domingo, 12 de janeiro de 2014

A deterioração da economia no governo Dilma NPS

[A prestigiosa revista inglesa The Economist continua marcando firme e de perto o desempenho da economia brasileira, soprando quente no cangote de Dilma NPS (Nosso Pinóquio de Saias), que pelo menos uma vez  reagiu publicamente à revista -- que deve ser chamada pela ex-guerrilheira de "minha querida", sua forma carinhosa e doce de pular na jugular de seus dissidentes. O texto traduzido abaixo foi publicado pela The Economist em 07/12/2013. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Um único dado econômico pode impulsionar ou nocautear a reputação de um político. Isso faz com que se torne tentador apresentar visões furtivas de dados dessa natureza que sejam os mais lisonjeiros, como fez recentemente a presidente brasileira Dilma Rousseff quando disse ao jornal espanhol El País que uma revisão estatística vindoura elevaria o crescimento econômico de 2012 de 0,9% para o valor menos ruim de 1,5%.  O castigo raramente foi tão rápido: em 03 de dezembro o IBGE informou que de fato havia revisado para cima o dado de 2012, mas apenas para 1%.  E anunciou que o PIB encolhera 0,5% no último trimestre, em comparação com o trimestre anterior.



Dados econômicos do Brasil (PIB e preços ao consumidor) em % de aumento sobre o ano anterior a partir de 2010, com a previsão para 2014 - (Fontes: Banco Central/Haver Analytics - Gráfico: The Economist).


Analistas de mercado se apressaram a reduzir as previsões já anêmicas para o crescimento neste ano [2013] e para o próximo (ver gráfico acima). O último trimestre poderia apresentar também uma contração, afirmou o banco de investimentos Nomura, o que colocaria o Brasil tecnicamente em recessão. Mesmo que isso seja evitado, ainda faltando um ano o veredito econômico sobre a presidência de Dilma se apresenta claro. O crescimento médio terá oscilado em torno de 2% e a inflação será de 6%. As finanças públicas terão se deteriorado fortemente, e um déficit de conta-corrente ampliado completará um quadro desanimador.

Dilma Rousseff quase certamente [?!] disputará  a reeleição para um segundo mandato na eleição presidencial de outubro vindouro. Os ajustes necessários para frear a inflação e reparar as finanças públicas prejudicariam o crescimento antes de começar a ajudá-lo, por isso estão sendo postergados. Mas, quanto mais tempo o governo demorar para agir mais drástica terá que ser a correção necessária -- e maior será o risco de que tentar conciliar simultaneamente inflação, gastos públicos e taxa cambial não surta o efeito desejado.

Corretamente, autoridades observam que a maioria das economias emergentes desacelerou em 2013 e que o Brasil cresceu a um saudável pico de 1,8% no segundo trimestre em relação ao primeiro. Mesmo assim, o país está atrás de outras economias. O banco JP Morgan agrupa o Brasil com África do Sul, Índia, Indonésia e Turquia como um país cuja moeda é vulnerável quando o Banco Central americano "reduzir o passo" (isto é, emitir menos moeda) nos meses vindouros. O déficit atual de conta-corrente do Brasil está em 3,7% do PIB, contra 2,4% em 2012. Até a data atual, no ano, o país está com um déficit na balança comercial -- o primeiro desde 2000 -- e viu o Real desvalorizar-se 14% em relação ao dólar.

O Brasil está bem posicionado para suportar um abalo monetário: as reservas internacionais estão em US$ 375 bilhões, e o investimento externo direto mantém-se forte. Um Real mais fraco ajudaria a reduzir o déficit de conta-corrente, mas alimentaria a inflação. Malgrado a fraqueza da economia a inflação está em 5,8% , acima da meta de 4,5% do Banco Central, mesmo com o governo tendo tentado baixar os preços subsidiando a energia elétrica e o transporte público, e impedido a estatal Petrobras de aumentar os preços dos combustíveis. Em 30 de novembro, o governo permitiu que a Petrobras aumentasse o preço da gasolina mas apenas em 4%, o que provocou um tombo de 9% nas ações da empresa (embora tenha havido depois uma ligeira recuperação).

A resistência da inflação, combinada com uma política fiscal relativamente frouxa, forçou o Banco Central a apertar a política monetária mais rapidamente: tendo reduzido sua política de juros para um valor baixo recorde de 7,25% em 2012, o BC elevou-a seis vezes em sete meses até o patamar de 10%. Isso é outro golpe para Dilma Rousseff, que havia alardeado as taxas de juros de apenas um dígito como um dos principais feitos de seu governo. 

Crescimento em queda e várias tentativas malogradas de reativar a economia com cortes de impostos afetaram as receitas do governo. O resultado é que o superavit fiscal primário (i.e. antes do pagamento da dívida) está definhando. Uma meta inicial de 3,1% foi reduzida por mudanças contábeis (incluindo uma pela qual o governo federal não é mais obrigado a cobrir ou compensar as metas fiscais não atingidas por estados e municípios). A meta de fato de cerca de 1,7% do PIB não impedirá o crescimento da dívida pública líquida. Mesmo isso só será alcançado com a ajuda de itens pontuais e de ocorrência única [não rotineiros -- "on-off items"], incluindo pagamentos de concessões de petróleo. Custos de financiamento pesados traduzem que o Brasil está no momento carregando um déficit orçamentário global de 3,5% do PIB.

Agências de classificação de risco disseram que sem uma mudança de rumo o país está sujeito a ser rebaixado de sua posição atual, situada um ponto acima do nível mais baixo de investimento. Marcelo Carvalho, do BNP Paribas, um banco francês, diz que o governo parece pensar que tem um espaço para respirar, que uma avaliação de crédito em queda não seria desastrosa contanto que ele mantenha o grau de investimento e que os preços ao consumidor sensíveis possam ser reprimidos até 2015. A inflação, embora elevada, não está fora de controle. Um programa de melhora da infraestrutura, longamente postergado, está finalmente em andamento. O desemprego está próximo de níveis baixos históricos. Os ganhos salariais reais estão crescendo, ainda que não tão rapidamente como antes. E a popularidade da presidente, fortemente afetada pelos protestos de junho, mostrou alguma recuperação, enquanto nenhum de seus adversários mostrou ainda qualquer sinal de ter decolado. A equipe de Dilma Rousseff pode estar correta em sua avaliação política, mas deixou para si mesma pouco espaço para manobra.



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