quinta-feira, 27 de março de 2014

Má notícia para a NSA e os censores chineses: o Google está criptografando suas buscas em escala global

[A notícia parcialmente traduzida abaixo foi publicada em 12/3 no blogue The Switch do jornal The Washington Post. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

O Google começou, rotineiramente, a criptografar suas buscas na China, colocando um audacioso desafio novo para o poderoso sistema desse país de fazer censura na Internet e rastrear o que os usuários estão vendo online individualmente. 

A empresa diz que essa iniciativa faz parte de uma expansão global da tecnologia de privacidade, projetada para frustrar ou impedir a espionagem dos serviços de inteligência governamentais, da polícia e de hackers que, com ferramentas amplamente disponíveis, podem ver emails, atividades de busca e conversas (chats) por vídeos se seus conteúdos estiverem desprotegidos.

A Grande Firewall da China, como o sistema chinês de censura é conhecido, há tempo vem interceptando as atividades de busca à cata de informação que considera politicamente sensível. O uso crescente de criptografia pelo Google no país significa que os monitores do governo ficam incapacitados de detetar quando os usuários usam em suas buscas nomes sensíveis como "Dalai Lama" ou "Tiananmen Square", porque a criptografia faz com que eles apareçam como sequências indecifráveis de números e letras. 

A China -- e outras nações, como a Arábia Saudita e o Vietnam, que fazem censura da Internet em nível nacional -- tem ainda a opção de bloquear completamente os serviços de busca do Google. Mas, será mais difícil para os governos fazer a filtragem de conteúdo por meio de termos específicos. Especialistas dizem que eles terão também mais dificuldade para identificar quais pessoas estão buscando informação sobre assuntos sensíveis. 

A iniciativa [do Google] é a consequência mais recente -- e talvez a mais inesperada -- da divulgação feita por Edward Snowden no ano passado de documentos da Agência Nacional de Segurança dos EUA (NSA, na abreviatura inglesa) que detalhavam a extensão da espionagem do governo na Internet. O Google e outras empresas tecnológicas responderam com novos e vultosos investimentos em criptografia em escala mundial.

As autoridades chinesas não responderam a perguntas sobre a decisão do Google de, rotineiramente, criptografar as buscas no país, mas essa iniciativa deve aumentar as tensões há tempo existentes entre a empresa tecnológica americana e a nação mais populosa do planeta.

"Não importa a causa, isso ajudará os internautas chineses a acessar informações que nunca viram antes", disse Percy Apha, cofundador da GreatFire.org, uma organização ativista que monitora a Great Firewall da China. "Isso será uma enorme dor de cabeça para as autoridades censoras chinesas. Esperamos que outras empresas sigam o Google, tornando a criptografia um padrão".

Alpha, que como outros membros do grupo usa um pseudônimo para escapar das autoridades chinesas, comentou que o Google começou a criptografar as buscas na China mais de dois meses depois que a GreatFire o desafiou publicamente a agir dessa maneira em um artigo opinativo publicado no jornal inglês The Guardian em novembro. Esse artigo surgiu em resposta a uma fala do diretor-executivo do Google Eric Schmidt, na qual ele disse: "Podemos acabar com a censura do governo em uma década", expandindo a criptografia. A GreatFire.org disse que a empresa não precisava esperar 10 anos -- ela poderia criptografar todas as buscas na China muito antes disso.

O Google negou que a movimentação da GreatFire tivesse algo a ver com o lançamento da tecnologia de criptografia na China, dizendo que isso se iniciou em fevereiro por razões outras. Todas as buscas feitas através dos navegadores mais modernos serão criptografadas nos meses vindouros. A empresa informou que ainda não está clara a data em que esse processo será concluído em escala mundial.

(...) O Google retirou-se em grande escala da China em 2010, transferindo muitas de suas operações para a base quase autônoma de Hong Kong depois de recusar-se a cumprir as as ordens para censurar as pesquisas, ou redirecioná-las para sites escolhidos -- algo que seus concorrentes que permaneceram na China ainda fazem.

Desde então, a fatia do Google no mercado chinês encolheu para o valor baixo de 5%, de acordo com a empresa de pesquisas de mercado Marbridge Consulting, sediada em Pequim. A grande maioria dos internautas do país usa a ferramenta de busca chinesa do Baidu, mesmo em celulares que rodam com o Android do Google. Isso significa que o efeito do uso ampliado da criptografia pelo Google será limitado em seu alcance, já que os usuários do Google na China -- tipicamente, pessoas tecnologicamente bem informadas e jovens -- já sabem como baipassar a Freat Firewall.

O Google começou a oferecer a busca criptografada como uma opção para certos usuários em 2010, e tornou automática a proteção para muitos usuários nos EUA em 2012.  (...) A Microsoft e a Yahoo logo o acompanharam nessa iniciativa.  A busca criptografada surgiu mais lentamente em outras partes do mundo, especialmente para aqueles que utilizam navegadores mais antigos. Firefox, Safari e o navegador do próprio Google, o Chrome, dão suporte à criptografia automática, o que não ocorre com gerações mais antigas do Internet Explorer da Microsoft -- ainda popular na China e em boa parte do mundo. O Internet Explorer 6, lançado inicialmente em 2001 e não comporta as buscas criptografadas do Google, é usado por 16% do tráfego da Internet chinesa, de acordo com a NetMarketShare.com. que rastreia esse tipo de uso.

(...) Os defensores da privacidade, que há tempo criticam o Google, disseram que seu uso crescente da criptografia não terá efeito nenhum para frear o rastreamento que o próprio Google faz das visitas de site, e-mails e solicitações de busca de seus usuários. Essa informação ajuda a empresa em sua propaganda direcionada, sua principal fonte de receita.

(...)


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