de seus conceitos espirituais. 


Um khipu da era inca, um dispositivo para contabilidade e controle - (Foto: BBC News)


Detalhe de um khipu da era inca - (ver postagem anterior)

Caixa de um fabricante de khipu - (ver postagem anterior)

Mas, ironicamente, foi o Caminho Inca que acelerou o desaparecimento de seus criadores. 

Quando os espanhóis chegaram à costa do Pacífico em 1532, o império estava enfraquecido pelas lutas internas e pela varíola. E a mesma estrada que havia dado aos incas acesso sem precedentes a cada parte de seu reinado, agora permitia o mesmo para os conquistadores espanhóis. 

Em um ano os invasores haviam consolidado seu poder e retirado o poder de Cusco, estabelecendo Lima como a nova capital colonial. O Qhapac Nan foi relegado ao abandono. Rotas que haviam sido vitais para as comunidades incas foram ignoradas pelos espanhóis, que estavam mais  interessados em ter acesso as minas de ouro e prata do império que havia desmoronado. 

Mas o Caminho Inca permanece vivo, combinando história com seu novo propósito.  



   




domingo, 27 de setembro de 2015

Por que o eclipse da superlua neste domingo preocupa a NASA

[A reportagem traduzida abaixo foi publicada pelo site em espanhol BBC Mundo.]


O Satélite de Reconhecimento Lunar foi lançado em 2009 - (Foto: NASA)

Neste domingo à noite e na madrugada de amanhã os habitantes de grande parte do mundo, incluindo o continente americano, terão a oportunidade de desfrutar de um espetáculo pouco usual.

Trata-se de um eclipse total da Lua (no qual a Lua fica completamente às escuras porque a Terra se interpõe entre ela e o Sol) que, além disso, coincide com uma superlua. Esta ocorre quando uma Lua cheia ou nova se encontra em seu ponto mais próximo à Terra.

A última vez que esse estranho posicionamento dos três corpos celestes ocorreu foi em em 1982, e o próximo só ocorrerá em 2033.

Mas, enquanto para os amantes da astronomia esse espetáculo, no qual a Lua adquire uma cor avermelhada, pode ser simplesmente formoso ou emocionante, para os especialistas da NASA é uma pequena dor de cabeça.

Sem luz por três horas

Por que isso? Porque eles receiam que a falta de luz solar possa deixar sem energia uma de suas naves espaciais mais importantes: o Lunar Reconaissance Orbiter (Satélite de Reconhecimento Lunar) (LRO na sigla em inglês), cuja missão é explorar nosso satélite natural.

A Lua ficará avermelhada porque sua superfície estará iluminada por raios que "quicam" na atmosfera terrestre - (Foto: Reuters)

"Há duas coisas que ocorrem durante um eclipse: começa a fazer frio e não há sol para carregar as baterias", explica à BBC Noah Petro, cientista da agência espacial americana. 

Diagrama do eclipse total da Lua - (Fone: Google)

O eclipse total durará mais de uma hora, "e a nave ficará sem luz direta do Sol por cerca de três horas". Tecnologias similares anteriores apresentaram dificuldades durante eclipses, mas o LRO foi projetado especificamente levando isso em conta. 

Como um celular

Como a sonda espacial recarrega suas baterias, durante o eclipse a NASA deverá tomar uma série de precauções. "Preaquecemos a nave e logo desligamos os instrumentos para mantê-la segura. É como um celular, quando me chega um alerta de que me restam uns 2o% de bateria: posso desligar o wifi ou cetas aplicações que ficam abertas no fundo", explica Noah. 

"Antecipamos que tudo acontecerá sem problemas durante o eclipse, e nos recuperaremos dele sem inconvenientes. Estamos preparados para isso e prontos para resolver o que ocorrer. Ficaremos dependentes dos níveis de carga das baterias e preparados para reagir se algo não sair de acordo com o planejado. Vamos fazer todo o possível para que a nave atravesse o momento do eclipse e saia em boa forma", acrescentou o especialista. 

