segunda-feira, 31 de maio de 2010

Vinhos brancos portugueses

Quando escrevi sobre os vinhos bebidos na recente viagem à França ("Provença e Paris: impressões etílicas de uma viagem", 21/5/10) me esqueci de mencionar dois excelentes vinhos brancos portugueses, servidos pela TAP no vôo de volta para o Rio:

  • Vinha Grande 2009 (Douro) -- primeiro vinho branco da famosa vinícola Casa Ferreirinha (produtora do legendário tinto Barca Velha), produzido com uvas brancas tradicionais da região demarcada do Douro, principalmente Malvasia Fina, Viosinho e Gouveio. Harmoniza muito bem com peixe, mariscos, cogumelos gratinados, saladas e massas, e até carnes brancas. É um vinho com estrutura que permite sua guarda.
  • Vinha da Defesa 2008 (Alentejo) -- produzido pela tradicional vinícola alentejana Herdade do Esporão com as uvas Arinto, Roupeiro e Antão Vaz. É uma excelente companhia para saladas, salmão defumado, peixe grelhado, sopas de peixe, pastas ou um prato de queijos.
Obs.: os dois vinhos acima e as uvas que os produzem confirmam a secular e bendita tradição portuguesa de dar nomes unicamente locais aos produtos e castas de sua indústria vinícola. Enquanto isso, por aqui continuamos com o velho complexo de inferioridade de dar nomes franceses à maioria dos nossos vinhos ...

Os benefícios do vinho

Muito se tem escrito sobre os benefícios que o uso moderado do vinho traz para a saúde humana. Desta vez fala-se sobre a ajuda, para a digestão, de uma taça de vinho na refeição. Em seu curto artigo no New York Times de março deste ano, Anhad O'Connor fala sobre o assunto e comenta a controvérsia sobre o falado benefício do vinho para a digestão, citando inclusive uma interessante frase da Bíblia sobre isso (*).

Há os que dizem que o vinho estimula a produção de ácido gástrico, rechaçada pelos que dizem dizem que o efeito nesse sentido é mínimo. A discrepância entre as duas correntes pode ter sido esclarecida por um estudo de pesquisadores alemães, que conclui que a produção de ácido gástrico e gastrina (hormônio secretado pela mucosa gástrica e que induz a liberação de ácido clorídrico pelo estômago) é presente nas bebidas fermentadas (vinho, sherry e cerveja) e praticamente inexistente nas fermentadas e destiladas, como o rum, o conhaque e o uísque. A destilação após a fermentação seria a responsável pela perda desse benefício.

Outros estudos ajudam a entender porque o vinho tinto e a carne vermelha se dão tão bem. A proteína da carne amacia os taninos do vinho, e o vinho tinto contra-ataca substâncias potencialmente perigosas liberadas durante a digestão da carne, que são as gorduras oxidadas. Ou seja, em mais de uma maneira o vinho pode ajudar a digestão.

(*) O artigo citado do NYT diz que a frase da Bíblia é “Drink no longer water, but use a little wine for thy stomach’s sake.” ("Não beba mais água, mas use um pouco de vinho para o bem de seu estômago"), mas o The Oxford Dictionary of Quotations cita apenas "Use a little wine for thy stomach's sake" (Timóteo, cap. 5, versículo 23).

domingo, 30 de maio de 2010

Parceria mundial para a proteção de florestas tropicais

No dia 27 deste mês foi oficialmente lançada em Oslo uma parceria mundial de proteção das florestas tropicais, que congrega nove países doadores (Noruega, EUA, França, Alemanha, Reino Unido, Austrália, Japão, Suécia e Dinamarca), a União Européia e mais uns quarenta países. A partir de agora, e até a concluão de um acordo global sobre clima no âmbito da ONU, sua missão será caminhar no sentido de implementar um novo mecanismo financeiro destinado a remunerar os Estados que preservem suas florestas.

Esse mecanismo, denominado Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD em inglês - Reducing Emissions from Deforestation and Degradation), tem estado em discussão há anos, e foi aprovado em seu princípio básico na conferência da ONU sobre clima em Copenhague em 2009. Nessa ocasião, em Copenhague, foram prometidos cerca de 3,5 bilhões de dólares (cerca de 2,8 bilhões de euros), valor que foi levado a 4 bilhões em Oslo. Deste montante a França contribuirá com 375 milhões de dólares. As negociações sobre o tratamento internacional de REDD devem ser concluídas até a COP-16 (16ª Conferência das Partes) a realizar-se no México, em novembro e dezembro de 2010.

Japão e Papua Nova Guiné, em nome da coalizão dos países com florestas tropicais (Rainforest Coalition), assumirão a condução dessa parceria nos seis primeiros meses iniciais de sua existência, sendo em seguida substituídos por Brasil e França. A posição do Brasil sobre o tema pode ser acessada no site do Itamaraty.

O que me surpreende é a pouquíssima ou nula atenção da nossa mídia (escrita e falada) para uma iniciativa dessa importância.

sábado, 29 de maio de 2010

Heavy-metal iraquiano

O grupo heavy-metal iraquiano Acrassicauda (nome em latim de um escorpião negro, comum no Iraque) emigrou para os EUA há pouco mais de um ano, e só agora começa a ter seu trabalho reconhecido lá e alhures. Seus componentes ainda dão duro p'ra ganhar a vida (um deles, Hussein, era professor de inglês e artes em seu país, hoje trabalha como garçom). Sua primeira e única gravação até hoje, o EP (Extended Play) Only the Dead See the End of the War, foi lançado nos EUA em meados de março deste ano. Os iraquianos têm recebido uma ajuda valiosa de Alex Skolnick, do grupo Testamento, desde a compra de instrumentos e equipamento até o "polimento" de suas apresentações ao vivo e a presença no estúdio de gravação.

Para quem quiser ter uma idéia do Acrassicauda e gostar do gênero, no You Tube está disponível o vídeo "Garden of Stones". 

A meu ver, não existe lugar melhor do que o Iraque (talvez o Afeganistão ...) para gerar gente heavy-metal ...

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Google enfrenta nova frente de atrito com diversos países

Foi revelado que, através de seus carros de coleta de dados para seu sistema de visão de ruas (Stree View), o Google estava colhendo mais do que imagens e coordenadas para o seu sofisticado sistema de GPS. Nada menos que 600 GB de dados de redes Wi Fi foram coletados pela rede do Google em mais de 30 países, o que aborreceu particularmente autoridades européias, que pedem uma investigação em profundidade que pode gerar pesadas penalidades ao Google.

A Alemanha não teve atendida pelo Google sua solicitação para que lhe fossem entregues dados e e-mails da Internet coletados pelo sistema Street View, o mesmo ocorrendo em relação a Hong-Kong. A Comissão Federal de Comércio (FTC, em inglês) dos EUA solicitou ao Google que não destrua nenhum dado que ele tenha conseguido de redes sem fio através daquele sistema.

Avanços da ciência

Pele de tubarão vira tinta para revestir aviões e geradores eólicos 

(o título está errado e deve mobilizar os ambientalistas, protetores desses assustadores seres do mar -- na realidade, um grupo de cientistas alemães do Instituto Fraunhofer criou um novo sistema de pintura que imita a pele dos tubarões e assim diminui a resistência ao arrasto em aviões e turbinas eólicas, economizando combustível).

Óleo de abacate substitui óleo de oliva e controla gordura no sangue

P. J. Clarke's, uma fantástica instituição na boêmia novaiorquina

O P. J. Clarke's (915 Third Avenue, Upper East Side, Manhattan) é uma casa  velhona, mais que centenária (a prefeitura diz que ela data de 1868, o proprietário diz que é de 1864), que mantém ao longo do tempo a tradição de ser um lugar especial e imperdível na badalada boêmia de Nova Iorque. Seu hambúrguer é merecidamente famoso (a comida em geral é muito boa), seu balcão de biritar é animadíssimo, e seus mictórios antiquíssimos são tão fantásticos (parecem úteros, que vão até nosso queixo) que até Frank Sinatra (frequentador assíduo do P.J.) tem uma frase sobre eles no site da casa ("Those urinals!" ele foi ouvido dizer). A casa parece de brinquedo, comparada com o prédio de 45 andares às suas costas.

Uma vez ali fui e me esqueci do aviso "Wait to be seated"  bem na entrada do espaço das mesas, escolhi uma delas e me sentei. Logo em seguida veio o gerente ou maître, educadíssimo, e me perguntou se estava satisfeito com a mesa. Respondi que sim, e ele me disse: "esta é exatamente a mesa que havia escolhido para o Sr!"...

No dia 26 deste o P.J. ocupou novamente espaço no New York Times, por conta de seu atual barman, o incrível Doug Quinn que, sozinho, dá um show de atendimento no bar, sem errar nada e controlando tudo, muitas vezes sem sequer olhar p'ro drinque que está preparando. "É como se atendesse o bar em Braille", diz o autor da matéria.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Divergências na Comunidade Européia

A crise grega fez aflorar e tornar mais explícitas as divergências entre os membros da União Européia (UE), o que se pode observar pela leitura de jornais europeus. É o caso, por exemplo, da edição de hoje do Le Monde, que mostra isso em duas frentes, a econômica e a ambiental. Não por coincidência, ambos os casos envolvem em campos opostos a Alemanha e a França, as duas maiores economias da UE (nessa ordem, ver ranking mais abaixo).

Na área econômica a França, ao contrário da Alemanha e da Comissão Européia, não vê com bons olhos a idéia de taxar os bancos para financiar fundos nacionais de solução de crises financeiras. A Alemanha, cuja economia está fragilizada pela crise, já deu início a um fundo dessa natureza. A França não discorda da taxação, mas sim da sua utilização; ela prefere que os recursos dela oriundos sejam canalizados para os orçamentos dos Estados e não para os tais fundos, argumentando que na realidade os orçamentos é que serão demandados no caso de uma falência de grande porte. O Reino Unido apoia a tese francesa.

Na área ambiental (mudanças climáticas), novamente franceses e alemães estão em campos opostos. Para evitar o deslocamento das indústrias mais poluentes a Alemanha, a maior economia da UE, exige que de agora em diante se faça uma pausa quanto à redução dos gases do efeito estufa, enquanto a França amplia seus esforços para incluir os importadores no mecanismo de troca de quotas de emissão de CO₂.

Ranking dos PIBs nominais da Europa (2009)
  1. Alemanha -- 3.353 bilhões de dólares
  2. França -- 2.676
  3. Reino Unido -- 2.184
  4. Itália -- 2.118
  5. Espanha -- 1.464
  6. Rússia -- 1.229
  7. Holanda -- 894
  8. Turquia --615
  9. Suiça -- 495
  10. Bélgica -- 470

No mesmo período o PIB do Brasil foi de 1.574 bilhões de dólares, o que o colocaria no 5° lugar na União Européia.

Maré negra respinga em Obama

Além de ser um quebra-cabeça técnico, o derrame de óleo da British Petroleum (BP) no Golfo do México transformou-se em um problema político para Obama. Completados 36 dias da tragédia ecológica, sem qualquer perspectiva ainda de solução, cresce a pressão para que o governo assuma o controle total das operações em vez de deixá-lo por conta da BP.

Todas as esperanças repousam na tentativa que será feita hoje (26/5) pela BP de aplicar um processo denominado "top kill", nos locais que continuam a despejar diariamente milhares de barris de petróleo a 1.500 m de profundidade -- esse processo nunca foi aplicado a essa profundidade. Segundo o CEO da BP, Tony Hayward, as chances de êxito vão de 60 a 70%.

A empresa poluidora decidiu inicialmente interromper a transmissão de vídeo do desenrolar do desastre e das tentativas de interrompê-lo, que havia colocado à disposição do público por exigência do Congresso americano, mas os protestos contra isso fizeram-na voltar atrás.

(Ver "Brasil precisa de medidas de segurança antes de explorar o pré-sal, alerta a Coppe", que postei ontem no blog).

Briga de vizinhas em Valência (Espanha)

Para comemorar seus 5 anos de existência o You Tube solicitou a figuras famosas que cada um selecionasse 5 vídeos para serem apresentados. Pedro Almodóvar, o grande cineasta espanhol, foi um desses convidados, e entre os vídeos que escolheu está o de uma reportagem sobre o péssimo relacionamento de duas vizinhas em Valência. Almodóvar diz que se trata de uma cena tipicamente espanhola, pois "a Espanha é um país dividido entre vizinhos A e B, que normalmente se odeiam", diz ele.

É simplesmente ridículo e inacreditável o que se passa entre essas duas mulheres!

Discursos de Churchill

Churchill era, sabidamente, um grande orador. Um amigo meu, que trabalha na Itaipu Binacional, mandou-me essa preciosidade que é uma coletânea de alguns dos famosos discursos de Winston Churchill. Há links para o You Tube, o que permitirá ouví-los.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Brasil precisa de medidas de segurança antes de explorar o pré-sal, alerta a Coppe

O catastrófico desastre ecológico provocado por um vazamento de óleo, até agora incontrolável (já dura 40 dias),  em plataforma da BP no Golfo do México deixou evidente que a indústria de extração de petróleo encontra-se totalmente despreparada para enfrentar um problema dessa natureza. Técnicos da Coppe alertaram, em debate na semana passada, que o Brasil precisa preparar-se bem para lidar com um desastre como esse, antes de iniciar a exploração do pré-sal.

Entre os fatores adicionais de risco que enfrentamos, diz uma professora da Coppe, está o fato de o Brasil ter aderido a poucos tratados e convenções internacionais na área de petróleo, ficando inclusive fora de um fundo global que garante recursos em caso de acidentes.

Texto contundente sobre Sarah Ferguson, a Duquesa de York

No jornal inglês The Independent, edição de hoje, Terence Blacker, que já foi biógrafo de Sarah Ferguson, a Duquesa de York, traça dela um perfil contundente e constrangedor :"uma mulher comum, não particularmente inteligente, foi relegada (pelos Windsor) a vender sua meia-realeza".

Para entender a situação embaraçosa vivida hoje por Sarah Ferguson veja "Duquesa de York filmada fazendo negociata", no meu blog do dia 23 deste.

Argentina leva à ONU a questão da busca inglesa por petróleo nas Malvinas

O ministro das Relações Exteriores argentino, Jorge Taiana, encontrou-se ontem com o Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, e apresentou-lhe o protesto de seu país contra as iniciativas inglesas de exploração de petróleo nas ilhas Malvinas, um dia depois de mobilizar o apoio da América Latina e do Caribe, intensificando a ofensiva diplomática da Argentina contra a Inglaterra. Ban Ki-moon teria sido "muito cordial e positivo", segundo Taiana. A ONU solicitou que Argentina e Reino Unido se entendam diretamente, mas tem pouco poder para intervir sem o apoio do Conselho de Segurança, no qual os ingleses têm poder de veto.

Lula somou-se à pressão argentina, dizendo que o Conselho é um anacronismo que se inclina a favor das potências ocidentais: "Não é possível que a Argentina não possa ser dona das ilhas e a Inglaterra possa, mesmo estando a 14.000 km de distância".

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O tremendo poder de síntese dos patrícios

Achando que era mais uma gozação em cima dos nossos queridos patrícios d'além mar, fui conferir a informação de hoje do Ancelmo Gois sobre o nome que ganhou em Portugal o filme brasileiro "Estômago" -- no respeitado e respeitável jornal lusitano Correio da Manhã lá está: "Estômago -- Uma Fábula nada Infantil sobre Poder, Sexo e Gastronomia" (apresentado por sinal em uma prisão de Lisboa). Isto me faz lembrar que, há anos, o filme "O Manto de Cristo" recebeu dos portugueses o aconchegante título de "O Roupão"...

