terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Brasileiros nas contas suspeitas do banco HSBC

Quando se trata de mutretas e contas secretas ou suspeitas, brasileiros -- pessoas físicas e jurídicas -- marcam presença com destaque. O recente escândalo -- ainda em ebulição -- da filial suíça do banco inglês HSBC comprova isso.

Segundo o site G1, uma investigação batizada de "SwissLeaks" que teve dados publicados pelo jornal francês "Le Monde" aponta que várias personalidades políticas, do mundo do entretenimento, do esporte ou dos negócios estão envolvidas em um caso de fraude fiscal com suas contas no banco HSBC. Os clientes teriam utilizado artifícios para manter em suas contas dinheiro não declarado entre 2005 e 2007.

As informações foram retiradas do HSBC Suíça pelo ex-funcionário Hervé Falciani. Os dados apontam que quase US$ 180 bilhões teriam transitado por contas do HSBC em Genebra para fraudar o fisco, lavar dinheiro sujo ou financiar o terrorismo internacional. Segundo France Presse, o Brasil aparece como o nono país da lista, com US$ 7 bilhões nas contas no período em questão. Segundo os arquivos, 8.667 clientes tinham algum vínculo com o Brasil, sendo 55% com a nacionalidade brasileira.

O jornal espanhol El País publicou a lista dos clientes envolvidos com a denúncia de fraude no HSBC, por total de depósitos e por números de clientes de cada país identificado:




Como se vê, o Brasil é o nono país da lista em termos de valor das contas em milhões de dólares e o quarto colocado em número de clientes.

A Venezuela possuía 13 bilhões de dólares em depósitos no HSBC da Suíça. É apontado como principal envolvido Alejandro Andrade, ex-segurança de Hugo Chávez, que foi presidente da Secretaria do Tesouro entre 2007 e 2010 e presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico da Venezuela (Bandes), segundo a AFP.

Segundo novamente o site G1, os dados coletados por Hervé Falciani eram conhecidos apenas pela Justiça e algumas administrações fiscais, mas alguns elementos acabaram sendo divulgados para a imprensa. O jornal "Le Monde" teve acesso aos dados bancários de mais de 100 mil clientes e passou a informação ao Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ na sigla em inglês), que tem sede em Washington. O ICIJ compartilhou as informações com quase 50 meios de comunicação internacionais, e os dados foram analisados por 154 repórteres de 47 países, segundo a France Presse.

Também está na lista o jogador de futebol uruguaio Diego Forlán, que nega peremptoriamente a prática de fraude fiscal. O empresário Álvaro Noboa, que foi candidato à presidência equatoriana, também foi cidado, diz a AFP. Entre outros nomes mencionados pela imprensa figuram o rei Mohamed VI de Marrocos e o rei Abdullah II da Jordânia, personalidades da moda como a modelo Elle McPherson e a estilista Diane von Fürstenberg, a atriz Joan Collins, o piloto de motos italiano Valentino Rossi, o piloto espanhol de Fórmula 1 Fernando Alonso, o ator americano John Malkovich e o humorista francês Gad Elmaleh, segundo a AFP.

Na França, o "Le Monde" cita Jacques Dessange, fundador de uma rede de salões de beleza, titular de uma conta na filial suíça do HSBC que chegou a ter até 1,6 milhão de euros entre 2006 e 2007, segundo os arquivos consultados. Tanto Elmaleh como Dessange pagaram multas para regularizar a situação, segundo o jornal. O jornal suíço "Le Temps" destaca nomes de personalidades expostas politicamente, como Rami Majluf, primo do presidente sírio Bashar al-Assad.

Segundo o jornal Estadão, entre as personalidades brasileiras estava Edmond Safra.

Segundo ainda o Estadão, a lista roubada e publicada por Falciani incluí desde traficantes de drogas, de armas, ditadores até nomes famosos do mundo da música e do esporte, num total de US$ 100 bilhões. Os documentos são apenas uma parte do que seria o sistema bancário suíço, duramente criticado por autoridades de todo o mundo por permitir a existência de contas secretas e ser uma espécie de “buraco negro” no sistema financeiro internacional.

No caso do Brasil, as contas registradas existem desde os anos 70 e o período avaliado perdura até o ano de 2006. Na maior das contas, os documentos apontam para mais de US$ 300 milhões em apenas um nome.

Pelos documentos, porém, o que se revela é que o crime organizado sul-americano usou as contas do HSBC para lavar dinheiro da droga e não se exclui que parte das contas tinham relações com organizações criminosas.

Atingindo todas as partes do mundo, a lista das contas traz pessoas como Gennady Timchenko, um bilionário russo associado ao presidente Vladimir Putin e que hoje é alvo de sanções da UE pela guerra na Ucrânia. A lista também aponta contas em nome de assistentes do ex-presidente do Haiti, Jean Claude “Baby Doc” Duvalier, e de Rami Makhlouf, um primo e aliado do presidente da Síria, Bashar al Assad. Outro nome é a de Li Xiaolin, filha do ex-primeiro ministro chinês Li Peng, responsável pela repressão na Praça Tiananmen, além de príncipes e de membros da monarquia de toda a Europa.

Em uma resposta oficial, o HSBC indica que reconhece que os controles sobre a origem do dinheiro no passado nem sempre foram corretos. Mas garante que, desde 2007, o banco “tomou passos significativos para implementar reformas e expulsar clientes que não atendiam aos padrões HSBC”. Segundo o banco, como resultado disso, a instituição na Suíça perdeu quase 70% de seus clientes desde 2007.

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