segunda-feira, 17 de maio de 2010

As reações na mídia estrangeira ao acordo Brasil-Turquia com o Irã sobre o enriquecimento do urânio iraniano - I

É um exercício até meio lúdico observar a reação de governos e da da mídia estangeiros ao anunciado acordo firmado por Brasil e Turquia com o Irã sobre o enriquecimento do urânio deste país, que se faria na Turquia e o combustível depois retornaria ao Irã. Se executado para valer, esse acordo anula o principal argumento dos EUA, França, Reino Unido e outros países para impor sanções econômicas aos iranianos por seu programa nuclear.

Em termos de pronunciamentos oficiais, nenhum governo até agora se manifestou clara e inequivocamente sobre o assunto, mas sob o véu do anonimato "autoridades" americanas e outras têm basicamente demonstrado desconfiança e ceticismo sobre o acordo e a efetiva disposição do Irã em cumprí-lo. É indisfarçável o desconforto americano, francês e britânico com a possibilidade de que o Brasil e a Turquia possam ter conseguido o que não obtiveram (ou não quiseram obter) e, assim, tenham ganho novo status no cenário internacional. Neste contexto, é preciso ter em mente a enorme importância estratégica da Turquia, que é membro da OTAN e está em negociações para ingressar na União Européia.

Quanto à mídia impressa, comecemos pela da Argentina. Dos dois principais jornais do país, La Nación e Clarín, apenas este último noticia, na primeira página, a conclusão favorável das negociações e a importância disto para Lula.

Na França o Le Monde silenciou-se a respeito, enquanto o Le Figaro anunciava o acordo em primeira página, acrescentando porém um fato não divulgado por nenhum outro dos vários jornais que pesquisei. Diz ele que, enquanto os três países assinavam o acordo, um porta-voz do Ministério das Relações iraniano anunciava que "o Irã vai continuar a enriquecer urânio em seu território", o que, se verdade, torna o pacto um texto inútil. Isto bem pode ser um jeito de depreciar um feito que, no fundo, desagrada o governo francês.

(cont.)

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