O processo de montagem da equipe da presidente eleita demonstra de maneira inequívoca que nossa política continua de baixíssima qualidade, em que interesses pessoais e de minorias prevalecem nitidamente sobre os interesses do país. De um lado, vemos o caso inédito de aplicação do coronelismo presidencial explícito, em que o presidente que sai impõe escancaradamente quase uma dezena de ministros seus e de candidatos seus à presidente que entra, incluindo-se nessa quota o presidente da Petrobras. Do outro lado, vê-se uma disputa de balcão acirrada, em que os partidos se engalfinham cobrando de maneira despudorada suas "compensações" por terem apoiado a candidata vitoriosa, provando que esse apoio de grandeza e desprendimento nada teve.
Dilma declarou reiteradamente que privilegiaria o lado técnico na nomeação de seus auxiliares diretos e remotos, mas não é bem isso o que se vê até agora. Além da já mencionada quota Lula, que de mérito técnico é em geral escassa, fica evidente que o primeiro grande atributo para ser ministro ou ocupar um alto escalão no governo Dilma é ter sido derrotado nas eleições de outubro, prevalecendo o sexo como o primeiro critério de desempate: quem for mulher leva vantagem. Exemplos típicos disso são os senadores derrotados Aloisio Mercadante e Ideli Salvatti. Esta última se notabilizou por sua agressividade destemperada, principalmente contra os que discordassem das ordens de seu rei Lula. Em 2009 ela votou pelo arquivamento das ações contra o ex-presidente e atual senador José Sarney no Conselho de Ética.
Fora do cenário do primeiro escalão do governo, mas de relevante importância para o país, há pelo menos dois casos cuja solução ficará para o governo Dilma ou que, numa mis en scène bem ao estilo Lula, será com ela "discutida": a indicação do 11° ministro do Supremo Tribunal Federal, e a decisão sobre a concessão do asilo político a Cesare Battisti. O caso deste italiano, cuja permanência no país conta com a clara simpatia de Lula, pode ainda gerar dores de cabeça diplomáticas para Dilma. Amigos meus, netos de italianos, contaram-me que seu processo para obtenção do passaporte italiano foi abruptamente interrompido no Consulado da Itália no Rio, onde ouviram a boca pequena que o governo italiano havia tomado essa decisão aguardando a decisão do caso Battisti. A conferir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário