sábado, 16 de agosto de 2014

Urinoeletricidade, a novidade mais recente em energia renovável?

[Depois das fezes, parece que a urina pode se tornar mais uma fonte de energia renovável, como nos informa a revista inglesa The Economist em artigo que traduzo a seguir.] 

Energia de xixi

Ir ao mictório pode recarregar um smartphone



Parte de uma possível usina urinoelétrica -- (Foto: Reprodução/Fonte: Olhar Digital)

"Urina e fezes para você são pão e manteiga para mim", explica um suspeito gerente de rede de esgoto em um dos romances policiais de Reginald Hill. E ele não é o único a pensar assim. A Equipe de Bioenergia chefiada por Ioannis Ieropoulos no Laboratório Bristol de Robótica (BRL, na sigla inglesa) na Inglaterra espera tirar também proveito utilizando parte desse material.  Ela desenvolveu uma tecnologia nova para transformar urina em energia elétrica -- ou "urinoeletricidade", como a denominaram.

As pessoas ao redor do mundo produzem cerca de 6,4 trilhões de litros de urina por ano. O BRL, uma cooperação entre a Universidade de Bristol e a Universidade do Oeste da Inglaterra, quer tirar o máximo proveito dessa fonte abundante. No cerne da urinoeletricidade estão células combustíveis microbianas (MFCs, na sigla inglesa), que contêm micróbios vivos. Quando a urina flui através de uma MFC os micróbios a consomem, como parte de seu processo metabólico normal. Isto, por sua vez, libera elétrons. Eletrodos dentro da célula agrupam esses elétrons e, quando eles são conectados a um circuito externo, gera-se uma corrente.

A equipe do BRL montou, em uma única unidade, uma série de MFCs do tamanho de um charuto. Acoplando essa unidade a um duto de saída de um mictório permitiu que urina fresca circulasse pelas células. Neste contexto, "fresca" significa urina de não mais de uma semana de idade, colhida de um indivíduo saudável de altura e peso médios. Testes anteriores haviam alimentado as MFCs com restos de comida, insetos mortos e pedaços de grama, mas a urina gerou uma energia três vezes maior do que quaisquer outros dejetos.

Por que a urina funciona tão bem?  O Dr. Ieropoulos acredita que nos testes anteriores os micróbios ficaram saciados rapidamente com a dieta pesada, porque o material utilizado continha uma proporção elevada de matéria orgânica. O baixo nível de carbono na urina, combinado com acidez e condutividade elétrica favoráveis, fez toda a diferença. Enquanto os testes anteriores geraram uma energia baixa, mínima, a urina gerou energia suficiente para recarregar baterias disponíveis comercialmente, incluindo as baterias de celulares.

Isso é apenas o começo, mas o trabalho -- que está sendo apoiado por várias organizações, incluindo a Fundação Gates -- mostra que a urina pode ter o potencial de fazer uma contribuição importante para o setor de energias alternativas. Pode gerar também um incentivo comercial para a construção de mais toaletes -- mais de 2,5 bilhões de pessoas ao redor do mundo não têm acesso a esse recurso sanitário. O Dr. Ieropoulos e sua equipe planejam agora o potencial das fezes como uma possível fonte de energia. Elas têm um nível de carbono mais elevado, mas os cientistas acham que esse pode ser um preço aceitável a ser pago por uma disponibilidade abundante e uma cadeia de suprimento autorregulatória.

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