Um único dado econômico pode impulsionar ou nocautear a reputação de um político. Isso faz com que se torne tentador apresentar visões furtivas de dados dessa natureza que sejam os mais lisonjeiros, como fez recentemente a presidente brasileira Dilma Rousseff quando disse ao jornal espanhol El País que uma revisão estatística vindoura elevaria o crescimento econômico de 2012 de 0,9% para o valor menos ruim de 1,5%. O castigo raramente foi tão rápido: em 03 de dezembro o IBGE informou que de fato havia revisado para cima o dado de 2012, mas apenas para 1%. E anunciou que o PIB encolhera 0,5% no último trimestre, em comparação com o trimestre anterior.
Dados econômicos do Brasil (PIB e preços ao consumidor) em % de aumento sobre o ano anterior a partir de 2010, com a previsão para 2014 - (Fontes: Banco Central/Haver Analytics - Gráfico: The Economist).
Analistas de mercado se apressaram a reduzir as previsões já anêmicas para o crescimento neste ano [2013] e para o próximo (ver gráfico acima). O último trimestre poderia apresentar também uma contração, afirmou o banco de investimentos Nomura, o que colocaria o Brasil tecnicamente em recessão. Mesmo que isso seja evitado, ainda faltando um ano o veredito econômico sobre a presidência de Dilma se apresenta claro. O crescimento médio terá oscilado em torno de 2% e a inflação será de 6%. As finanças públicas terão se deteriorado fortemente, e um déficit de conta-corrente ampliado completará um quadro desanimador.
Dilma Rousseff quase certamente [?!] disputará a reeleição para um segundo mandato na eleição presidencial de outubro vindouro. Os ajustes necessários para frear a inflação e reparar as finanças públicas prejudicariam o crescimento antes de começar a ajudá-lo, por isso estão sendo postergados. Mas, quanto mais tempo o governo demorar para agir mais drástica terá que ser a correção necessária -- e maior será o risco de que tentar conciliar simultaneamente inflação, gastos públicos e taxa cambial não surta o efeito desejado.
Corretamente, autoridades observam que a maioria das economias emergentes desacelerou em 2013 e que o Brasil cresceu a um saudável pico de 1,8% no segundo trimestre em relação ao primeiro. Mesmo assim, o país está atrás de outras economias. O banco JP Morgan agrupa o Brasil com África do Sul, Índia, Indonésia e Turquia como um país cuja moeda é vulnerável quando o Banco Central americano "reduzir o passo" (isto é, emitir menos moeda) nos meses vindouros. O déficit atual de conta-corrente do Brasil está em 3,7% do PIB, contra 2,4% em 2012. Até a data atual, no ano, o país está com um déficit na balança comercial -- o primeiro desde 2000 -- e viu o Real desvalorizar-se 14% em relação ao dólar.
O Brasil está bem posicionado para suportar um abalo monetário: as reservas internacionais estão em US$ 375 bilhões, e o investimento externo direto mantém-se forte. Um Real mais fraco ajudaria a reduzir o déficit de conta-corrente, mas alimentaria a inflação. Malgrado a fraqueza da economia a inflação está em 5,8% , acima da meta de 4,5% do Banco Central, mesmo com o governo tendo tentado baixar os preços subsidiando a energia elétrica e o transporte público, e impedido a estatal Petrobras de aumentar os preços dos combustíveis. Em 30 de novembro, o governo permitiu que a Petrobras aumentasse o preço da gasolina mas apenas em 4%, o que provocou um tombo de 9% nas ações da empresa (embora tenha havido depois uma ligeira recuperação).
A resistência da inflação, combinada com uma política fiscal relativamente frouxa, forçou o Banco Central a apertar a política monetária mais rapidamente: tendo reduzido sua política de juros para um valor baixo recorde de 7,25% em 2012, o BC elevou-a seis vezes em sete meses até o patamar de 10%. Isso é outro golpe para Dilma Rousseff, que havia alardeado as taxas de juros de apenas um dígito como um dos principais feitos de seu governo.
Crescimento em queda e várias tentativas malogradas de reativar a economia com cortes de impostos afetaram as receitas do governo. O resultado é que o superavit fiscal primário (i.e. antes do pagamento da dívida) está definhando. Uma meta inicial de 3,1% foi reduzida por mudanças contábeis (incluindo uma pela qual o governo federal não é mais obrigado a cobrir ou compensar as metas fiscais não atingidas por estados e municípios). A meta de fato de cerca de 1,7% do PIB não impedirá o crescimento da dívida pública líquida. Mesmo isso só será alcançado com a ajuda de itens pontuais e de ocorrência única [não rotineiros -- "on-off items"], incluindo pagamentos de concessões de petróleo. Custos de financiamento pesados traduzem que o Brasil está no momento carregando um déficit orçamentário global de 3,5% do PIB.
Agências de classificação de risco disseram que sem uma mudança de rumo o país está sujeito a ser rebaixado de sua posição atual, situada um ponto acima do nível mais baixo de investimento. Marcelo Carvalho, do BNP Paribas, um banco francês, diz que o governo parece pensar que tem um espaço para respirar, que uma avaliação de crédito em queda não seria desastrosa contanto que ele mantenha o grau de investimento e que os preços ao consumidor sensíveis possam ser reprimidos até 2015. A inflação, embora elevada, não está fora de controle. Um programa de melhora da infraestrutura, longamente postergado, está finalmente em andamento. O desemprego está próximo de níveis baixos históricos. Os ganhos salariais reais estão crescendo, ainda que não tão rapidamente como antes. E a popularidade da presidente, fortemente afetada pelos protestos de junho, mostrou alguma recuperação, enquanto nenhum de seus adversários mostrou ainda qualquer sinal de ter decolado. A equipe de Dilma Rousseff pode estar correta em sua avaliação política, mas deixou para si mesma pouco espaço para manobra.
Agências de classificação de risco disseram que sem uma mudança de rumo o país está sujeito a ser rebaixado de sua posição atual, situada um ponto acima do nível mais baixo de investimento. Marcelo Carvalho, do BNP Paribas, um banco francês, diz que o governo parece pensar que tem um espaço para respirar, que uma avaliação de crédito em queda não seria desastrosa contanto que ele mantenha o grau de investimento e que os preços ao consumidor sensíveis possam ser reprimidos até 2015. A inflação, embora elevada, não está fora de controle. Um programa de melhora da infraestrutura, longamente postergado, está finalmente em andamento. O desemprego está próximo de níveis baixos históricos. Os ganhos salariais reais estão crescendo, ainda que não tão rapidamente como antes. E a popularidade da presidente, fortemente afetada pelos protestos de junho, mostrou alguma recuperação, enquanto nenhum de seus adversários mostrou ainda qualquer sinal de ter decolado. A equipe de Dilma Rousseff pode estar correta em sua avaliação política, mas deixou para si mesma pouco espaço para manobra.
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