PS -- É simpático e didático saber-se que em Portugal pré-estreia é "antestreia".

domingo, 23 de maio de 2010

Israel ofereceu ogivas nucleares para a África do Sul durante o apartheid

O jornal inglês The Guardian publica hoje reportagem sobre documentos militares sul-africanos ultra-secretos, que revelam que Israel ofereceu ogivas nucleares ao regime do apartheid em 1975. Trata-se da primeira evidência oficial, documentada, de que os judeus possuem armas nucleares. O então ministro da defesa da África do Sul, P. W. Botha, solicitou as ogivas a Shimon Peres, ministro da defesa de Israel, que em resposta lhe ofereceu ogivas de três tamanhos diferentes. O jornal publica foto das assinaturas dos dois ministros nos alegados documentos.

Duquesa de York é filmada fazendo negociata

A edição deste domingo do jornal inglês "News of the World" publica um vídeo que certamente causará um terremoto na nobreza britânica. Nele a duquesa de York, Sarah Ferguson, embolsa 40 mil libras como parte da "venda" por 500 mil libras de contato  com seu ex-marido, o príncipe Andrew, para um falso empresário (na realidade um jornalista). O desempenho dela é tão convincente, que não será surpresa se ela for contratada como "consultora" de congressistas, deputados estaduais e vereadores brasileiros usuários desse mesmo estilo de negociação.

sábado, 22 de maio de 2010

Mário Quintana, um senhor poeta

Gaúcho de Alegrete, Mário Quintana nasceu em 30/7/1906 e faleceu em Porto Alegre em 5/5/1994. Conhecido por seu humor e seu sarcasmo, foi poeta de primeira e tradutor respeitado, tendo traduzido para a Editora Globo obras de Proust, Voltaite, Maupassant e outros. Após a terceira frustrada tentativa de ingressar na Academia Brasileira de Letras compôs o conhecido


Poeminho do Contra
Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!

(Prosa e Verso, 1978)


Uma de suas poesias:
O auto-retrato  
 
No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...

às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...

e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,

no final, que restará?
Um desenho de criança...
Corrigido por um louco!

(Apontamentos de História Sobrenatural)
 
Quintana foi também um exímio frasista:
  • A amizade é um amor que nunca morre.
  • Há duas espécies de chatos: os chatos propriamente ditos, e ... os amigos, que são os nossos chatos prediletos.
  • Tão bom morrer de amor e continuar vivendo.
  • A preguiça é a mãe do progresso. Se o homem não tivesse preguiça de caminhar não teria inventado a roda.
  • Se me esqueceres, só uma coisa, esquece-me bem devagarinho.
  • A arte de viver é simplesmente a arte de conviver ... Simplesmente, disse eu? Mas como é difícil!
  • Ah, esses moralistas ... Não há nada que empeste mais que um desinfetante!
  • Autodidata é um ignorante por conta própria.


Brasil e Argentina farão satélite para monitorar oceanos

À parte os recorrentes problemas que frequentemente têm no intercâmbio comercial, Brasil e Argentina possuem programas de cooperação tecnológica que, geralmente, não são de conhecimento de seus cidadãos comuns. Além de uma estreita colaboração na área nuclear, os dois países intensificam agora seu relacionamento tecnológico na área espacial, com o projeto e construção de um satélite para monitorar oceanos.

A estratégia mundial do Google

"Nossa ambição é organizar toda a informação do mundo, não apenas uma parte dela", afirma Larry Page, co-fundador do Google e seu presidente para a área de Produtos, em interessantíssima entrevista no Le Monde de ontem.

Excesso de zelo x bom senso

O colunista de tecnologia do New York Times, David Pogue, fez um excelente artigo nesta semana sobre o limite de risco aceitável para se manter eficiência e produtividade. Ele cita exemplos que enfrentamos diariamente, como a história de um motorista bêbado que provoca um acidente em um cruzamento e os políticos e as autoridades decidem tornar o tal cruzamento superseguro, introduzindo nele uma parafernália de equipamentos e modificações, quando na realidade bastava punir exemplarmente o tal bêbado. As histórias que ele conta sobre o monte de problemas desnecessários criados pelos tais especialistas em TI (Tecnologia da Informação) são ótimas!

sexta-feira, 21 de maio de 2010

O imbróglio entre as duas Coréias

A acusação formal da Coréia do Sul contra a Coréia do Norte nesta semana, responsabilizando-a pelo torpedeamento e afundamento de um navio de guerra sul-coreano, e a consequente morte de 46 marinheiros, criou uma das piores crises na região nos últimos anos. Pyongyang nega qualquer envolvimento nesse incidente e avisou que, se atacada ou retaliada por Seul, partirá para a guerra total contra esta.

O pior é que os padrinhos dos envolvidos, China e EUA, se viram jogados nessa fogueira -- os chineses, além de fronteiriços, têm históricas relações políticas e estratégicas com os norte-coreanos, e os americanos têm quase 30 mil soldados na Coréia do Sul e uma estreita relação político-militar com este país.

O grande desafio para norte-americanos e sul-coreanos é encontrar um jeito de punir a Coréia do Norte sem gerar um conflito armado de proporções imprevisíveis, e sem também melindrar a China. A esta última também não interessa uma guerra por várias razões óbvias, mas também por recear uma invasão de refugiados norte-coreanos se isso ocorrer.

Provença e Paris: impressões etílicas de uma viagem

Apesar de não ser, em geral, uma região de grande destaque em termos de vinhos, a Provença produz alguns vinhos muito bons, como os Bandol, os Cassis, os Palette e os Coteaux d'Aix en Provence. Na nossa recente passagem por lá (23/4 a 02/5/2010) os vinhos provençais de destaque que bebemos foram:
  • Bellet 2006 - Domaine Fogolar/Collet de Bovis (tinto) - 2006 foi uma safra muito boa na Provença (a Bellet é uma vinícola no sopé dos Alpes Marítimos, atrás de Nice)
  • Mas Sainte Berthe Blanc des Blancs 2009 - Coteaux d'Aix en Provence - um branco muito jovem mas muito gostoso no bouquet e no paladar
  • Domaine Vieille Julienne 2006 - Châteauneuf-du-Pape (um tinto de Orange, da região de Vaucluse)
  • Château de Pibarnon 2000 - (considerado um dos melhores tintos de Bandol, foi um dos pontos altos da viagem)
Entre os vinhos produzidos fora da Provença, bebidos na viagem (tanto na Provença, como em Paris), destacam-se:

  • Château Puech-Haut 2003 - Coteaux de Languedoc (um belo tinto!)
  • Mas de Daumas Gassac 2003 - Languedoc-Roussillon (tinto)
  • Puligny-Montrachet 1999 (um branco que desceu muito bem)
  • Domaine La Fouge Meursault Les Casse-Têtes (ano?) - um branco da Borgonha
  • Pouilly Fuissé Domaine de la Feuillarde Lucien Thomas (ano?) - um belo branco da região de Mâcon
  • Pommard Domaine du Comte Armand (ano?) - um belo tinto da região de Côte de Beaune
  • Gevrey Chambertin Chanson Père et Fils (ano?) - um borgonha tinto de Côte de Nuits.

O homem perfeito

Para começar o fim de semana relaxadamente, vejam com atenção, leitores e leitoras do blog, o conceito alemão do "der perfekte Mann", o homem perfeito.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Os tesouros de Adélia Prado

Adélia Prado nasceu em 13/12/1935 em Divinópolis (MG), onde mora até hoje. Mais conhecida como poetisa (acho simplesmente ridícula a posição de certas "feministas", que acham que "poetisa" soa como diminutivo e depreciativo para a mulher, que por isto tem que ser chamada também de "poeta" !...), ela é boa de pena também na prosa (que ocupa espaço menor, mas não menos valioso que a poesia em sua produção literária).

Falando de suas lembranças poéticas diz ela:

"Uma das mais remotas experiências poéticas que me ocorre é a de uma composição escolar no 3º ano primário, que eu terminava assim: "Olhai os lírios do campo. Nem Salomão, com toda sua glória, se vestiu como um deles...".

A professora tinha lido este evangelho na hora do catecismo e fiquei atingida na minha alma pela sua beleza. Na primeira oportunidade aproveitei a sentença na composição que foi muito aplaudida, para minha felicidade suplementar. Repetia em casa composições, poesias, era escolhida para recitá-las nos auditórios, coisa que durou até me formar professora primária. Tinha bons ouvintes em casa. Aplaudiam a filha que tinha "muito jeito pra essas coisas". Na adolescência fiz muitos sonetos à Augusto dos Anjos, dando um tom missionário, moralista, com plena aceitação do furor católico que me rodeava. A palavra era poderosa, podia fazer com ela o que eu quisesse."


Uma pequena amostra da poesia de Adélia:

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo.  Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

 Para uma mulher bem do interior mineiro Adélia Prado diz coisas absolutamente inesperadas e surpreendentes, mas também absolutamente coerentes com o texto e o tema, e nada chocantes. Um bom exemplo disto se encontra no mini-conto De afrodisíacos, em que o ritual de se fazer um cigarro de palha ganha toques de erotismo e sensualidade. Ela começa o texto dizendo "Tenho um pouco de pudor de contar, mas só um pouco, porque sei que vou acabar contando mesmo.  É porque lá em casa a gente não podia falar nem diabo, que levava sabão, quanto mais... ah, no fim eu falo." Depois de descrever com perfeição o lento ritual com que Gomide ia fazendo seu cigarro de palha, assistido de maneira atenta e fascinada por Teodoro, ela escreve: "Com o canivete dobrou uma das pontas para o fumo não escapar, tirou a binga do bolso, acendeu e pegou a pitar. Agora é que vem, ai, ai. Teodoro falou que o tempo todo da operação ele não despregava o olho daquilo. Disse que nem sabe o que tia Carlina arengava, só punha sentido no Gomide fazendo o pito. Diz ele que foi uma coisa tão esquisita — esquisita, não —, tão encantada que ele ficou de pau duro. É isso. Falou também que ficou doido pra sair dali, comprar palha, fumo de rolo e repetir tudo igualzinho ao Gomide".

Outro belo exemplo da prosa de Adélia se vê em Quero minha mãe .   Adélia Prado é uma leitura deliciosa, altamente recomendável e muito prazerosa.

Um bom texto de George Carlin

George Carlin (1937-2008) foi um comediante, ator e autor americano focado no humor negro e de crítica social. Teve uma vida atribulada como alcoólatra e como viciado em cocaína e maconha, ficou 20 anos brigando com o Imposto de Renda americano e vivia às turras com a lei.

Um de seus monólogos mais famosos era (1973) o "Sete palavras que você nunca pode dizer na televisão" (Seven Words You Can Never Say on Television) -- as palavras eram Shit - Piss - Fuck - Cunt - Cocksucker - Motherfucker - Tits. Um cidadão chamado Jon Douglas ouviu de manhã pelo rádio esse monólogo, em companhia de seu filho, e reclamou junto à Comissão Federal de Comunicações, que lhe deu ganho de casa. Em 1983, num show especial no Carnegie Hall, Carlin ampliou para 200 palavras essa lista ...

Carlin era também capaz de gerar textos sérios, de bom conteúdo, como o transcrito abaixo.


O Paradoxo do Nosso Tempo

Nós bebemos demais, fumamos demais, gastamos sem critérios, dirigimos rápido demais, ficamos acordados até muito mais tarde, acordamos muito cansados, lemos muito pouco, assistimos TV demais e rezamos raramente.


Multiplicamos nossos bens, mas reduzimos nossos valores. Nós falamos demais, amamos raramente, odiamos frequentemente. Aprendemos a sobreviver, mas não a viver; adicionamos anos à nossa vida e não vida aos nossos anos.


Fomos e voltamos à Lua, mas temos dificuldade em cruzar a rua e encontrar um novo vizinho. Conquistamos o espaço, mas não o nosso próprio.


Fizemos muitas coisas maiores, mas pouquíssimas melhores.


Limpamos o ar, mas poluímos a alma; dominamos o átomo, mas não nosso preconceito; escrevemos mais, mas aprendemos menos; planejamos mais, mas realizamos menos.


Aprendemos a nos apressar, e não a esperar.


Construímos mais computadores para armazenar mais informação, produzir mais cópias do que nunca, mas nos comunicamos menos.


Estamos na era do 'fast-food' e da digestão lenta; do homem grande de caráter pequeno; lucros acentuados e relações vazias.


Essa é a era de dois empregos, vários divórcios, casas chiques e lares despedaçados.


Essa é a era das viagens rápidas, fraldas e moral descartáveis, das rapidinhas, dos cérebros ocos e das pílulas "mágicas".


Um momento de muita coisa na vitrine e muito pouco na dispensa.


Uma era que leva essa carta a você, e uma era que lhe permite dividir essa reflexão ou simplesmente clicar 'delete'.


Lembre-se de passar tempo com as pessoas que ama, pois elas não estarão por aqui para sempre. Por isso, valorize o que você tem e as pessoas que estão ao seu lado.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Finalmente o Le Monde disse algo sobre o imbróglio iraniano ...

Depois de dois dias de absoluto silêncio o importante jornal francês Le Monde resolveu hoje dizer algo sobre o imbróglio iraniano, mas o fez acendendo uma vela a Deus e outra ao diabo ... Reconhece que "os países emergentes do Sul querem merecidamente um espaço nas negociações", mas as grandes potências têm razão em querer impor novas sanções ao Irã porque, segundo elas, o acordo de segunda-feira com o Brasil e a Turquia não fornece garantias suficientes contra a escalada nuclear iraniana.

Minuta da Resolução para impor sanções ao Irã

O Washington Post de hoje publica matéria sobre o acordo que teria sido alcançado pelos EUA com seus companheiros de Conselho de Segurança da ONU (Reino Unido, França, China e Rússia) e mais a Alemanha, para a imposição de sanções ao Irã por seu programa nuclear. A matéria dá acesso à minuta de 10 páginas da Resolução que será levada ao Conselho de Segurança para esse fim.

Enquanto isso, são múltiplas e desencontradas as reações na mídia sobre a posição americana vis-à-vis ao acordo do Brasil e da Turquia com o Irã na segunda-feira, 17/5/10, cujo objetivo principal é exatamente evitar tais sanções. Em editorial de hoje o inglês The Guardian classifica essa minuta de Resolução como uma  "bofetada diplomática" das grandes potências nos esforços de negociação de outros países.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Declaração conjunta de Irã, Turquia e Brasil de 17/5/2010

A quem interessar possa, o texto completo da declaração conjunta Irã-Turquia-Brasil de 17/5/2010 está acessível no link da Assessoria de Imprensa do Ministério das Relações Exteriores.

Uma pergunta que me incomoda: por que no título dessa declaração o  Brasil aparece por último?! Até dá para entender que o Irã apareça primeiro, porque foi lá que se assinou o documento, mas por que se colocou a Turquia antes do Brasil e não se adotou, por exemplo, a ordem alfabética? Isso me cheira a downgrade nosso ...

Programa nuclear iraniano: o império contra-ataca

Exatamente no dia seguinte do ainda controvertido acordo brasileiro-turco-iraniano sobre o enriquecimento, no exterior, de parte do urânio do Irã, a secretária Hillary Clinton anuncia num comitê do Senado americano que EUA, Grã-Bretanha, França, Rússia e China (os cinco países com poder de veto no Conselho de Segurança da ONU) e mais a Alemanha chegaram a um acordo para impor novas e fortes sanções ao Irã, em um incisivo repúdio ao acordo acima referido.

A secretária norte-americana reconheceu os esforços de Brasil e Turquia nas negociações com os iranianos, mas afirmou que as seis potências se juntaram para pressionar o Irã para que este desista de seu programa de enriquecimento de urânio.

Se a carruagem continua nesse caminhar, Brasil e Turquia podem ter conseguido uma vitória de Pirro em seu acordo de segunda-feira com o Irã. No contexto internacional extra-América do Sul os danos para o Brasil são menores que os da Turquia, mas não são desprezíveis -- podemos, entre outros aspectos, ter queimado nosso filme na estratégia de alcançar um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU, sob a ótica de certa afoiteza de aprendiz de feiticeiro e bastante (ou demasiada?) naïveté nessa briga de cachorro grande. Dentro das fronteiras sul-americanas nossos problemáticos vizinhos, em especial  Argentina e Venezuela, certamente irão curtir um eventual fracasso nosso nessa empreitada e tirarão partido disso.

A Turquia, sem dúvida, sairá muito mais chamuscada dessa história. Tem (ou deveria ter) muito mais vivência no xadrez internacional das grandes negociações estratégicas, é membro da OTAN e vem buscando com muito esforço ingressar na União Européia. Ser pública e ostensivamente desautorizada ou menosprezada por aquelas seis potências não fará nenhum bem a esse seu projeto e ao seu status internacional.

As reações na mídia estrangeira ao acordo Brasil-Turquia com o Irã sobre o enriquecimento do urânio iraniano - II

De ontem para hoje surgiram novas manifestações sobre o acordo, inclusive a dos EUA de insistir na aplicação das sanções ao Irã, sob a alegação de que o pacto assinado ainda permite o enriquecimento de urânio em solo iraniano (esta postura americana seria apoiada pelo Reino Unido, a França e a Alemanha, mas a China, que tem poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, mantém-se calada). Acho que isto não invalida a pesquisa que fiz ontem, cujos resultados continuam abaixo.

O jornal espanhol El País apresenta a notícia do pacto em sua primeira página, destaca a intervenção de Lula para conseguí-lo e comenta que o Irã mobilizou todo o seu arsenal diplomático para, com o apoio do Brasil e da Turquia, anular ou adiar as sanções que os EUA querem lhe aplicar.

A CNN tipicamente ignora o Brasil na manchete de sua matéria, dizendo que "o Irã retomará o enriquecimento apesar do acordo da Turquia", e menciona que EUA e Reino Unido não estão satisfeitos com as garantias oferecidas e mantêm sua posição de impor sanções ao Irã.

Em seu site em inglês a BBC diz que o Irã concordou em enviar urânio para enriquecimento fora do país, após a mediação de Brasil e Turquia, mas que o Ocidente mantém-se cético.

O New York Times, estranhamente, manteve em seu site hoje o título original da sua matéria de ontem ("Uranium Offer by Iran May Hinder Sanctions"), mas quando se clica nele aparece matéria com outro título ("U.S. is Skeptical on Iran Deal for Nuclear Fuel"). A tônica, no entanto, é a mesma: EUA, Europa e Rússia teriam mostrado "extremo" ceticismo quando ao acordo e continuarão pressionando para que se apliquem sanções ao Irã. 

O Financial Times apresenta também matéria sobre o assunto. O Washington Post (WP) mantém o alinhamento da imprensa americana com o governo e diz que o Irã cria "ilusão" de progresso nas negociações nucleares. Em um segundo artigo no mesmo dia (ontem) sobre o assunto, o WP, a exemplo da CNN, também esnoba o Brasil e informa que o Irã chegou a um inesperado acordo com a Turquia sobre urânio enriquecido, e comenta que isso solapa e prejudica não só os esforços de Obama para punir o Irã como também, mais globalmente, a estratégia diplomática dos EUA em relação a esse país e à região.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

As reações na mídia estrangeira ao acordo Brasil-Turquia com o Irã sobre o enriquecimento do urânio iraniano - I

É um exercício até meio lúdico observar a reação de governos e da da mídia estangeiros ao anunciado acordo firmado por Brasil e Turquia com o Irã sobre o enriquecimento do urânio deste país, que se faria na Turquia e o combustível depois retornaria ao Irã. Se executado para valer, esse acordo anula o principal argumento dos EUA, França, Reino Unido e outros países para impor sanções econômicas aos iranianos por seu programa nuclear.

Em termos de pronunciamentos oficiais, nenhum governo até agora se manifestou clara e inequivocamente sobre o assunto, mas sob o véu do anonimato "autoridades" americanas e outras têm basicamente demonstrado desconfiança e ceticismo sobre o acordo e a efetiva disposição do Irã em cumprí-lo. É indisfarçável o desconforto americano, francês e britânico com a possibilidade de que o Brasil e a Turquia possam ter conseguido o que não obtiveram (ou não quiseram obter) e, assim, tenham ganho novo status no cenário internacional. Neste contexto, é preciso ter em mente a enorme importância estratégica da Turquia, que é membro da OTAN e está em negociações para ingressar na União Européia.

Quanto à mídia impressa, comecemos pela da Argentina. Dos dois principais jornais do país, La Nación e Clarín, apenas este último noticia, na primeira página, a conclusão favorável das negociações e a importância disto para Lula.

Na França o Le Monde silenciou-se a respeito, enquanto o Le Figaro anunciava o acordo em primeira página, acrescentando porém um fato não divulgado por nenhum outro dos vários jornais que pesquisei. Diz ele que, enquanto os três países assinavam o acordo, um porta-voz do Ministério das Relações iraniano anunciava que "o Irã vai continuar a enriquecer urânio em seu território", o que, se verdade, torna o pacto um texto inútil. Isto bem pode ser um jeito de depreciar um feito que, no fundo, desagrada o governo francês.

(cont.)

A visita de Lula ao Irã

No dia 14 deste mês, antes portanto do anúncio do resultado das conversações de Lula com Ahmadinejad em Teerã, o experiente diplomata aposentado embaixador Mario A. Santos apresentou no Monitor Mercantil um artigo muito interessante e muito bem fundamentado sobre três razões básicas que justificariam a iniciativa de Lula de promover negociações diretas com os iranianos sobre o programa nuclear destes, na tentativa de evitar as sanções econômicas que os EUA e outros países insistem em aplicar contra o Irã. Vale a pena ler esse artigo.

domingo, 16 de maio de 2010

A tragédia grega sacode a Comunidade Européia

A tragédia econômica grega desnudou as falhas do euro e pode ter ainda consequências imprevisiveis. Portugal e Espanha já tiveram que tomar medidas drásticas de corte de gastos e arrocho fiscal, com os sindicatos de trabalhadores anunciando forte oposição a elas, o que prenuncia sérios problemas sociais nesses países. Na Alemanha, o apoio à ajuda bilionária à Grécia custou à PM Angela Merkel a perda do controle político da Renânia, o mais populoso e um dos mais importantes estados alemães.

No programa Painel, do canal GNT, houve hoje um interessantíssimo debate sobre a crise do euro, com a participação dos economistas Luiz Gonzaga Belluzzo (Unicamp) e Simão Davi Silber (USP), e do diplomata Jório Dauster (ex- representante do Brasil na Comunidade Européia, ex-presidente da Vale do Rio Doce e hoje consultor de empresas). Os três coincidiram em sua análise da crise européia, apontando, entre outros problemas, a falta de um controle fiscal único e a enorme assimetria entre as economias participantes da União Européia como focos dos atuais problemas do euro. Foi enfatizada a gravidade da crise, com a menção de que a União Européia conta com cerca de 500 milhões de habitantes e concentra cerca de 23% do PIB mundial. Somando-se à crise dos EUA, tem-se hoje mais de 50% do PIB mundial em séria e prolongada crise econômica.

