'Nova gasolina' poderá provocar diversos problemas nos carros, como queda no desempenho e falha no software nos carros importados e desregular o carburador e corroer componentes de motores de veículos mais antigos
Mais uma vez, a corda arrebentou no lado mais fraco. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) se antecipou ao governo federal e anunciou que, a partir de 16 de fevereiro, em plena folia momesca, o teor de etanol na gasolina será de 27% no lugar dos 25% usados atualmente. A medida não contempla a gasolina premium, que continua a ter o percentual de 25%. A decisão conjunta foi tomada na segunda-feira, em reunião que contou com representantes da Casa Civil, além de integrantes de outros ministérios, da Anfavea e do setor sucroalcooleiro.
Se a medida for aprovada nesses termos, os veículos a gasolina poderão apresentar problemas, principalmente os modelos mais antigos. Para Edson Orikassa, da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva, o aumento do percentual de etanol na gasolina pode provocar uma reação química nos polímeros que estão em contato com o combustível (como vedações, mangueiras, tubos e o próprio tanque), podendo causar até vazamento de combustível. Segundo Orikassa, outro problema decorrente disso seria a necessidade de uma nova regulagem no carburador desses veículos.
O engenheiro também prevê problemas para os importados, uma queda na performance do motor e falhas provenientes do processamento incorreto do software do veículo frente à nova mistura. De acordo com Mauricio Assumpção Trielli, professor de engenharia mecânica do Centro Universitário FEI e especialista em motores e combustíveis, também existe uma preocupação quanto à deformação de materiais nos veículos importados.
Apesar de os veículos flex estarem preparados para a mistura de gasolina e etanol em qualquer proporção, os proprietários vão amargar algum prejuízo, nem que seja o fato de estar pagando por gasolina e levando ainda mais etanol. Para esses , o mínimo que se pode esperar é no consumo de combustível. Trielli afirma que a mudança também não traz muito benefício ambiental, já que, se por um lado ocorre a diminuição do monóxido de carbono, por outro aumenta a emissão de aldeídos.
De acordo com a Anfavea, a conclusão dos testes de durabilidade se dará em meados de março, um mês depois da adoção oficial do novo combustível. Por isso, a entidade recomenda que os veículos com motor movidos a gasolina utilizem a premium, que não terá a porcentagem alterada. Porém, na prática, o proprietário de um veículo importado tem condições de abastecer com o combustível premium, mas o dono de um veículo mais velho não tem a mesma oportunidade e é ele quem vai pagar o pato.
A Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo) se manifestou sobre a necessidade de realização de testes de durabilidade capazes de detectar o desgaste de peças e componentes das motocicletas com a maior utilização do etanol na gasolina, a fim de obter uma avaliação mais precisa sobre os efeitos da nova mistura.
[O site novaCana.com é bastante completo e didático na apresentação do etanol como combustível veicular, em seus inúmeros e múltiplos aspectos. Ver também "Etanol (álcool): tudo sobre esse biocombustível".
A Anfavea recomenda que consumidores não usem a gasolina com 27% de álcool enquanto os testes de durabilidade não forem concluídos, o que só ocorrerá em março.
Quando a proposta de elevação da mistura foi apresentada, ficou acertado que seriam realizados dois tipos de testes, de desempenho e de durabilidade. O primeiro foi concluído e não encontrou problema, já o segundo só será concluído em março e uma nova reunião sobre o assunto está marcada para abril. Novamente o padrão Dilma NPS na adoção de medidas que impactam o bolso do contribuinte e a economia: assim como fez com a conta de luz (e quebrou a cara), a madame alardeia o aumento de etanol na gasolina pelo menos 1,5 mês antes da indústria automobilística se pronunciar tecnicamente sobre isso.
Reportagem publicada pelo jornal Gazeta do Povo em abril de 2013 informa que o rendimento do etanol nos carros flex é, em média, 32% mais baixo que o da gasolina, tanto na cidade quanto na estrada. Por isso, em grande parte dos veículos só compensa abastecer com álcool se ele custar, no máximo, 68% do preço do combustível fóssil.
A estimativa foi feita pela Gazeta do Povo com base em dados do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular naquele ano de 2013. Na edição deste ano, o Inmetro testou 360 modelos à venda no país, dos quais 230 bicombustíveis. Os testes mostram que a “regra dos 70%” – pela qual o etanol deixa de ser vantajoso quando seu preço passa de 70% do valor da gasolina – não serve para a maioria dos automóveis.
Embora essa fórmula leve em conta o poder calorífico dos dois combustíveis, o fato é que cada motor flex tem uma calibragem. E a maioria privilegia o uso de gasolina. No trânsito urbano, apenas 23 modelos bicombustíveis testados pelo Inmetro conseguiram, com álcool, um rendimento igual ou superior a 70% do alcançado com a gasolina. Na estrada, 29 atingiram esse desempenho.
É importante ressaltar que um motor com baixo rendimento do álcool em relação à gasolina não é, necessariamente, “beberrão”. Exemplo disso é o Renault Clio 1.0. Com ambos os combustíveis, ele foi o carro flex de menor consumo nos testes do Inmetro; mesmo assim, a eficiência do álcool nesse veículo ficou abaixo de 70% da atingida pela gasolina.
Em Curitiba e boa parte do Paraná, conhecer a relação etanol/gasolina de seu carro era quase irrelevante até poucos anos atrás. Entre 2003 e 2010, o álcool foi quase sempre bem mais barato – na média desse período, ele foi vendido pelo equivalente a 61% do preço da gasolina. De 2011 para cá, no entanto, o encarecimento do etanol tornou a gasolina mais competitiva. E, mesmo com os aumentos recentes, ela ainda é a opção mais econômica.
Nos últimos anos, a perda de competitividade derrubou o consumo de etanol. Em 2012, foram vendidos 9,9 bilhões de litros no país, 40% abaixo do recorde alcançado três anos antes. Em compensação, a demanda por gasolina avança sem freios: cresceu 56% desde 2009 e, no ano passado, beirou os 40 bilhões de litros.
O Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular é conduzido pelo Inmetro, que, em testes de laboratório, mede o consumo de combustíveis e a emissão de poluentes de veículos à venda no país. Para simular situações reais de uso, o Inmetro usa um fator de ajuste que “embute” no resultado final aspectos como qualidade do combustível, estado dos pneus, uso de ar-condicionado, conservação de vias e diferentes maneiras de dirigir. A adesão das montadoras ao programa é voluntária – os 360 modelos testados em 2013 correspondem a 83% do mercado.
Evolução dos motores flex no Brasil - Ilustração: Gazeta do Povo (2013) - clique na imagem para ampliá-la
O gráfico abaixo, elaborado pelo MME (Ministério de Minas e Energia), mostra a evolução dos preços do açúcar e do petróleo em relação ao preço do etanol de janeiro/2003 a janeiro/2011. Observe-se que nesse gráfico o petróleo estava a US$ 150/barril e hoje está a US$ 59,31.
Fonte: Google
Por falarem gasolina, é interessante dar uma olhada gráfica no seu processo de produção a partir do petróleo:
Esquema de algumas frações do petróleo obtidas pela destilação fracionada, primeira etapa do seu refino*
* Créditos da imagem: Autora: Theresa Knott/ Fonte: Wikimedia Commons
Um barril de petróleo contém 159 litros e está cotado hoje a US$ 59,31 (R$ 165,47) ou seja, o litro do petróleo bruto está hoje custando R$ 1,04. Um barril de petróleo pode produzir até 80 litros de gasolina e várias outras substâncias (ver figura acima). Em outras palavras, cerca de 50% do conteúdo de um barril de petróleo são conversíveis em gasolina; com o preço de hoje do petróleo, cada litro de gasolina sai na produção por cerca de R$ 2,07 a grosso modo. Com o preço da gasolina no posto a cerca de R$ 3,30/litro no RJ após o aumento (contra os R$ 2,07 no refino), só em gasolina a Petrobras passou a faturar R$ 264,00 por barril de petróleo, o que lhe permite comprar 1,6 barril de petróleo bruto. A Petrobras continua sendo uma estatal p'ra lá de original -- o preço do petróleo despenca, mas ela não reduz um centavo no preço da gasolina que produz e vende. O bolso do contribuinte que a sustenta, com toda essa roubalheira que hoje se conhece, não é problema dela.
O estímulo à produção de etanol pode afetar a produção de açúcar, reduzindo-a, e com isso gerar outro tipo de problema. O gráfico de evolução de preços de açúcar, etanol e petróleo evidencia a fronteira de atratividade do açúcar e do etanol para o produtor. Num pé de cana, um terço é açúcar, os outros 70% são pura fibra de celulose, o bagaço.
Uma tonelada de cana de açúcar produz de 85 a 90 litros de álcool. ]
O estímulo à produção de etanol pode afetar a produção de açúcar, reduzindo-a, e com isso gerar outro tipo de problema. O gráfico de evolução de preços de açúcar, etanol e petróleo evidencia a fronteira de atratividade do açúcar e do etanol para o produtor. Num pé de cana, um terço é açúcar, os outros 70% são pura fibra de celulose, o bagaço.
Uma tonelada de cana de açúcar produz de 85 a 90 litros de álcool. ]
(Fonte: Sindaçúcar)
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