domingo, 18 de novembro de 2012

Javali, uma praga por onde passa

[O javali, essa espécie de porco selvagem de carne deliciosa, tornou-se um pesadelo nas regiões onde se desenvolve. A edição mais recente da revista francesa Le Figaro Magazine, do início deste mês, traz uma reportagem sobre esse animal que traduzo a seguir em sua essência.]


Revolta contra a "besta negra". Em vários departamentos da França, o número de javalis literalmente explodiu. Eles estão por todo lado. Nas ruas das cidades grandes, como na semana passada no centro de Chambéry [cidade de 57.000 habitantes, na região do vale do Reno e dos Alpes franceses], quando um bando deles em busca de comida semeou o pânico. No campo, onde seus danos anuais montam a mais de 50 milhões de euros. E até mesmos nos jardins e hortas em volta de residências. Mais preocupante ainda, eles já são a origem de mais de 60% dos quase 40.000 acidentes anuais em rodovias envolvendo animais selvagens.

Jamais na França foram vistos tantos javalis: comprovadamente mais de 2 milhões, ou seja quase quatro vezes a soma dos montantes abatidos por caçadores (550.000 em 2010-2011 e 522.000 em 2011-2012). Um fenômeno que afeta não apenas o setor rural, mas que se estende já às grandes aglomerações urbanas. "Se por um lado o número desses animais explodiu", diz Humbert Rambaud, redator-chefe da revista "Jours de chasse" ("Temporadas de caça", em tradução livre), "por outro, as cidades não pararam de crescer, alcançando pouco a pouco o espaço vital dos javalis. Daí as incursões cada vez mais frequentes desses animais em parques, jardins e até mesmo em shoppings".

A multiplicação sem precedentes dos javalis pode ser explicada por uma combinação de vários fatores, frequentemente muito complexos. Em primeiro lugar, a mudanças das práticas agrícolas e, especialmente, o aumento das áreas com plantio de milho, assim como os grandes empreendimentos agrícolas também têm sua responsabilidade. As modificações ocorridas facilitaram o acesso de animais selvagens a uma alimentação abundante. Para tentar remediar isso, os caçadores se viram forçados a recorrer a um processo de alimentação maciço, na floresta, a fim de fixar ali os javalis e evitar que invadam as plantações. Uma decisão de risco que, às vezes, é mais maléfica que benéfica, gerando artificialmente a concentração de populações significativas de animais bem nutridos, que se tornam adultos mais rapidamente e em idade de se acasalar. As condições climáticas mais suaves na primavera, há alguns anos, têm desempenhado também um papel importante no aumento da fecundidade das fêmeas de javalis.  "A taxa média anual de crescimento da população de javalis se situa entre 60% e 200%", informa Antoine Berton, redator-chefe de "Caçador francês". "Em condições ambientais boas e na ausência de um abate razoável por parte de caçadores, uma população pode se desenvolver rapidamente numa região e provocar os problemas que hoje se vêem". 

[No Brasil, o javali já é também fonte de problemas. Introduzido na Argentina e no Uruguai, para criação, o javali-europeu invadiu o sul do Brasil pelo Rio Grande do Sul e vem se espalhando no país -- em fevereiro de 2011 o Ibama apreendeu 41 javalis-europeus em Goiás. Por não ser uma espécie autóctone, não tem predador natural. Fuça tudo, destrói lavouras, ataca criações, provoca o assoreamento dos rios e deixa um rastro de sujeira por onde passa. Procria com o porco doméstico, gerando o javaporco. No Rio Grande do Sul sua caça é liberada e até estimulada pelo Ibama, que em contrapartida estimula a criação da espécie nativa, chamada de queixada. No entanto, em diversas fazendas é feita a criação controlada do javali-europeu e de seus derivados, sobretudo para a exportação de carne, que tem alto valor de mercado. Um javali-europeu adulto macho pode alcançar entre 125 e 180 cm de comprimento, com peso entre 130 e 250 kg, e podem ter até 100 cm de altura -- as fêmeas são menores, e pesam entre 80 e 130 kg.]

Acossada por cães, na França, esse impressionante grupo de javalis parece congelado na trilha, aparentemente incapaz de fugir. Um comportamento estranho para um animal conhecido por sua astúcia e sua combatividade. - (Foto: Stephane Bregeon).

Forte e combativo, o javali constitui a base da caça de grande porte na França e é igualmente pela maior parte de danos diversos à saúde humana, à agricultura e ao meio ambiente.  - (Foto: Dominique Gest).



Guepardo ataca javali africano e sai ferido.

Um comentário:

  1. Estarrecedora notícia!
    Enquanto isso, a fome na África mata mais do que a bandidagem brasileira circulando em motocicletas. Ou quase.

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