Entre os países que mais cobram impostos de seus cidadãos e empresas, o Brasil é o que proporciona o pior retorno em serviços públicos e bem-estar aos contribuintes dos recursos que arrecada. É o que mostra estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), que a partir de dados da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da Organização das Nações Unidas (ONU) relativos a 2011, compara a carga tributária dos 30 países que mais arrecadam impostos como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). [Um outro estudo do IBPT mostra que o contribuinte brasileiro trabalha até o dia 29 de maio (ou seja, 5 meses do ano), somente para pagar os tributos (impostos, taxas e contribuições) exigidos pelos governos federal, estadual e municipal. A tributação incidente sobre os rendimentos (salários, honorários, etc.) é formada principalmente pelo Imposto de Renda Pessoa Física, pela contribuição previdenciária (INSS, previdências oficiais) e pelas contribuições sindicais. Além disso, o cidadão paga a tributação sobre o consumo – já inclusa no preço dos produtos e serviços – (PIS, COFINS, ICMS, IPI, ISS, etc) e também a tributação sobre o patrimônio (IPTU, IPVA, ITCMD, ITBI, ITR). Arca ainda com outras tributações, como taxas (limpeza pública, coleta de lixo, emissão de documentos) e contribuições (iluminação pública,...).]
No ranking dos países mais eficientes em converter impostos em bem-estar a seus cidadãos, a Austrália aparece em primeiro lugar, seguida pelos Estados Unidos. O Brasil fica na lanterna, atrás de emergentes do Leste da Europa, como Eslovênia (17º) e República Tcheca (16º), e de vizinhos latino-americanos, como Uruguai (13º) e Argentina (21º).
De acordo com o estudo, o cidadão brasileiro paga em média 30% de impostos diretos quando faz compras no supermercado. Ou seja, de cada R$ 100 gastos, R$ 70 são efetivamente para pagar os produtos e R$ 30 para os tributos. Além disso, o contribuinte tem outras obrigações tributárias como IPTU, IPVA e Imposto de Renda.
Em 2011, os brasileiros pagaram R$ 1,5 trilhão em impostos, ou 36,02% do PIB (soma de bens e serviços produzidos no país), o que significa a 12ª maior carga entre os 30 países. "Não há problema em pagar muito imposto se o cidadão tiver em troca serviços básicos, como saúde, educação e segurança gratuitos e de boa qualidade. Não há por que querer que o Brasil arrecade menos. Mas para onde vai esse R$ 1,5 trilhão? É possível depender da educação e saúde públicas?", indaga João Eloi Olenike, presidente do IBPT.
O especialista em direito tributário Fernando Zilveti, professor da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP), considera que o grande problema brasileiro é o excessivo gasto público, sobretudo por causa do tamanho das folhas de pagamento, tanto nos municípios quanto nos estados e na federação. "A tributação tem de ser alta ou o Brasil não vai tirar o atraso do IDH. Mas nós sofremos com um sério problema de gestão. As máquinas estão inchadas. E não há políticas públicas para a educação, por exemplo. Há apenas o que chamamos de orçamento vinculado, que obriga o investimento de 30% da arrecadação em educação. Aí, constroem escola em vez de aplicar em capacitação profissional. É um problema sério de gestão", critica. [Nossa encantadora e sorridente ex-guerrilheira, que nos foi vendida como boa gestora, até agora está nos devendo.]
Corrigir esse gargalo, no entanto, é tarefa difícil e rende pouca popularidade, diz Zilveti. Como a presidente Dilma Rousseff provavelmente buscará a reeleição, pondera, vai demorar ainda para os brasileiros terem o retorno devido dos seus impostos. "Esse é um problema gerado há muitos anos, há muitos mandatos presidenciais. A base da eleição é sindical. Isso quer dizer que, quem demitir muito funcionário público para desinchar as estruturas, ficará alguns bons anos sem se eleger", acrescenta o especialista.
