[O artigo traduzido abaixo foi publicado no site da revista The Economist em 27/9. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]
Porque é tão difícil avaliar financeiramente uma nova classe de tratamentos de câncer
No final dos anos 1800s, um médico de Nova Iorque observou que ter uma infecção após uma cirurgia ajudava alguns pacientes de câncer. Assim, começou a tratar câncer usando infecções e obteve um pequeno êxito. Mas, muitos médicos eram céticos quanto ao seu trabalho e outros tratamentos como radioterapia e quimioterapia acabaram por tomar lugar, com sucesso. Hoje, entretanto, a indústria farmacêutica entende como os tratamentos dele teriam operado e colocou uma considerável aposta em que a imuno-oncologia -- o tratamento de câncer usando o sistema imunológico do corpo humano -- trará medicamentos avançados.
No início deste mês, uma promissora nova classe de medicamentos de imuno-oncologia foi aprovada pela Autoridade de Medicamentos e Alimentos (FDA, na sigla inglesa) para uso nos EUA. Desenvolvido pela Merck, o pembrolizumab [ver aqui] será usado no tratamento de melanoma avançado, um câncer de pele. Outra empresa farmacêutica americana, a Bristol-Myers Squibb, espera ganhar em breve a aprovação da FDA para seu tratamento de melanoma, o nivolumab, que já está em uso no Japão.
As células cancerígenas têm defesas que inibem o sistema imunológico de atacá-las, mas o pembrolizumab e o nivolumab estão numa classe emergente de medicamentos chamados de "inibidores de barreiras" (checkpoint inhibitors), que superam aquelas defesas por interação com proteínas na superfície ou de células cancerígenas ou das células T do sistema imunológico.
Quatro fabricantes de medicamentos em particular -- AstraZeneca, Roche, Merck e Bristol-Myers Squibb -- estão à busca de novas medicinas de imuno-oncologia. Tem aumentado a evidência de que alguns inibidores de barreiras podem ser eficazes no tratamento de uma faixa de malignidades mais ampla do que se pensava inicialmente. Dois anos atrás a Bristol-Myers informou que o nivolumab reduziu tumores em 28% de pacientes com melanoma, em 27% de pessoas com câncer de rim e em 18% de pessoas com câncer avançado de pulmão. Essas notícias deflagraram o início de um grande número de testes clínicos caros com dezenas de milhares de pacientes.
Analistas estão achando difícil avaliar financeiramente o mercado potencial para esses tratamentos. O banco Citi acha que gerarão vendas de até US$ 35 bilhões por ano, nos próximos dez anos. Leerink Swan, um banco de investimentos, estima isso em US$ 29 bilhões por volta de 2025. Sanford C. Bernstein, uma empresa de pesquisa de capital acionário, avalia por volta de US$ 16 bilhões em 2020. O Decision Resources Group, que analisa a indústria de tratamento de saúde, projeta US$ 9 bilhões por volta de 2022. [É duro e lamentável ver o peso do lado financeiro na avaliação e liberação de medicamentos, mas a indústria farmacêutica movimenta bilhões em pesquisas e seus acionistas querem retorno "justo" para seus investimentos, não importa o lado humanitário do setor.]
Há boas razões para toda essa incerteza. Não se trata de uma condição simples e previsível, como colesterol alto e diabetes. Ninguém sabe ainda sobre quantos cânceres diferentes cada medicamento atuará. Alguns pacientes podem necessitar de apenas poucas doses, o que torna particularmente difícil prever o mercado.
Tim Anderson, um analista da Bernstein, observa que o desenvolvimento de medicamentos contra câncer sempre envolve muita tentativa e erro -- ainda mais em tratamentos como esses, que representam um desvio de paradigma em como atacar a doença. Outra complicação é que alguns inibidores de barreiras podem, isoladamente, atuar em talvez 20% dos pacientes mas podem ser muito mais exitosos quando combinados com outro(s) medicamento(s).
De fato, a indústria farmacêutica está agora num frenesi de parcerias, agendando rapidamente reuniões com seus concorrentes para formar alianças de tratamento. Por exemplo, a Pfizer -- cujo medicamento é chamado crizotinib -- está cooperando em um teste com a Myers e pembrolizumab para tratar um tipo de câncer de pulmão. Outras colaborações combinarão imuno-oncologia com medicamentos convencionais para câncer, ou mesmo com quimioterapia. Com todas essas combinações potenciais de tratamentos, será bem uma batalha para os cientistas, sem falar nos analistas de mercado acionário, para ficar em sintonia com o que acontecer. Mas, pacientes futuros de câncer têm muito em que ter esperança, especialmente se muitos tratamentos concorrentes emergirem já que isso reduzirá seus preços.
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