Por sua parte, Dawn Myers, do centro de voos espaciais Goddard da NASA, disse em um comunicado: "Sempre é estressante quando o eclipse está chegando, mas seguimos os mesmos procedimentos e não temos tido nenhum problema". 

É preciso também ter em mente que essa sonda da NASA já lidou com êxito com três eclipses lunares nos últimos 17 meses. 

Quem estiver acordado durante a noite de domingo e a madrugada da segunda-feira poderá ver uma Lua maior do que o normal, por causa de sua proximidade. De fato, ela estará cerca de 14% maior e cerca de 30% mais brilhante do que a Lua cheia normal.  



sábado, 26 de setembro de 2015

O latim na nossa vida (VI) (O a P)

Ver postagem anterior. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.

Oculus domini saginat equum -- "O olho do dono engorda o cavalo". Provérbio. Também se usa: "O olho do dono engorda o porco". [Dizemos mais comumente "O olho do dono engorda o boi (ou o gado)".]

Oderint, dum metuant -- "Odeiem-me, contanto que me temam". Frase de Ácio no drama Atreu, citada por Cícero (Dos Deveres, Livro I, 28, 97). Segundo Suetônio, era o lema do imperador Calígula.

Omnis ars imitatio est naturæ -- "Toda arte é imitação da natureza" (Sêneca, Epístola LXV, 3).

Onus probandi -- "O ônus da prova", "A obrigação de provar". Essa obrigação, em Direito, cabe ao acusador e não ao acusado. 

Opere citato -- "Na obra citada". Emprega-se para citar obra já citada antes. Abreviatura: o.c.

Opus -- "Obra". Usa-se em relação à obra musical que foi classificada e numerada. Abreviatura: op.

Opus Dei -- "Obra de Deus". Associação internacional de católicos, leigos e padres, fundada em Madri em 1928, cujos membros se dedicam a procurar a perfeição cristã dentro de seu estado de vida e no exercício de sua profissão. [Na realidade, a  Prelazia da Santa Cruz e Opus Dei (em latimPraelatura Sanctae Crucis et Opus Dei) é uma instituição hierárquica da Igreja Católica, uma Prelazia Pessoal, composta por leigos, casados, solteiros e sacerdotes. Tem como finalidade participar da missão evangelizadora da Igreja, e procura difundir a vida cristã no mundo, no trabalho e na família, a chamada universal à santidade e o valor santificador do trabalho quotidiano. Foi fundada no dia 2 de outubro de 1928 por São Josemaría Escrivá de Balaguer, sacerdote espanhol canonizado em 2002.  No dia 28 de novembro de 1982 o papa João Paulo II através da Constituição Apostólica Ut Sit constituiu a Opus Dei como Prelazia Pessoal. A Opus Dei tem sido frequentemente acusada de ser um instrumento político da Igreja Católica, e de ser usuária de práticas abusivas diversas contra seus membros (ver: "Dentro do Opus Dei"; "A vida íntima do Opus Dei"). A instituição tem sido criticada por seu caráter sigiloso, por seus métodos controvertidos de recrutamento, as regras severas de controle de seus membros, elitismo, misoginia, e apoio a, ou participação em, governos autoritários ou de extrema-direita, especialmente no caso do governo franquista da Espanha até 1978. A mortificação por flagelação do corpo, praticada por alguns de seus membros, também é criticada. Dentro da Igreja Católica também é criticada, por alegadamente buscar independência e mais influência.]

Ora pro nobis -- "Ora por nós". 

Oratio vultus animi est -- "O discurso é o rosto da alma" (Sêneca, Epístola CXV, 2). Variante: Oratio cultus animi est, "O discurso é o ornato da alma". Primeira formulação da sentença de Buffon, Le style c'est l'homme. [Georges-Louis Leclerc, conde de Buffon (Montbard7 de Setembro de 1707 - Paris16 de Abril de 1788) foi um naturalistamatemático e escritor francês. As suas teorias influenciaram duas gerações de naturalistas, entre os quais se contam Jean-Baptiste de Lamarck e Charles Darwin. A localidade de Buffon, na Côte-d'Or, foi o senhorio da família Leclerc. A célebre sentença citada faz parte do discurso de Buffon -- conhecido como "Discurso sobre o estilo"-- ao tomar posse na Academia Francesa em 25/8/1753.]

O tempora, o mores! -- "Ó tempos, ó costumes". Exclamação de Cícero na Iª Catilinária contra a corrupção de seus contemporâneos.

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Pacem in terris -- "Paz sobre a Terra". Primeiras palavras de uma encíclica do Papa João XXIII, datada de 11 de abril de 1963, sobre "a paz para todos os povos na verdade, na justiça, na caridade e na liberdade", e que assim começa: Pacem in terris quam homines universi cupidissime quovis tempore appetiverunt condi confirmarique non posse constat nisi in ordine quem Deus constituit sancte servato, "A paz sobre a Terra, que os homens de todos os tempos sempre cobiçaram, só pode fundamentar-se e fortalecer-se na (observância da) ordem estabelecida por Deus".

Panem et circenses -- "Pão e circo". Eram, segundo Juvenal (Sátira X, 81), as duas únicas coisas que interessavam ao povo romano de sua época (sécs. I e II d.C.). [Décimo Júnio Juvenal (em latim Decimus Iunius Iuvenalis; Aquino, entre 55 e 60  Roma, depois de 127), foi um poeta e retórico romano, autor das SátirasOs detalhes da vida do autor são obscuros, embora referências aos seus textos feitas no final do século I e começo do século II fixem as datas mais remotas de seus textos. De acordo com o poeta Lucílio - o criador do gênero satírico romano - e também de tradições poéticas que incluem Horácio e Pérsio, Juvenal escreveu pelo menos 16 poemas em hexâmetro dactílico cobrindo de forma enciclopédica os fatos do mundo romano. Apesar de as Sátiras serem uma fonte vital para o estudo da Roma Antiga a partir de um vasto conjunto de perspectivas, as suas hipérboles e a sua maneira sarcástica de se expressar fazem com que a utilização de suas declarações seja um fato problemático, para dizer o mínimo. À primeira vista, a obra poderia ser entendida como uma crítica ao paganismo de Roma, talvez tentando garantir sua sobrevivência dentro da monástica cristã - um estrangulamento na preservação dos textos antigos, onde a maioria dos textos antigos foi perdida.]

Pari passu -- "A passo igual"; "acompanhando lado a lado"; a par; a par e par; par e par.

Parturient montes, nascetur ridiculus mus -- "As montanhas estarão com as dores do parto, (mas) nascerá (apenas) um ridículo camundongo". Verso de Horácio [Quinto Horácio Flaco] (Arte Poética, 139), em que ele aconselha aos poetas não fazerem ao público grandiosas promessas que depois não poderão cumprir. Usa-se, em geral, por alusão a uma grande expectativa não justificada pelo acontecimento. "Tal a certeza que tem da perfeição e da integridade da sua obra. São os rumores da montanha de Horácio. Vejamos quid nascetur". Labieno, Vindiciæ.

Pater familias -- "Pai de família, chefe da casa".

Patria potestas -- "O pátrio poder".

Pauca, sed bona -- "Poucas coisas, mas boas". Expressão usada para elogiar a qualidade por oposição à quantidade.

Pax romana -- "A paz romana", isto é, aquela que os antigos romanos impunham pelas armas aos povos vencidos.

Pax tecum  -- "A paz (seja) contigo".

Pax vobisPax vobiscum -- "A paz seja convosco". Saudação cristã, originária da tradução latina do Gênese (43, 23).

Pedibus timor additit alas -- "O medo acrescentou asas aos pés"(Virgílio, Eneida, Livro VIII, 224). [Públio Virgílio Maro ou Marão (em latimPublius Vergilius MaroAndes15 de outubro de 70 a.C. — Brundísio21 de setembro de 19 a.C.) foi um poeta romano clássico, autor de três grandes obras da literatura latina, as Éclogas (ou Bucólicas), as Geórgicas, e a Eneida. Uma série de poemas menores, contidos na Appendix vergiliana, são por vezes atribuídos a ele.]

Per ardua ad astra -- "Por (caminhos) árduos aos astros". Lema da R. A. F. (Royal Air Force) da Inglaterra.

Per ardua surgo -- "Ergo-me entre dificuldades". Divisa do Estado da Bahia.

Per capita -- "Por cabeça", isto é, "por pessoa".

Perfidia quam Punica -- "Perfídia mais que púnica". Frequentemente os romanos acusavam de deslealdade e perjúrio os penos ou cartagineses, seus piores inimigos e rivais. Ver Punica fides.

Peric(u)la timidus etiam quæ non sunt videt -- "O tímido vê até perigos que não existem"(das Sentenças de Publílio Siro).

Periculum in mora -- "O perigo (está) na demora", isto é, "A demora é perigosa" (Lívio, História Romana, XXXVIII, 95, 13). [Tito Lívio (em latimTitus LiviusPádua, c. 59 a.C. — Pádua, 17), conhecido simplesmente como Lívio, é o autor da obra histórica intitulada Ab urbe condita ("Desde a fundação da cidade"), onde tenta relatar a história de Roma desde o momento tradicional da sua fundação 753 a.C. até ao início do século I da Era Cristã, mencionando desde os reis de Roma, tanto os primeiros como os TarquíniosDe origem humilde, a base de sua educação foi o estudo de filosofia. Graças à sua competência profissional como escritor, adquiriu uma situação econômica confortável. Cresceu em meio às guerras civis que assolaram a Itália antes e depois da morte de Júlio César, e que se encerraram com a vitória de Otávio, futuro imperador Augusto, na Batalha de Áccio (31 a.C.). Talvez esse tenha sido o motivo de Tito Lívio não ter estudado na Grécia, como era comum entre os romanos cultos. Estabeleceu-se em Roma no ano de 30 a.C. e, nesse lugar, adquiriu grande prestígio junto a Augusto, sendo nomeado preceptor do jovem Cláudio, futuro imperador. Apesar disso, manteve-se isolado da política e do círculo de literatos que rodeava o imperador e que incluía VirgílioHorácio e Ovídio, e, graças a essa independência, pôde expressar suas próprias idéias. Faleceu em Pádua no ano de 17 d.C. Nos últimos quarenta anos de sua vida dedicou-se à narrativa da História de Roma, desde a sua fundação até o ano de 9 d.C. Essa obra, denominada Ab Urbe condita libri (Desde a fundação da cidade.), é composta por 142 livros, dos quais apenas 35 chegaram até nós. Foi uma realização impressionante em tamanho e abrangência, tornando-se posteriormente um clássico e influenciando a historiografia produzida até o século XVIII — grandes influências foram sentidas em Nicolau MaquiavelAlexis de Tocqueville e Montesquieu. Para escrever sua obra, Tito Lívio recorreu a diversos textos escritos por historiadores anteriores, dos quais a maioria dos textos sobreviveu apenas em pequenos fragmentos. Contudo, em boa parte da quarta e quinta década de Tito Lívio (ou, seja, dos livros 30 até 45) podemos ver a utilização direta da obra do grego Políbio como fonte, o que nos permite fazer hoje comparações metodológicas importantes a respeito da forma de se escrever história no mundo antigo.]

Per incuriam -- "Por falta de cuidado". Expressão forense.