A mídia, como não podia deixar de ser, repercute esse cenário. Entre vários artigos sobre o assunto vale ler, na Newsweek desta semana, as considerações do Prof. Niall Ferguson sobre o que ele chama de O Fim do Euro, e as considerações do economista Joseph E. Stiglitz sobre a sobrevivência do euro no O Globo de hoje.

sábado, 15 de maio de 2010

Jacky Terrasson, um senhor pianista de jazz

Nascido em Berlim (27/11/1966, filho de mãe americana e pai francês), criado em Paris e hoje baseado em Nova Iorque, Jacques-Laurent Terrasson, artisticamente conhecido com Jacky-Terrasson, é um laureado pianista de jazz. Sua carreira ganhou impulso depois que ganhou o Concurso de Piano Thelonious Monk em 1993; depois disso, foi duas vezes indicado para o prêmio Grammy (2001 e 2004), e em 2003 recebeu vários prêmios: melhor músico de jazz do ano (Prêmio Django Reihnardt, da Academie de Jazz), melhor cd de jazz do ano (Smiles, prêmio Victoire de Jazz) e dois Django de Ouro como melhor músico e pelo melhor cd.

Sua genialidade pode ser apreciada, por exemplo, com sua antológica interpretação jazzística da La Marseillaise (cd "Jacky Terrasson a Paris") e o show de musicalidade e competência que dá com Mo Better Blues (cd "Smile"). Esse cara é um monstro!

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Viagem de Lula ao Irã atrai atenção das grandes potências

A viagem de Lula ao Irã por dois dias, a partir de amanhã, cresceu enormemente de importância e atrai a atenção de todos, e em especial dos Estados Unidos. Fontes americanas teriam dito que essa é "a última chance do Irã de livrar-se das sanções econômicas por causa de seu programa nuclear".

Para o jornal britânico Financial Times essa iniciativa brasileira representa um desafio à política externa americana, e pode significar o início de um antagonismo entre os dois países no cenário internacional e um repensar, pelos americanos, de suas relações político-estratégicas com os brasileiros.  Ao compartilhar com o Brasil uma solução negociada com os iranianos em lugar de sanções econômicas, a Turquia, um aliado estratégico de grande importância para os Estados Unidos e o Ocidente, quer firmar também uma nova postura e um novo espaço próprio em negociações estratégicas internacionais, criando também um desafio aos americanos nessa área.

Nelson Rodrigues, um gênio polêmico

Nelson Falcão Rodrigues nasceu no Recife em 23 de agosto de 1912, quinto dos quatorze filhos do casal Maria Esther Falcão e Mário Rodrigues. Por problemas políticos, seu pai, jornalista do Jornal do Recife e deputado, resolve transferir-se para o Rio para trabalhar no Correio da Manhã como redator parlamentar, aqui chegando com a família em julho de 1916.

Consta que aos 8 anos Nelson ganhou um concurso de redação na sua classe na escola, no qual o tema era livre. Escandalizou sua professora e o corpo docente escrevendo uma história de adultério. O marido chega em casa, entra no quarto, vê a mulher nua na cama e o vulto de um homem pulando pela janela e sumindo pela madrugada. Ele pega uma faca e mata a mulher, depois ajoelha-se e perde perdão. Apesar do tema, a qualidade da redação fez com que Nelson Rodrigues fosse premiado.

Nelson Rodrigues descobriu o Fluminense em 1919, primeiro ano do tricampeonato tricolor. Seu irmão Mário Filho tornou-se um famoso jornalista esportivo, e seu nome é o nome oficial do estádio do Maracanã.

Nelson Rodrigues começou sua carreira jornalística em 29/12/25, com apenas 13 anos, no jornal do pai, A Manhã, onde trabalhou também o Barão de Itararé. Faleceu na manhã de 21/12/1980, um domingo. Neste mesmo dia, à tarde, faria 13 pontos na loteria esportiva com seu irmão Augusto e alguns amigos de O Globo. Deixou 11 romances, vários contos e crônicas, e 17 peças teatrais.

Fez ele mesmo sua própria definição:

"Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico."

A seguir, algumas de suas grandes frases:
  • O jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um: -- o da imaturidade. 

  • A grande vaia é mil vezes mais forte, mais poderosa, mais nobre do que a grande apoteose. Os admiradores corrompem.

  • O brasileiro não está preparado para ser "o maior do mundo" em coisa alguma. Ser "o maior do mundo" em qualquer coisa, mesmo em cuspe à distância, implica uma grave, pesada e sufocante responsabilidade.

  • Ou a mulher é fria ou morde. Sem dentada não há amor possível.

  • O homem não nasceu para ser grande. Um mínimo de grandeza já o desumaniza. Por exemplo: -- um ministro. Não é nada, dirão. Mas o fato de ser ministro já o empalha. É como se ele tivesse algodão por dentro, e não entranhas vivas.

  • Assim como há uma rua Voluntários da Pátria, podia haver uma outra que se chamasse, inversamente, rua Traidores da Pátria.
  • A mais tola das virtudes é a idade. Que significa ter quinze, dezessete, dezoito ou vinte anos? Há pulhas, há imbecis, há santos, há gênios de todas as idades.
  • Está se deteriorando a bondade brasileira. De quinze em quinze minutos aumenta o desgaste de nossa delicadeza.

  • Deus está nas coincidências.
  • Invejo a burrice, porque é eterna.
  • Nem todas as mulheres gostam de apanhar, só as normais.
  • O dinheiro compra até o amor verdadeiro.
  • Só o inimigo não trai nunca.
  • A platéia só é respeitosa quando não está a entender nada.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Já tem gente torcendo o nariz para Lula e o Brasil no exterior

Já há sinais reiterados, de políticos e da mídia no exterior, de desconforto e insatisfação com a política externa estilo "barata-voa" de Lula. Revistas como a The Economist e a Newsweek, e jornais como o New York Times e o Washington Post por mais de uma vez classificaram como desonesto e nocivo (rogue) o estilo lulista de acender velas a Deus e ao diabo, bajulando ou sendo leniente com figuras do estofo de Hugo Chávez, Fidel Castro e Mahmoud Ahmadinejad, e se autopromovendo como interlocutor de Obama, Sarkozy e outros líderes democratas em temas os mais variados.

O excesso de protagonismo de Lula também começa a incomodar, o cara não perde uma chance de deitar falação sobre qualquer assunto na esfera internacional, muitas vezes sobre temas em que o Brasil não tem qualquer vivência ou experiência, ou neles apenas engatinha, em um estilo populista que nada tem a ver com quem pretensiosamente se julga um estadista, ou pretende um dia sê-lo. E aí ele mete os pés pelas mãos, e prejudica enormemente o acalentado sonho de se ter o Brasil com assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Vale ler a Newsweek que está nas bancas sobre a atuação de Lula e do Brasil no cenário internacional.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Um vulcão, cujo nome é um palavrão, mexe com o mundo

Depois de "dormir" por quase 2 séculos (sua erupção anterior deu-se em 1821, e durou dois anos -- antes disto ele havia entrado em erupção em 920 e em 1612) o vulcão Eyafjallajökull (que, em tradução literal do islandês, significa glaciar de montanha islandesa), situado em uma das menores calotas glaciais da Islândia, entrou em atividade há cerca de um mês e desde então vem infernizando a vida dos europeus e de milhares de pessoas de outras partes do mundo. Além dos efeitos imediatos sobre o tráfego aéreo na Europa, com prejuízos de bilhões de euros, não se tem ainda noção exata de seus danos sobre o clima e o meio ambiente como um todo, a médio e longo prazos.

O artigo abaixo, publicado no Wall Street Journal de 16/4/2010, faz uma boa síntese sobre o assunto.


Wall Street Journal
Friday, April 16, 2010.

A Natural Event, With Extreme Global Consequence
By GAUTAM NAIK

The eruption of a volcano in Iceland is a stark reminder of how these dramatic events can affect people and places thousands of miles from the actual explosion and, in some cases, for years to come.

Some of the biggest eruptions have killed thousands of people who got caught in their lava flow. Other eruptions have caused acid rain, depleted the earth's ozone layer and even temporarily cooled the planet.

The event in Iceland is relatively small—but if the eruptions continue, the effects could get worse.

Though Iceland has plenty of volcanoes, few actually erupt. The current one started to show worrisome levels of activity around March 21, spewing out gases and ash. Flash-flood risks have forced hundreds of people to flee from near the glacier.

Volcanic ash isn't really ash; it is composed of tiny bits of jagged rock and glass. It is hard and abrasive; it doesn't dissolve in water, and can be spread by the wind.

Ash from the Icelandic eruption was picked up by winds accompanying the Gulf Stream.

Winds at a height of between 30,000 to 36,000 feet—just below the cruising elevation for jets—then carried the ash toward the U.K. and elsewhere in Europe.

If the volcano continues to erupt, and if its ash has a high proportion of sulfur, it can mix with the water vapor in the air and form a weak broth of sulfuric acid, coming down as acid rain.

"But it's hard to say whether that's a problem right now," said Robert Trombley, a former Air Force pilot and now director and of the International Volcano Research Centre, a private organization in Apache Junction, Ariz., which monitors the activity of more than 500 volcanoes every day.

While a large-scale eruption may last only a few days, the tremendous outpouring of gas and ash can have a long-term impact on the climate.

In what is known as the "haze effect," the sulfuric gas gets converted into sulfate aerosols—extremely tiny droplets that reflect more of the incoming solar radiation back into space, thus cooling the lower atmosphere.

There's a countervailing effect, too. Because volcano-produced aerosols can absorb terrestrial radiation, they can act in the opposite manner, to raise the temperature. Both the cooling and warming outcomes can last for several years.

Scientists often find it easier to predict a volcanic eruption, based on certain tell-tale signs, than an earthquake.

There was little warning, however, from under Iceland's Eyjafjallajokull glacier, where the volcano came to life last month after being dormant for nearly 200 years.



terça-feira, 11 de maio de 2010

As urnas e suas surpresas

Assim como o clima, as urnas estão espalhando surpresas pelo mundo afora ...



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Por Reuters, reuters.com, Atualizado: 10/5/2010 21:47
Oposição conquista maioria de governos locais no Uruguai
Por Conrado Hornos
MONTEVIDÉU (Reuters) - A oposição de centro-direita do Uruguai conquistou a maioria dos governos locais em eleições regionais, segundo dados oficiais preliminares divulgados nesta segunda-feira, um golpe para o governo, que apostava em ampliar seu domínio no país.
No entanto, a esquerda representada pelo presidente José Mujica saiu vitoriosa na estratégica capital, Montevidéu, embora com uma votação mais baixa que a esperada no pleito de domingo.
Dos 19 departamentos, o Partido Nacional, de centro-direita, ampliará seu controle a 11 localidades das 10 atuais, enquanto que o Partido Colorado, também de centro-direita, aumentou seu domínio de uma a duas.
A coalizão de esquerda Frente Ampla, que controlava oito departamentos, governará seis, entre eles Montevidéu, onde vive a metade dos 3,3 milhões de habitantes do país e que controla desde 1990.
A comunista Ana Olivera, de 56 anos, conquistou o cargo de governadora de Montevidéu e se tornou a primeira mulher eleita para este cargo. Outras duas mulheres estarão à frente de departamentos no interior do país.
Analistas consideraram o resultado da eleição como um golpe para a esquerda governista, apesar de o ex-guerrilheiro Mujica, que governa o país desde março, ter altos índices de popularidade.
Os resultados divulgados pela Corte Eleitoral uruguaia nesta segunda-feira são preliminares e em três departamentos poderão variar devido a votos ainda não computados.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

"Compensações" brasileiras ao Paraguai por causa da usina de Itaipu

A nota conjunta abaixo, firmada pelos chanceleres do Brasil e do Paraguai, é mais um capítulo da política de dobradiça na coluna vertebral que o Itamaraty vem impondo ao país em relação aos paraguaios, consolidada na declaração presidencial brasileiro-paraguaia de 25/7/2009. Trata-se de um crime de lesa-pátria, arquitetado por nossos diplomatas e avalizado por Lula, estranha e absurdamente desdenhado pelo Congresso, pela mídia e pelas associações profissionais (especialmente as de engenheiros e advogados) brasileiros.






Logomarca do Itamaraty
Ministério das Relações Exteriores
Assessoria de Imprensa do Gabinete


Nota nº 286 - 07/05/2010

Comunicado Conjunto dos Ministros das Relações Exteriores da República Federativa do Brasil e da República do Paraguai sobre a construção da Linha de Transmissão entre Itaipu e Villa Hayes

Por mandato do Senhor Presidente da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e do Senhor Presidente da República do Paraguai, Fernando Lugo Méndez, após o Encontro Bilateral realizado na cidade de Ponta Porã, Brasil, em 3 de maio de 2010, subscreve-se o presente

COMUNICADO CONJUNTO


Nessa oportunidade, os Presidentes do Brasil e do Paraguai recordaram o compromisso contido no ponto 10 da Declaração Conjunta assinada em Assunção, em 25 de julho de 2009, relativo à "construção por Itaipu da LT 500 kV entre a SE Itaipu-MD e a SE Villa Hayes. (...) As duas obras serão transferidas sem custo ao Paraguai".

Os Governos da República Federativa do Brasil e da República do Paraguai identificaram, como mecanismo para viabilizar a execução da linha de transmissão de 500 kV no mais breve prazo possível, o Fundo para a Convergência Estrutural e Fortalecimento Institucional do Mercosul (FOCEM). Nesse sentido, os recursos serão repassados pelo FOCEM a ITAIPU, para que execute a obra.

Para este efeito, os dois Governos apresentarão o projeto de forma conjunta, para a utilização dos recursos do FOCEM derivados das contribuições feitas pelo Brasil - tanto as obrigatórias quanto as voluntárias - que beneficiarão o Paraguai.

Levando em consideração que o valor da obra é estimado em US$ 400.000.000 (quatrocentos milhões de dólares), desse montante, US$ 100.000.000 (cem milhões de dólares) virão de contribuições obrigatórias brasileiras e até US$ 300.000.000 (trezentos milhões de dólares) de contribuições voluntárias do Brasil.

Nessa oportunidade, os Presidentes determinaram que a Entidade Binacional ITAIPU e a Administración Nacional de Electricidad (ANDE) adotem as providências necessárias para a pronta execução da obra, cuja conclusão está prevista para o mês de dezembro de 2012.

Assinado em 5 de maio de 2010

Celso Amorim
Ministro das Relações Exteriores da República Federativa do Brasil

Héctor Lacognata
Ministro das Relações Exteriores da República do Paraguai


As eleições na Inglaterra (2)

Na mensagem anterior, sobre as eleições inglesas, cometi um equívoco: Gordon Brown não anunciou sua renúncia ao cargo de Primeiro-Ministro, mas sim ao de líder do Partido Trabalhista (e, assim mesmo, disse que isto pode ocorrer até setembro). A questão de sua eventual renúncia ao cargo de PM ficou nebulosa.

Tempos complicados podem surgir em breve para o país no front econômico

Parece que o governo, com a cumplicidade de todos os partidos, está plageando o vulcão finlandês e criando sua nuvemzinha particular para encobrir os riscos que ameaçam a economia brasileira e, consequentemente, nosso futuro. Vale a pena dar uma olhadela no artigo abaixo, escrito pelo ex-ministro Rubens Ricupero, na Folha de S. Paulo de ontem (09/5/10).


