Volta e meia nosso modelo eletrônico de votação é fortemente criticado, e nossas urnas eletrônicas são tachadas de "peneiras". A primeira coisa que acho ridiculamente gozada é que o mesmo pessoal que alega que essas urnas são "inseguras", não tem essa mesma preocupação com a internet de seu banco, com os caixas eletrônicos dos bancos (verdadeiras "urnas" bancárias) e/ou com seus iPhones da vida para fazer transações comerciais! Tenho amigos que se recusam a pagar suas contas pela internet -- alegando "insegurança" -- mas vão pagá-las no caixa eletrônico ... As pessoas se "abrem" para a urna bancária, mas ficam com firulas e temores com a urna do TSE.
A primeira avaliação que faço desse comportamento que considero lamentável, e até mesmo ridículo (que me desculpem os que pensam o contrário), é que se trata de uma enorme ignorância em relação ao tema e uma absoluta incapacidade de comparar situações e fatos de risco praticamente idêntico. Sem falar no despreparo dessas pessoas em sequer desconfiar dessas campanhas difamatórias do voto eletrônico, que visivelmente tentam desqualificar nosso modelo para propiciar o retrocesso a um sistema de votação ideal para o coronelismo de baixa estirpe dos Sarneys e Calheiros da vida que campeia solto na nossa política. Muito recentemente, recebi de um amigo dileto o convite para endossar uma campanha na internet contra nosso voto eletrônico e recusei-me a fazê-lo.
A mais recente estocada contra nossa urna eletrônica está hoje no Globo, no artigo "Nosso sistema de votação é seguro?", de Luiz Roberto Nascimento Silva, que é advogado e foi ministro da Cultura -- por falar nisto, alguém se lembra de algo marcante desse cidadão quando ministro? A argumentação do texto é fragilíssima, não resiste a um peteleco de bom senso. P'ra começar, traz o DNA do complexo de inferioridade quando questiona nossa "ousadia" em adotar o voto eletrônico, quando pergunta se "as economias mais desenvolvidas de EUA, Alemanha, França e Japão são mais atrasadas por continuarem a se utilizar de processos históricos de apuração". Partindo de uma pessoa com curso superior e ex-ministro da Cultura, esse argumento é doloroso. O Dr. Nascimento Silva fala como se as sociedades desses países e a nossa fossem cultural e socialmente idênticas, e ressuscita a chorumela esgarçada do mantra "o que é bom para os EUA é bom para o Brasil". O mais grave, porém, é questionar o nosso direito de ousar e ser diferente.
O ilustra articulista deveria, para começar, lembrar-se da fraude eleitoral na Flórida na eleição presidencial de 2000 que causou a derrota de Al Gore para George W. Bush. Um bom começo seria ler a reportagem da BBC Brasil de 05/11/2006 ("Eleição nos EUA poderá repetir falhas de 2000"), que em sua introdução diz: "O sistema eleitoral em vigor nos Estados Unidos segue sendo deficiente e distorções semelhantes às que foram vistas nas eleições presidenciais de 2000 e 2004 poderão se repetir na votação da próxima terça-feira".
No final do ano passado, um rapaz de 19 anos disse ter fraudado a apuração de votos de uma urna eletrônica para favorecer um grupo político do Rio de Janeiro. A história tem todo o jeito e pinta de ser recurso de alguém que quer aparecer. Que se faça uma investigação séria sobre o fato, e que se tomem as medidas necessárias que as conclusões recomendarem -- alerta ao TSE ou prisão do hacker.
Em março de 2012, o TSE fez o que foi considerado o teste mais técnico e transparente da vulnerabilidade ou não da nossa urna eletrônica, que saiu dele com sua reputação reforçada. Fiz sobre esse teste duas postagens ["Segurança da urna eletrônica brasileira volta a ser manchete (I e II)"]: a primeira em 24/3/2012 e a segunda em 26/3/2012.
O melhor que temos a fazer é deixar de colocar chifre em cabeça de camarão e pelo em casca de ovo, manter nosso espírito inovador e não baixar nunca a vigilância sobre nossa votação eletrônica. Quem sabe teremos um dia políticos (eleitos) com o mesmo padrão de qualidade de nossas urnas eletrônicas ...
Vasco sou tua fã
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