110 dias de trabalho para pagar imposto
Um estudo do Banco Mundial mostra que o brasileiro gasta anualmente 2.600 horas trabalhando para pagar imposto. Isso é equivalente a 110 dias de trabalho, quase quatro meses. Na Bolívia, trabalha-se 1.080 horas só para pagar as despesas com tributos. [Vê-se que, no caso do Brasil, há uma disparidade de um mês entre os estudos do Banco Mundial e o do IBPT, o que é muita coisa.]
A pedagoga Diva Ribeiro
de Oliveira, de 59 anos, continua trabalhando para conseguir pagar as
contas, embora já receba aposentadoria. Ainda assim, o dinheiro é
curto. Pagar plano de saúde para a sua faixa etária, por exemplo, é
impossível. Depender do sistema público, diz ela, nem pensar. "A quantidade de imposto
que eu pago é um absurdo. Meu salário é tributado na fonte e, quando eu
faço a declaração, volto a pagar. Como não tenho dependentes, não
consigo fazer deduções. O mesmo ocorre com meus gastos com a saúde.
Como faço check-up uma vez ao ano, não atinjo o teto da dedução. O
absurdo é pagar tantos impostos e não ter o retorno", comenta.
O economista da
Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Marcel Solimeo, cita os
países nórdicos como exemplos de nações com carga tributária muito alta
mas com os maiores IDHs do mundo. "Nesses países, o contribuinte está garantido do berço ao túmulo. Só morre de fome quem faz regime", brinca Solimeo.
A fim de despertar a
atenção da sociedade à quantidade excessiva de impostos pagos, desde
2006 o IBPT e a ACSP trabalham para transformar em lei projeto que
torna obrigatório a discriminação de quanto em impostos o cidadão paga
nas notas fiscais de compras no varejo. O projeto é do ex-deputado
federal Guilherme Afif, hoje vice-governador de São Paulo pelo PSD. "Esse é o primeiro passo
para despertar a consciência do cidadão sobre a necessidade da reforma
tributária. Não estou falando contra os impostos, mas saber quanto se
paga", disse Afif. O projeto foi aprovado semana passada na Câmara e aguarda a sanção da presidente Dilma.
O projeto foi aprovado semana passada na Câmara e aguarda a sanção da presidente Dilma.
QUADRO RANKING FINAL DOS 30 PAÍSES PESQUISADOS E O IRBES
DISCRIMINAÇÃO ÍNDICE DE RETORNO AO BEM ESTAR DA SOCIEDADE
RANKING ÍNDICE
RANKING ÍNDICE
30 PAÍSES DE ANO 2011 ANO 2011 OBTIDO RESULTADO
MAIOR TRIBUTAÇÃO C.T. SOBRE PIB IDH IRBES RANKING
AUSTRÁLIA 25,60% 0,929 164,53 1°
ESTADOS UNIDOS 25,10% 0,910 163,49 2°
AUSTRÁLIA 25,60% 0,929 164,53 1°
ESTADOS UNIDOS 25,10% 0,910 163,49 2°
CORÉIA DO SUL 25,90% 0,897 161,46 3°
JAPÃO 27,60% 0,901 159,85 4°
IRLANDA 28,20% 0,908 159,75 5°
JAPÃO 27,60% 0,901 159,85 4°
IRLANDA 28,20% 0,908 159,75 5°
SUIÇA 28,50% 0,903 158,98 6°
CANADÁ 31,00% 0,908 156,53 7°
NOVA ZELÂNDIA 31,70% 0,908 155,73 8°
NOVA ZELÂNDIA 31,70% 0,908 155,73 8°
ESPANHA 31,60% 0,878 153,29 9°
ISRAEL 32,60% 0,888 152,99 10°
ISRAEL 32,60% 0,888 152,99 10°
ESLOVÁQUIA 28,80% 0,834 152,77 11°
GRÉCIA 31,20% 0,861 152,31 12°
URUGUAI 27,18% 0,783 150,30 13°
ISLÂNDIA 36,00% 0,898 149,93 14°
ALEMANHA 37,10% 0,905 149,26 15°
REPÚBLICA TCHECA 35,30% 0,865 147,93 16°
REPÚBLICA TCHECA 35,30% 0,865 147,93 16°
ESLOVÊNIA 36,80% 0,884 147,82 17°
