A espessa camada de poluição, com níveis classificados de "muito perigosos", que há uma semana afeta regiões do norte e do centro da China -- entre elas Pequim (ou Beijing, como querem alguns) -- mantém muitas pessoas trancadas em suas casas, as crianças sem poder sair aos pátios das escolas e fábricas com produção suspensa ou reduzida. Nesta quarta-feira, a capital chinesa viveu seu sexto dia de alerta laranja pela poluição -- o segundo nível mais alto, numa escala de quatro -- desde que foi decretado pela primeira vez na cidade na sexta-feira passada. Pequim se asfixia envolta em uma neblina tóxica cinza, que esconde os edifícios e fez com que se esgotassem as máscaras protetoras no comércio e nas páginas da internet.
Turistas se protegem com máscaras contra a poluição em Pequim - (Foto: Rolex de la Pena/Efe - Fonte: El País).
Mas, a poluição grave habitual na China [ver postagens anteriores que abordam a poluição chinesa, uma de 01/11/2013 e a outra de 03/3/2011], que provoca a morte prematura de milhares de pessoas no país a cada ano e fez piorar o número de vítimas de câncer de pulmão na capital, tem outros efeitos paralelos com consequências catastróficas potenciais sobre a agricultura e a alimentação.
He Dongxian, professora na Universidade de Agricultura da China, em Pequim, assegura que uma experiência realizada na municipalidade durante meses recentes mostrou um retardo drástico no processo de fotossíntese -- que permite às plantas se desenvolverem, como informa o jornal South China Morning Post, de Hong Kong. Nos testes, sementes de pimentões e tomates -- que normalmente demoram 20 dias para converter-se em plantas de sementeira com luz artificial em um laboratório, levaram mais de dois meses para germinar em uma estufa nos arredores de Pequim.
He afirma que membranas e poluentes que aderem à superfície das estufas reduz à metade a quantidade de luz que chega às plantas, o que afeta de forma radical o processo de fotossíntese pelo qual as plantas transformam a luz em energia química.
A pesquisa afirma que a maioria das plantas que germinaram era de plantas fracas ou estavam doentes, o que "reduzirá a produção agrícola este ano". Ela adverte também que, se a neblina tóxica persistir ou se intensificar, a produção de alimentos na China sofrerá "consequências devastadoras", informa o jornal citado. [Isto poderá ter um impacto dramático sobre o comércio de alimentos e grãos no mundo, em princípio certamente benéfico para o Brasil caso não haja quebras expressivas de safras devido à adversidade climática que tem ocorrido, sem falar nas recorrentes limitações de nossa infraestrutura portuária.]
"Um grande número de representantes de empresas agrícolas têm acudido de repente a encontros acadêmicos sobre fotossíntese nos últimos meses, em busca desesperada por soluções", assinala He. "Nossos colegas de outros países têm se mostrado comovidos com o fenômeno, porque em seus países nunca ocorreu algo igual". Algumas empresas estudam instalar equipamentos de iluminação artificial, e muitas fazendas aumentaram significativamente o uso de hormônios vegetais para estimular o crescimento das plantas, informa o jornal de Hong Kong.
A concentração de partículas finas ou PM2,5 -- aquelas que têm 2,5 micrômetros ou menos de diâmetro -- alcançou nesta quarta-feira de manhã em Pequim 557 microgramas por metro cúbico, de acordo com medições da embaixada dos EUA. Esse valor supera em mais de 22 vezes o limite máximo de 25 microgramas recomendado pela OMS - Organização Mundial da Saúde. A Agência de Proteção Ambiental americana [EPA, em inglês] considera como muito perigosas as concentrações acima de 300 [microgramas por m³]. Ao cair da noite a concentração havia caído para 82, graças a uma leve chuva. Este nível ainda é considerado como "prejudicial à saúde". A Academia de Ciências de Shanghai publicou este mês um relatório em que assinala que a poluição converteu Pequim em uma cidade "praticamente inabitável" para o ser humano.
(...)
Um habitante da cidade de Shijiazhuang, capital da província de Hebei e uma das cidades com ar de pior qualidade no país, se converteu nesta semana naquela que é considerada a primeira pessoa na China que processa o governo por não ter impedido a poluição. O demandante, Li Guixing, requereu a um tribunal que o Departamento de Proteção Ambiental de Shijiazhuang indenize os cidadãos pela poluição que afeta a cidade de forma contínua. A demanda de Li é uma amostra da crescente conscientização ecológica e descontentamento da população pela degradação provocada por três décadas de desenvolvimento meteórico sem atentar para as consequências ambientais.
A embaixada espanhola na China também fez eco à situação. O consulado em Pequim colocou um aviso em seu site depois que foi decretado o alerta laranja na cidade na sexta-feira. Nesse aviso "se recomenda que se tomem as medidas necessárias para evitar no possível os efeitos adversos da poluição, enquanto seus índices permanecerem elevados". A nota recomenda que "se devem evitar no possível as atividades e sobretudos os esforços físicos ao ar livre", e afirma que é "altamente recomendável a utilização de máscaras com nível de proteção de pelo menos FFP2" [para informações sobre os níveis de proteção FFP, ver aqui -- as partículas finas PM2,5 atingem os alvéolos e o tecido mais profundo dos pulmões]. A nota afirma também que devem ser "suprimida a ventilação de residências com purificadores de ar e se deve manter índices de umidade adequados". [Consultei o site da embaixada do Brasil na China. Nele não existe absolutamente nada referente a precauções a serem tomadas contra a poluição no país, o que mostra que nossos diplomatas ali estão se lixando para a saúde dos brasileiros que por ali se aventurem. É o estilo Itamaraty de ser e agir.]
