quarta-feira, 5 de março de 2014

Porque a Suécia tem tão poucas mortes no trânsito

[Em 2010, o Brasil teve 40.610 mortos no trânsito. Em 2012, esse número subiu para 43.000 -- um acréscimo de 5,9% -- o que nos colocou no quarto lugar no ranking mundial nessa estatística trágica. Em 2012, a cada hora morreram quase 5 brasileiros no trânsito. Na Suécia, no ano passado, morreram 264 pessoas em acidentes de trânsito -- para uma população 20,8 vezes maior que a sueca (198 milhões contra 9,5 milhões) tivemos 162,9 vezes mais acidentes fatais de trânsito que eles. É mais do que evidente que há algo de muito errado conosco, também nesse quesito. A reportagem traduzida abaixo foi publicada na revista inglesa The Economist em 26 de fevereiro passado. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]


Foto: Rex Features - Fonte: The Economist

No ano passado, 264 pessoas morreram em acidentes de trânsito na Suécia, um valor baixo recorde. Embora o número de carros em circulação e a quilometragem rodada tenham ambos mais que duplicado desde 1970, o número de mortes no trânsito caiu em mais de 80% no mesmo período. Com apenas três de cada 100.000 suecos morrendo no trânsito por ano, comparados com 5,5 por 100.000 na União Europeia, 11,4 nos EUA e 40 na República Dominicana, que tem o trânsito mais mortífero do mundo, as pistas [ruas e rodovias] suecas tornaram-se as mais seguras do planeta [contra 22 por 100.000 no Brasil]. Outros lugares, como a cidade de Nova Iorque, estão tentando copiar seu êxito. Como a Suécia conseguiu isso?

Depois de alcançarem um pico em acidentes fatais nos anos 1970, os países ricos melhoraram muito na redução dos acidentes de trânsito. Os países pobres, ao contrário, têm visto um aumento na taxa de mortalidade nesse setor, em decorrência do aumento na venda de carros. Em 1997, o parlamento sueco converteu em lei um plano de "Visão Zero", prometendo acabar de uma vez com os acidentes fatais e as lesões no trânsito. "Nós simplesmente não aceitamos mortes e lesões em nossas pistas de trânsito", diz Hans Berg, da agência nacional de transportes. Os suecos acreditam -- e agora confirmam isso -- em que podem ter mobilidade e segurança ao mesmo tempo.

Planejamento desempenhou o papel mais importante na redução de acidentes. As pistas de rolamento na Suécia são construídas com a segurança tendo prioridade sobre velocidade ou conveniência. Limites de velocidade baixos em áreas urbanas, zonas de pedestres, e barreiras que separam carros de bicicletas e de trânsito em sentido contrário também contribuíram para isso. Calcula-se que a construção de 1.500 km de pistas "2+1" -- em que cada faixa de trânsito usa desvios para utilizar uma faixa central para ultrapassagem -- tenha salvado cerca de 145 vidas na primeira década do Visão Zero. E 12.600 cruzamentos mais seguros -- incluindo passarelas para pedestres, e zebras ladeadas por luzes pisca-pisca e protegidas por lombadas redutoras de velocidade -- são considerados como tendo reduzido à metade o número de mortes de pedestres nos últimos 5 anos. Policiamento rígido também ajudou: hoje, menos de 0,25% dos motoristas testados estão acima do limite de álcool permitido. Mortes de crianças abaixo de 7 anos no trânsito também despencaram: em 2012 houve apenas uma, comparada com 58 em 1970. [Há 50 anos atrás, quando estagiei na Suécia, conheci um brasileiro que se viu forçado a deixar o país para não ser processado e condenado por ter sido apanhado dirigindo bêbado. Na mesma época, nas proximidades de locais de festas no final das noitadas era comum ver pessoas na beira das calçadas balançando as chaves dos seus carros -- eles preferiam passar o volante para um estranho, do que ser apanhados dirigindo bêbados. Evidentemente, tudo isso só funciona numa sociedade com altíssimo grau de educação, onde a Lei é realmente igual para todos e é aplicada implacavelmente, e a segurança é máxima -- tudo ao contrário do que acontece por aqui.]

Os suecos conseguirão atingir sua meta de "zero acidentes"? Os defensores da segurança no trânsito são confiantes em que isso é possível. Com as mortes reduzidas pela metade desde 2000, eles estão bem nesse caminho. O próximo passo será será reduzir ainda mais o erro humano, por exemplo através de carros que alertam contra o dirigir bêbado por meio de bafômetros embutidos no veículo. Seria também útil para isso a implementação mais rápida de novos sistemas de segurança, como por exemplo alertas contra aumento de velocidade ou cintos desafivelados. E por fim, os carros podem se livrar completamente dos motoristas. Isto pode não estar tão distante como parece: a Volvo, um fabricante de carros, testará um programa piloto de carros sem motoristas em Gothenburgo em 2017 em parceria com o Ministério dos Transportes. Sem motoristas erráticos, os carros podem finalmente transformar-se no meio de transporte mais seguro.

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