Perinde ac cadaver -- "Tal qual um cadáver". Maneira por que os jesuítas, segundo as Constituições de Santo Inácio de Loiola, devem obedecer a seus superiores.

Per omnia sæcula sæculorum -- "Até o fim dos séculos", equivalente enfática de "Para sempre". Tradução latina de uma locução hebraica da Bíblia.

Perpetuum mobile -- "O movimento perpétuo".

Per se -- "Por si"; "naturalmente". "Por mais que Gregory insista em negar ao clima tropical a tendência para produzir per se sobre o europeu do Norte efeitos de degeneração ... grande é a massa de evidências que parecem favorecer o ponto de vista contrário". Gilberto Freyre, Casa-Grande e Senzala, cap. I).

Persona grata -- "Pessoa grata". Diz-se, em linguagem diplomática, de pessoa bem acolhida pelo governo junto ao qual é acreditada.

Persona non grata -- "Pessoa não grata", o oposto de persona grata. "Lon Nol afirmou que o Príncipe Norodon Sihanouk encontra-se desaparecido após ser declarado persona non grata pelo novo governo". O Globo, 12 de setembro de 1977.

Pessima respublica plurimæ leges -- "O pior Estado (é o que tem) mais leis". Ditado.

Pessimum inimicorum genus laudantes -- "Os aduladores, a pior espécie de inimigos" (Tácito, Vida de Agrícola, XI, 1). [Públio (CaioCornélio Tácito (em latim Publius (Gaius) Cornelius Tacitus) ou simplesmente Tácito, (55 — 120) foi um historiadororador e político romano. Ocupou os cargos de questorpretor (88), cônsul (97) e procônsul da Ásia (aproximadamente 110-113). É considerado um dos maiores historiadores da Antiguidade. Escreveu por volta do ano 102 um Diálogo dos oradores e depois, Sobre a vida e o caráter de Júlio Agrícola, um elogio ao seu sogro, que havia sido um eminente homem público durante o reinado de Domiciano e que havia completado, como general, a conquista da Britânia, além de ter feito uma expedição à Escócia. Suas obras principais foram os Annales ("Anais") e as Historiae ("Histórias"), que tinham por tema, respectivamente, a história do Império Romano no primeiro século, desde a morte de Augusto e a chegada ao poder do imperador Tibério até à morte de Nero (Annales), e da morte de Nero à de Domiciano (Historiae).]

Pia fraus -- "Fraude piedosa" (Ovídio, Metamorfoses, Livro IX, 711). Diz-se em relação a um logro perpetrado com boa intenção. 

Piscem natare doces -- "Ensinas o peixe a nadar", expressão proverbial que corresponde ao nosso "Ensinar o padre-nosso ao vigário". 

Placebo -- "Agradarei". Medicamento inerte ministrado com fins sugestivos ou morais. Aportuguesado.

Plus ultra -- "Mais além". Lema de Carlos V, derivado da expressão Nec plus ultra, para lembrar que os navios da Espanha transpuseram os limites do mundo conhecido dos antigos.

P.M. -- Abreviatura de Post meridiem

Pollice verso -- "Com o polegar virado (para o peito)". Virar o polegar [para o peito] era o sinal com que os espectadores dos jogos de circo pediam a morte dos gladiadores vencidos.

Pontifex maximus -- "Sumo Pontífice". Título dado ao principal sacerdote na Roma pagã (onde cabia aos sacerdotes construir pontes; daí o nome de pontifex, "construtor de ponte"). Modernamente, em sentido figurativo, o Papa.