Folha Online






Experimente a nova Folha Digital
Domingo, 09 de maio de 2010
Dinheiro
Câmbio mata
Rubens Ricupero

Parecem estar contados os dias de saldo comercial; é bom apertar os cintos para o mergulho na montanha-russa

O CÂMBIO já está estrangulando o setor de maior tecnologia e valor agregado de nossa indústria (eletrônica, farmacêutica, química, automobilística e maquinaria). Apenas nos três primeiros meses do ano esse setor teve o chocante deficit de US$ 13,6 bilhões, maior do que em todo o ano de 2006 e superior em 42% ao do mesmo período do ano passado.
Os dados do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) servem de necrológio à indústria brasileira, mostrando que o câmbio continua sendo tão mortal como no tempo da advertência de Mário Henrique Simonsen. A tendência está colada à apreciação do real e ao declínio do saldo comercial em geral, que em abril foi o menor em oito anos, tendo caído nada menos que 65% em comparação ao de abril de 2009.
Aliás, parecem estar contados os dias de saldo comercial, uma vez que as importações estão crescendo em ritmo quase duas vezes maior do que as exportações (65% ante 23%).

É bom apertar os cintos para o mergulho na montanha-russa, já que o fim do saldo comercial elimina o único fator que compensava em parte o aumento vertiginoso de todos os demais componentes do deficit em conta-corrente.
Essa é a cara oculta da atual euforia com o crescimento puxado somente pelo consumo do governo e das pessoas, com baixa poupança e pouco investimento. Cada vez se depende mais de recursos de fora para cobrir o buraco, e a desindustrialização precoce entra no segundo estágio de agravamento. No primeiro, as importações substituem os componentes locais, mas o produto continua a ser montado no Brasil; no segundo, importa-se o produto pronto e as indústrias se tornam meras distribuidoras e prestadoras de assistência.
A situação tende a piorar com as elevações de juro que o Banco Central terá de realizar para segurar o superaquecimento do consumo. As previsões de que no fim do ano o dólar se aproxime de R$ 1,60 ou menos vão sacrificar ainda mais os manufaturados. Até agora a valorização dos primários pela demanda da China tem atenuado a deterioração do comércio exterior. É um erro, porém, imaginar que as commodities aguentam qualquer valorização da moeda.
Tenho idade bastante para me lembrar do tempo em que quase todos os produtos primários brasileiros eram gravosos, isto é, seu custo de produção superava, devido ao câmbio, o preço internacional.
Quando as cotações também caem, como sucede no momento com muitos produtos agrícolas, a renda do campo sofre duplo golpe: preço e câmbio.
De onde poderá vir o socorro às contas externas se o panorama negativo se acentuar, como vem acontecendo há anos? Do petróleo? É o que já ocorre, como mostra Raquel Landim em perceptivo comentário em "O Estado de S. Paulo" (4/5/10).
Nele se aprende que o petróleo passou a ser o principal item das exportações, quase 10% do total! Sem ele, as vendas externas cresceram apenas 16%, agravando o descompasso com o aumento das importações.
Está aí um bom tema para o debate eleitoral. Em vez da discussão pueril sobre qual governo foi melhor, por que não debater como evitar que o Brasil vire uma grande Venezuela, onde 96% das exportações vêm das commodities? Sem mexer no câmbio, como melhorar a competitividade? Com esses juros? Com a infraestrutura em pedaços? Com carga tributária o dobro da da China? Com a redução da semana de trabalho?

As eleições na Inglaterra

Coloco-me entre os simples mortais que têm grande (p'ra não dizer enorme) dificuldade para entender o mecanismo que rege as eleições inglesas. Talvez por razões genéticas, por seus laços com o povo da Union Jack, o sistema eleitoral americano também me é extremamente opaco.

Agora os ingleses estão metidos num imbróglio político que só eles mesmos poderiam criar e saberão desatar. Os Conservadores não conseguiram votos necessários para assumir o controle do governo, e agora terão que se entender com os trabalhistas e os lib-dem para tentar conseguir um lastro para isso. O PM Gordon Brown anunciou há pouco sua disposição de renunciar ao cargo, para facilitar uma solução rápida para a crise.

Tudo isso acontece num momento conturbado também economicamente,  temperado com uma uma crise sem precedentes no transporte aéreo europeu por conta do vulcão islandês, com a Grécia na beira do abismo, Portugal e Espanha ameaçados de entrar no vácuo grego, e outras cositas más. Vamos ver como os fleugmáticos ingleses sairão de mais uma crise.

domingo, 9 de maio de 2010

De volta à realidade

A gente passa uns dias longe do país, recarrega as baterias, e volta achando que vai encontrar um país melhorado, mas em poucos minutos descobre-se que continua tudo a lesma lerda.

Liga-se a televisão, e na primeira zapeada pela TV Brasil (um canal estatal) vê-se a malandragem da candidata Dilma Rousseff posando de mãe numa campanha contra as drogas, achando que os espectadores são uns idiotas que não perceberão que se trata de propaganda política mal disfarçada. Abre-se o jornal, e na seção de esportes toma-se conhecimento de que a FIFA está aborrecidíssima com o Brasil, que até agora só fez descumprir prazos acordados por escrito para a Copa do Mundo de 2014. Na fronteira entre as seções de política e polícia (mais p'ra segunda que p'ra primeira) fica-se sabendo que o delegado Romeu Tuma Jr., secretário nacional de Justiça (mais uma raposa dentro de um galinheiro) está envolvidíssimo com um chinês preso em 2009 sob acusação de contrabando e, recentemente, tentou pessoalmente liberar um grupo de "amigos" presos no Galeão quando tentavam deixar o país com 160 mil dólares em dinheiro.

Aí a gente fecha o jornal, desliga a tv e começa logo a fazer contas, checar o dinheirinho que estiver "sobrando", e começa a ficar aflito para fugir novamente dessa esculhambação.

Provença e Paris: impressões gastronômicas de uma viagem

A Provença é inegavelmente uma das regiões mais charmosas e interessantes da França, a ser descoberta aos poucos, em mais de uma viagem. Suas cidadezinhas medievais, seus aromas, suas cores e sua culinária compõem um quadro inesquecível. Aponto a seguir alguns destaques, positivos e negativos, da viagem que ali fiz com minha mulher de 23/4 a 03/5:
  • Melhor hotel: o Le Saint-Paul, em St-Paul-de-Vence, uma charmosa cidadezinha rodeada de muralhas do século 16 -- o hotel fica bem no centro, onde não circulam carros, o serviço é impecável e a comida das melhores (seu restaurante tem 1 estrela do Guia Michelin).
  • Bela surpresa: o restaurante Les Terraces du Bassin, debruçado sobre o rio Sorgue, no lado mais pitoresco e bonito da cidadezinha de L'Isle-sur-la-Sorgue, considerada o segundo maior centro de antiquários da França, depois de Paris.
  • A grande decepção: o restaurante La Maison Jaune, um estrelado Michelin (1*) na cidadezinha de St-Rémy-de-Provence. A decoração é pobre (o que torna o ambiente meio deprê), o cardápio é mínimo, com pouquíssimas opções, a comida apenas sofrível, e o serviço é robótico, com o calor de uma pedra de gelo.
  • Outros bons restaurantes: o La Regalido, em Fontvieille, o Maison Bru (um 2* Michelin em Eygalières), e o Château de Pizay, perto de Belleville (na região de Lyon Drôme Ardèche).
Em Paris tivemos três boas escolhas em termos de restaurantes: o Au Bon Accueil, um Bib Gourmand do Michelin (boa comida a bom preço), o Romantica Café (96 Blvd de la Tour-Maubourg, Paris 75007, tel. (0)1 44 18 36 37), de comida italiana, e o Le Chiberta (que tem 1* do Michelin). Para não perdermos o costume, fomos mais uma vez ao Les Jardins de Saint-Germain, um minúsculo e simpático restaurante na Rue du Dragon 14 (quase esquina com o Boulevard Saint-Germain, e pertíssimo dos badalados Café de Flore e do café Les Deux Magots), que faz um confit de canard p'ra ninguém botar defeito.

domingo, 2 de maio de 2010

Breve retomada do Blog

Retorno no dia 8/5 ao Brasil e no dia 9/5 o blog serah reativado. Grande abraço a todos.