Aqueles que, como eu, escrevem com alguma frequência para a seção de leitores de qualquer jornal já sentiu na carne mais de uma vez a intromissão não autorizada do jornal no seu texto, editando-o e alterando-o a seu bel prazer. Além de ser um abuso e uma invasão de privacidade, não raro essas intervenções são burras e transferem indevidamente para o signatário do texto uma baboseira que, na realidade, é da redação do jornal -- que no fundo e de fato está se lixando para o ocorrido.
A mensagem explícita ou implícita de que o jornal se reserva o direito de editar o texto da correspondência "por razões de espaço" é recorrente ou simplesmente uma mentira, porque muitas vezes as alterações não mudam em nada o tamanho do texto e só expressam o alter ego de alguém que simplesmente quer fazer o enxerto, pelo prazer de meter o bedelho e exercer sua "autoridade". Mesmo sabendo que, dependendo da besteira que fizer, pode ser processado.
Alguém pode achar que estou fazendo tempestade em copo d'água, mas é pelos pequenos detalhes que se descobrem os grandes problemas. A enorme desproporção entre as dimensões de uma impressão digital e o tamanho de seu portador não a invalida como prova irrefutável para a identificação deste. Além disso, é hipocrisia dos jornais e revistas defender -- justificadamente -- com unhas e dentes sua liberdade de expressão e, por outro lado, se sentir no direito de interferir na liberdade de expressão de seus leitores, alterando o que escrevem.
Outro fato facilmente observável é que os jornais são absolutamente hipócritas e despudoramente autoprotetores na correção de suas falhas e erros. A desproporção entre o erro e sua correção é cínica e irresponsável -- aquele pode vir com destaque em qualquer página do jornal, mas a correção correspondente é feita em letra miúda em rodapé de página secundária, geralmente na seção de expediente do jornal. A menos que haja mandado judicial obrigando a publicação da retificação com o mesmo destaque da deturpação.
Já vivi todas essas situações, na maioria das vezes com O Globo, por ser o jornal que assino, mas tive recentemente uma experiência meio hilária com a Folha de S. Paulo. Via de regra, para não dizer sempre, o processo de edição do jornal em minhas cartas piora, maltrata e distorce o texto, deixando-me ou pau da vida ou com cara de babaca por me atribuírem a paternidade de um monstrengo que não tem o meu DNA. Minha experiência mais recente foi com a seção de cartas do caderno Niterói do Globo deste último domingo. Escrevi que Niterói mais uma vez era usada como solução para os problemas dos cariocas -- que piorou com a migração para cá dos marginais e traficantes expulsos pelas UPPs --, desta vez com a mudança de rota dos "aviões que demandam os aeroportos de Santos Dumont e Galeão", expulsos pelos que reclamaram de seu barulho no outro lado da baía. Pois bem, o artista que controla a publicação das cartas simplesmente trocou a frase entre aspas acima para "aviões que decolam [o grifo é meu] dos aeroportos ...". Como esse cidadão ignora que "demandar" também significa "dirigir-se ou rumar para", atropelou meu texto e alterou radicalmente seu sentido, inutilizando-o, porque na realidade nosso problema do ruído (principalmente no bairro onde moro) é quando os aviões se dirigem para os aeroportos citados, e não quando deles decolam. Uma idiotice da redação do jornal espetada na minha testa, sem que eu tenha a mínima chance de provar que a burrice não é minha.
No dia 14 de junho de 2013 o Globo foi criminosamente irresponsável com as empresas do grupo de Eike, usando toda a primeira página de seu caderno de Economia para simplesmente afirmar que esse grupo era insolvente. Três dias depois, no dia 17, o Globo reconheceu que o que havia escrito era mentira, só que esse mea culpa não teve nem de perto o mesmo destaque da falsidade, saiu modestamente na segunda folha do mesmo caderno de Economia. Isso é molecagem e desrespeito ao leitor e aos investidores daquele grupo. Não importa que as empresas de Eike estejam hoje praticamente insolventes, naquela data o jornal foi irresponsável e cínico.
Em 21 de agosto de 2012, na página nobre do jornal, a dos editoriais, o Globo atropelou o vernáculo, publicando sem alterar o título em português errado -- "Educação que o país precisa" -- de um artigo da professora Marinalva Oliveira, presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições do Ensino Superior (Andes). Uma professora do ensino superior e um dos principais jornais do país explicitando sua ignorância quanto à regência do verbo "precisar". Mandei uma carta ao jornal, comentando o erro e lamentando que ele viesse de uma professora e que o jornal o tivesse endossado. Inútil dizer que minha carta não foi publicada -- imagine se o Globo iria expor pública e ostensivamente seu erro grosseiro de português através da carta de um reles leitor! A correção foi feita com letrinha miúda, no rodapé da segunda página da edição do dia seguinte. [Ver postagem "O português errado da professora e do Globo"]. Detalhe: mandei também um email para a tal professora Marinalva, manifestando-lhe minha preocupação com o nível do português que ela ensinava e/ou transmitia a seus alunos. A madame permaneceu no silêncio ensurdecedor de sua ignorância, certamente sentindo-se honrada e garantida com a "chancela" do Globo ...
Minha experiência meio hilária com a Folha de S. Paulo também é recentíssima, coisa de 2 meses no máximo. Uma reportagem do jornal dizia que determinada pista -- não me lembro se de rodovia ou aeroporto -- estava perigosa por causa da água "empossada" (devia ser proveniente de alguma fonte petista). Escrevi ao jornal apontando a barbaridade, e no mesmo dia me agradeceram dizendo que já haviam feito a correção.
Caro Vasco, sobre esse tema, recentemente, fui torpedeado pq - inadvertidamente - critiquei propaganda da CEF que está sendo veiculada, onde é dito: "Na Caixa, todo mundo é igual." Disse eu: "Igual a quê? Deveriam ter dito que na Caixa todos eram iguais...". Resposta unânime: "O importante é que todos entenderam a mensagem...". Falar o quê? Abs.
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