He Dongxian, professora na Universidade de Agricultura da China, em Pequim, assegura que uma experiência realizada na municipalidade durante meses recentes mostrou um retardo drástico no processo de fotossíntese -- que permite às plantas se desenvolverem, como informa o jornal South China Morning Post, de Hong Kong. Nos testes, sementes de pimentões e tomates -- que normalmente demoram 20 dias para converter-se em plantas de sementeira com luz artificial em um laboratório, levaram mais de dois meses para germinar em uma estufa nos arredores de Pequim.
He afirma que membranas e poluentes que aderem à superfície das estufas reduz à metade a quantidade de luz que chega às plantas, o que afeta de forma radical o processo de fotossíntese pelo qual as plantas transformam a luz em energia química.
A pesquisa afirma que a maioria das plantas que germinaram era de plantas fracas ou estavam doentes, o que "reduzirá a produção agrícola este ano". Ela adverte também que, se a neblina tóxica persistir ou se intensificar, a produção de alimentos na China sofrerá "consequências devastadoras", informa o jornal citado. [Isto poderá ter um impacto dramático sobre o comércio de alimentos e grãos no mundo, em princípio certamente benéfico para o Brasil caso não haja quebras expressivas de safras devido à adversidade climática que tem ocorrido, sem falar nas recorrentes limitações de nossa infraestrutura portuária.]
"Um grande número de representantes de empresas agrícolas têm acudido de repente a encontros acadêmicos sobre fotossíntese nos últimos meses, em busca desesperada por soluções", assinala He. "Nossos colegas de outros países têm se mostrado comovidos com o fenômeno, porque em seus países nunca ocorreu algo igual". Algumas empresas estudam instalar equipamentos de iluminação artificial, e muitas fazendas aumentaram significativamente o uso de hormônios vegetais para estimular o crescimento das plantas, informa o jornal de Hong Kong.
A concentração de partículas finas ou PM2,5 -- aquelas que têm 2,5 micrômetros ou menos de diâmetro -- alcançou nesta quarta-feira de manhã em Pequim 557 microgramas por metro cúbico, de acordo com medições da embaixada dos EUA. Esse valor supera em mais de 22 vezes o limite máximo de 25 microgramas recomendado pela OMS - Organização Mundial da Saúde. A Agência de Proteção Ambiental americana [EPA, em inglês] considera como muito perigosas as concentrações acima de 300 [microgramas por m³]. Ao cair da noite a concentração havia caído para 82, graças a uma leve chuva. Este nível ainda é considerado como "prejudicial à saúde". A Academia de Ciências de Shanghai publicou este mês um relatório em que assinala que a poluição converteu Pequim em uma cidade "praticamente inabitável" para o ser humano.
(...)
Um habitante da cidade de Shijiazhuang, capital da província de Hebei e uma das cidades com ar de pior qualidade no país, se converteu nesta semana naquela que é considerada a primeira pessoa na China que processa o governo por não ter impedido a poluição. O demandante, Li Guixing, requereu a um tribunal que o Departamento de Proteção Ambiental de Shijiazhuang indenize os cidadãos pela poluição que afeta a cidade de forma contínua. A demanda de Li é uma amostra da crescente conscientização ecológica e descontentamento da população pela degradação provocada por três décadas de desenvolvimento meteórico sem atentar para as consequências ambientais.
A embaixada espanhola na China também fez eco à situação. O consulado em Pequim colocou um aviso em seu site depois que foi decretado o alerta laranja na cidade na sexta-feira. Nesse aviso "se recomenda que se tomem as medidas necessárias para evitar no possível os efeitos adversos da poluição, enquanto seus índices permanecerem elevados". A nota recomenda que "se devem evitar no possível as atividades e sobretudos os esforços físicos ao ar livre", e afirma que é "altamente recomendável a utilização de máscaras com nível de proteção de pelo menos FFP2" [para informações sobre os níveis de proteção FFP, ver aqui -- as partículas finas PM2,5 atingem os alvéolos e o tecido mais profundo dos pulmões]. A nota afirma também que devem ser "suprimida a ventilação de residências com purificadores de ar e se deve manter índices de umidade adequados". [Consultei o site da embaixada do Brasil na China. Nele não existe absolutamente nada referente a precauções a serem tomadas contra a poluição no país, o que mostra que nossos diplomatas ali estão se lixando para a saúde dos brasileiros que por ali se aventurem. É o estilo Itamaraty de ser e agir.]
20 de fevereiro - A imagem de satélite mostra a nuvem de sujeira na região de Pequim (Foto: Nasa)
25 de fevereiro - As nuvens de sujeira se espalham para a Coréia do Norte, a Coréia do Sul e o Japão (Foto: Nasa)
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