REINO UNIDO 35,50% 0,863 147,53 18°
LUXEMBURGO 37,10% 0,867 146,03 19°
NORUEGA 43,20% 0,943 145,48 20°
ARGENTINA 33,50% 0,797 144,22 21°
HUNGRIA 35,70% 0,816 143,31 22°
ÁUSTRIA 42,10% 0,885 141,81 23°
SUÉCIA 44,05% 0,904 141,15 24°
FINLÂNDIA 43,40% 0,882 140,06 25°
ITÁLIA 42,90% 0,874 139,96 26°
BÉLGICA 44,00% 0,886 139,71 27°
DINAMARCA 45,00% 0,895 139,33 28°
FRANÇA 44,20% 0,884 139,31 29°
BRASIL 36,02% 0,718 134,61 30°
_____________________________________________________
CARGA TRIBUTÁRIA 2011 - FONTE OCDE
IDH 2011 - PREVISÃO- FONTE PNAD - ONU
___________________________________________________________
[A tabela acima permite algumas observações, além da constatação de como somos espoliados no Brasil: - i) a ausência da China, o que é estranho, já que em praticamente todas as outras estatísticas sobre ranking de países ela está presente -- fica a dúvida: quais serão o IDH e o IRBES da China? ... - ii) a Alemanha, maior economia da Europa, está pior colocada que dois países sobre os quais ela tem exercido implacável pressão por austeridade, a Espanha e a Grécia; - iii) mesmo com a enorme evasão de impostos de que é acusada, a Grécia ocupa um honroso 12° lugar, acima da Alemanha e de inúmeros outros países mais pujantes do que ela; - iv) a ausência de Portugal; - v) mesmo com o gigantesco peso dos gastos militares com sua defesa, Israel tem uma carga fiscal moderada no contexto da lista e ocupa um surpreendente 10° lugar (os EUA são outro exemplo nessa linha, com gastos militares estratoféricos, mas são uma economia hors concours); - vi) mesmo cheia de problemas, a Argentina nos dá um banho (além de nos fazer de bobos no comércio bilateral); - vii) Luxemburgo mostra que, pelo menos para ele, ter carga fiscal elevada e ser paraíso fiscal tem sido bom para seus habitantes; - viii) esse tipo de classificação de países se afigura muito mais justo e coerente do que a ultrapassada comparação pura e simples de PIBs.]
O estudo é incompleto e faz o nobre colega seguir uma teoria sem sentido, vendendo a credibilidade de um instituto que pelo conteúdo técnico, só podemos dizer que não tem credibilidade. Comparar percentuais sem os valores absolutos não é matemática, é manipulação de dados. É a mesma coisa 10% do mercado de cocadas e 10% do mercado de foguetes? O mesmo pode se dizer para cargas tributárias. Só é possível comparar cargas tributárias per-capita e ai esse estudo muda completamente. Posso ajudar se quiser.
ResponderExcluirEstou cheio de dúvidas e vou, portanto, deixar de lado os números, sejam absolutos ou relativos.
ResponderExcluirHá alguma dúvida quanto à voracidade dos impostos praticados no Brasil?
Pelo sim ou pelo não, o retorno ao contribuinte se faz através de qual canal estratégico: saúde, educação, segurança, infraestrutura, bem-estar social,... outros?
Há um erro grosseiro nesse estudo do IBPT que muita gente boa está divulgando. Não se compara % de coisas diferentes. PIBs diferentes, populações diferentes... erro na comparação. Se fizer a relação %CT, PIB, População, o Brasil tem 5 vezes menos impostos por pessoa que a maioria desses países que estão a frente dele nesse estudo.
ResponderExcluir