Populorum progressio -- "O desenvolvimento dos povos". Primeiras palavras de uma encíclica do Papa Paulo VI, datada de 26 de março de 1967, sobre a promoção do desenvolvimento, e que assim começa: Populorum progressio, qui maxime ab injuria famis, egestatis, morborum domesticorum, ignoratione rerum abesse nituntur; qui largiorem honorum societatem ab humanitate vitæ profectorum expetunt, atque humanas suas proprietates postulant in opere ipso pluris æstimari; qui denique ad majora incrementa constanter mentes intendunt: horum videlicet populorum progressio a catholica Ecclesia alacri et erecto animo spectatur, "O desenvolvimento dos povos, particularmente daqueles que labutam para libertar-se da fome, da penúria, das doenças endêmicas, da ignorância; daqueles que reclamam uma participação maior nos frutos da civilização, uma valorização mais ampla de suas qualidades humanas; daqueles que decididamente visam uma realização mais plena -- o desenvolvimento desses povos constitui objeto de pressurosa atenção por parte da Igreja Católica".

Post Christum (natum) -- "Depois (do nascimento) de Cristo".

Post meridiem -- "Depois do meio-dia". Expressão com que se designam as horas entre meio-dia e meia-noite. Usa-se também abreviado em p.m. Antônimo: Ante meridiem

Post mortem -- "Depois da morte".

Post mortem nihil est ipsaque mors nihil -- "Depois da morte não há nada, e a própria morte nada é" (Sêneca, As Mulheres de Tróia, Ato II, 2, 397).

Post scriptum -- "Pós-escrito". Abrevia-se P.S.

Præmonitus, præmunitus -- "Avisado, precavido", isto é, "um homem prevenido vale por dois". Provérbio.

Primo -- "Em primeiro lugar".

Primus inter pares -- "Primeiro entre iguais". Título de um poema de José Bonifácio, o Moço, dedicado a Artur Silveira da Mota, Barão de Jaceguai. 

Pro aris et focis -- "Pelos (nossos) altares e (nossos) lares". Expressão com que Cícero (Da Natureza dos Deuses, Livro III, 40, 49) se refere à luta pela defesa da pátria.

Probatum est -- "Está provado". Fórmula usada nos antigos receituários.

Procastinare Lusitanum est -- "Procrastinar é português". Citado por Eça de Queiroz em A Ilustre Casa de Ramires, cap. I.

Procul a Jove, procul a fulmine -- "Longe de Júpiter, longe do raio". Provérbio. Quanto mais se vive longe dos poderosos, mais se tem uma vida tranquila. Também se usa: Procul a Jove, procul a fulgure

Pro forma -- "Por (mera) formalidade"; "formalmente". 

Pro labore -- "Pelo trabalho". Usado substantivamente para indicar remuneração paga pela execução de determinada tarefa.

Pro lege, rege, grege -- "Pela lei, pelo rei, pelo povo". Lema de Guilherme de Orange.

Pro memoria -- "Para memória". Usado como substantivo no sentido de "lembrete", "memorando". 

Proprio motu -- -- Ver Motu proprio

Proprium humani ingenii est odisse quem leaseris -- "É próprio da alma humana odiar a quem ofendeu" (Tácito, Vida de Agrícola, 42).

Pro rata -- "Em proporção".

Prosit -- "Faça-lhe proveito", isto é, "À sua saúde". Brinde usado sobretudo por alemães. 

Proximus sum egomet mihi -- "O mais próximo de mim sou eu" (Terêncio, A Moça de Andros, Ato IV, 635). [Públio Terêncio Afro, em latim Publius Terentius Afer (Cartago, ca. 195 a.C.-185 a.C.  Lago Estínfalo, ca. 159 a.C.), foi um dramaturgo e poeta romano, autor de pelo menos seis comédias: Andria (A moça de Andros), Hecyra (A Sogra), Heaautontimorumenos (O Punidor de Si Mesmo), Eunuchus (O Eunuco), Phormio (Formião) e Adelphoe (Os Dois Irmãos).]

Pulvis es et in pulverem reverteris -- -- Ver Memento, homo quia pulvis ... 

Punica fides -- "Fé púnica", isto é, "má-fé", "perfídia". Os romanos acusavam os penos ou cartagineses, seus concorrentes e inimigos, de não cumprirem acordos.