O Globo de hoje noticia que a gigantesca estatal chinesa State Grid, responsável pelo fornecimento de energia a 88% do território da China, escolheu o Brasil como um dos destinos de seus investimentos e se instalou no Rio, onde comprou por R$ 205 milhões um prédio inteiro no centro da cidade. Além dos setores tradicionais de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, a State Grid (SG) está interessada também na venda de equipamentos para a produção de energia solar e eólica.
Qualquer notícia envolvendo a venda de produtos chineses é altamente preocupante, qualquer que seja o mercado do planeta, porque a possibilidade de dumping é real e sempre presente. Uma prova disso é que, exato neste momento, a União Europeia (UE) e os EUA estão em guerra aberta contra os fabricantes chineses de painéis fotovoltaicos -- uma das áreas declaradas de interesse da SG no Brasil -- que estariam sendo subsidiados deslealmente pelo governo chinês, segundo notícia do International Herald Tribune (IHT) no dia 8 deste mês (no site) e 9 de novembro na edição impressa.
Na quinta-feira, 8/11, os agentes reguladores da UE ampliaram suas investigações sobre a indústria chinesa de painéis fotovoltaicos, acusando formalmente o governo chinês de subsidiar deslealmente esses fabricantes. Essa medida, no contexto de uma disputa cada vez mais cáustica envolvendo a indústria global de energia limpa, ocorreu um dia depois dos EUA terem tomado uma decisão final de impor uma tributação sobre bilhões de dólares de produtos chineses de energia solar nos próximos cinco anos, para proteger os produtores americanos contra produtos importados mais baratos.
Essa medida veio também em seguida a um pronunciamento do governo chinês na segunda-feira, afirmando que havia entrado com uma reclamação na OMC - Organização Mundial de Comércio contra alguns países da UE, acusando-os de violarem as regras de livre comércio com políticas que favoreciam a compra de equipamentos de energia solar produzidos na Europa.
A Comissão Europeia (CE) já está investigando se fabricantes chineses venderam equipamentos a um preço inferior ao seu custo de fabricação. Essa investigação antidumping é a maior de seu gênero em termos de valor, cobrindo importações procedentes da China no montante de 21 bilhões de euros (cerca de R$ 54,6 bilhões). A investigação anunciada na quinta-feira cobre os mesmos produtos, mas está focada em saber se as autoridades chinesas distorceram a competitividade de seus produtos com práticas tais como suprir silício e vidro a preços inferiores aos de mercado, oferecer empréstimos ou financiamentos a baixo custo, ou isentar as companhias locais de regras regulatórias. Em pronunciamento, a CE afirmou já dispor de evidências suficientes para a abertura da investigação.
A disputa tem provocado divergências no seio das indústrias de equipamentos solares americanas e da UE. Alguns fabricantes, liderados pela empresa alemã SolarWorld, acusam os chineses de dizimarem seus negócios com práticas de comércio desleais. Eles protestaram depois que uma dezena de fabricantes de painéis fotovoltaicos faliu ou reduziu drasticamente sua produção em ambos os lados do Atlântico. Mas, algumas empresas, incluindo muitas que instalam e consertam sistemas de energia solar, dizem que punir os chineses tornará mais difícil gerar empregos e expandir o uso de energia solar como um meio de reduzir poluição e estimular a independência energética. Segundo essas empresas, milhares de empregos nos EUA ficarão sob risco por causa de uma tentativa equivocada de proteger uns poucos fabricantes que representam apenas uma pequena parte da cadeia de valores da área de energia solar.
Os fabricantes chineses desses equipamentos, por outro lado, estão às voltas com um excesso de produtos depois que bancos estatais financiaram uma explosão na construção de tais equipamentos nos últimos quatro anos, o que deixou o país com dois terços da capacidade mundial de produção de equipamentos fotovoltaicos.
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