sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Também na política estamos colhendo o que semeamos, e a safra é a pior possível

O processo de impeachment de Dilma Rousseff, que dura já 9 meses e cujo parto está insuportável de se aturar, tem servido para expor a todos, ao vivo e em cores, a baixíssima e péssima qualidade de nossos políticos e de nosso Congresso.

Desde o julgamento na Câmara ao julgamento final no Senado, iniciado formalmente ontem, o que temos visto é um desfilar infindável e repugnante de mediocridades, baixarias, palhaçadas, absoluta falta de educação e de noção de comportamento civilizado, e total alheamento aos interesses do país. Atacam-se e defendem-se, com unhas e dentes, pessoas físicas e o interesse do país é jogado para escanteio porque o que prevalece são sempre os interesses pessoais e partidários.

A reta  final do processo de impeachment, iniciada ontem no Senado Federal, mostrou ao país cenas inacreditáveis de pugilato verbal -- no limiar da agressão física -- em que os parlamentares se comportaram como se estivessem numa zorra total, em que o desempenho se media pelo número de xingamentos e apelidos de baixo coturno trocados entre eles. A chamada Câmara Alta do Congresso Nacional mostrou-se rasteira, mesquinha e medíocre como há muito não se via em quantidade e qualidade. Senadores e senadoras nunca primaram pela ética e bons modos, mas ontem extrapolaram. E hoje a baixaria prosseguiu, no mesmo padrão de imundície.

Não bastassem as lambanças, os malfeitos e as irresponsabilidades de Dilma, ainda  temos que engolir essa lavagem com o péssimo tempero do comportamento indecente dos senadores e senadoras.

Vejamos alguns exemplos do que ressoou ontem no Senado, que parecia mais uma disputa de desafetos juvenis de porre e de bocas imundas do que um debate de juízes que decidirão o destino de uma presidente da República, com todas as consequências inevitáveis e de praxe qualquer que seja o desfecho do julgamento.

Bate-boca e empurrões entre os senadores Renan Calheiros, Gleisi Hoffmann e Lindberg Farias - André Coelho / Agência O Globo
Baixaria I - 25/8/2016

“Aqui não há ninguém com condições de acusar ninguém, nem de julgar. Por isso, dizemos que é uma farsa. Qual é a moral deste Senado para julgar a presidente da República?” Digo eu: pelo menos a senadora se incluiu na totalidade dos sem moral, mesmo porque seria impossível provar que ela tem alguma moral para criticar quem quer que seja em termos de ética.
Gleisi Hoffmann (PT-PR)


“Não sou assaltante de aposentado".
De Ronaldo Caiado (DEM-GO) para Gleisi


“Você é. E você é de trabalhador escravo".
De Gleisi para Caiado


“Canalha. Sua ligação é com o Carlinhos Cachoeira. Demóstenes é que sabe da sua vida".
De Lindbergh para Caiado


“Tem que fazer antidoping. Fica aqui cheirando não".
De Caiado para Lindbergh


“Eu nem sou do PSDB, nem sou do PMDB, mas aqui é o sujo falando do mal lavado, é a lata e o lixo".
Magno Malta (PR-ES)


Baixaria II (26/8/2016)

Lindbergh Farias chama Ronaldo Caiado de "desqualificado".

Ronaldo Caiado, em resposta, disse que Lindbergh é "pior que Beira-Mar" e tem uma "cracolândia" em seu gabinete.

Renan Calheiros disse que a Casa é um "hospício".

Lindbergh Farias disse que o peemedebista está "descompensado" e perdeu a chance de "ficar calado".

Renan Calheiros disse que a  sessão de ontem foi uma demonstração de que "a burrice é infinita". 

O ambiente ficou tão conturbado, que o ministro Ricardo Lewandowski foi obrigado a suspender a sessão. Ninguém disse nada, mas desconfio seriamente que, além da baderna, o cheiro de cloaca devia estar insuportável.

Para demonstrar que o Senado e o processo de impeachment viraram um circo -- de péssimo desempenho --, acusação e defesa têm o direito de levar ao plenário até 20 convidados cada uma. Deve ser algum teste de comportamento grupal quanto a sadismo e masoquismo.

O interessante e curioso é que entre os "convidados" (me engana que eu gosto) de Dilma está (ou estava) Lula. Acontece que hoje ele foi formalmente indiciado pela Polícia Federal em processo da Operação Lava-Jato. Talvez com isso ele ajude a homogeneizar o ambiente, repleto de senadores pendurados em processos  no Supremo Tribunal Federal. 

Definitivamente, está inequívoca e cristalinamente comprovado que nós brasileiros somos incompetentes e irresponsáveis na escolha de nossos representantes no Congresso Nacional.

Recomenda-se desinfetar a TV diariamente, até que termine essa novela do impeachment.


Um comentário:

  1. Nada diferente do que sempre foi. Não é exclusividade nossa. Planetariamente, nos países onde se pratica de alguma forma o processo democrático, estes cenários são recorrentes. A memória histórica do parlamento é fundamental para ratificar a afirmativa.
    Mas a análise isenta do articulista escolhe o seu viés com os seus propósitos bem definidos e permeados de falsos moralismos. Hipocrisia é o que não falta. Esses são os piores.

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