domingo, 14 de agosto de 2016

A arte de De Kooning

Para esta postagem usei como referências a Internet e o livro "Willem De Kooning - 1904-1997", de Barbara Hess (ed. Taschen, 2009).

Willem de Kooning nasceu em Roterdã, Holanda, em 1904. Nada na sua infância sugeriria que viesse a se tornar um pintor mundialmente famoso. A sua vida familiar foi difícil. Seus pais -- o pai era um vendedor de bebidas alcoólicas bem sucedido -- divorciaram-se quando ele tinha quatro anos. Seguiu-se uma luta por sua custódia, e ele finalmente foi entregue à mãe.

Willem demonstrou desde cedo um extraordinário talento para o desenho, foi por isso aprendiz , aos doze anos, dos decoradores de interiores Jan e Jaap Gidding em Roterdã. Seus mentores cedo reconheceram seu talento raro e inscreveram-no em aulas de desenho ao fim do dia na Academia de Arte e Tecnologia. Aí o jovem Kooning recebeu as bases da prática e da teoria da arte. As aulas abrangiam perspectiva, proporção, desenho de modelos e imitação dos padrões da madeira e do mármore. A instrução teórica incluía história da arte europeia e não europeia, desde os tempos antigos ao Renascimento.

Em 1920, Kooning tornou-se assistentede Bernard Romein, diretor artístico de uma grande loja comercial em Roterdã. Romein deu-lhe a conhecer o trabalho do modernista holandês Piet Mondrian e do grupo De Stijl. Kooning começou a pintar, embora aparentemente visse esse meio de expressão com um certo desinteresse, como viria a relatar em 1960: "Quando iam para a Academia [em Roterdã, no início da década de 1920] -- pintar, decorar, viver -- os jovens artistas não se interessavam em pintar per se". A pintura, aos olhos de Kooning, era algo "para homens com barba", ou seja, os grandes do século 19, como Paul Cézanne  e Claude Monet. A ideia de se munir de paleta e pintar paisagens parecia-lhe ridícula e muito pouco moderna.

Por outro lado, se aborrecia com a sensação de nunca ter realmente compreendido a verdadeira natureza da pintura. No entanto, continuou seu curso acadêmico. Em 1924, o talento de Kooning já se tinha desenvolvido a ponto de poder financiar, com retratos e pinturas de letreiros, uma viagem de estudos de vários meses através da Bélgica. Após regressar a Roterdã, voltou à academia em 1925.

Durante esse período, Kooning via o seu futuro no campo das artes aplicadas ou comerciais. As hipóteses que considerava eram a pintura decorativa ou o design. A sua decisão posterior de emigrar para os Estados Unidos foi fortemente influenciada por esse objetivo. Como diria Kooning anos mais tarde, os pintores iam em rebanho para Paris, enquanto as "pessoas modernas" se sentiam atraídas pela América.

Apesar de imaginar uma carreira na arte comercial, Kooning deixou-se envolver profundamente pela pintura. As ideias da avant-garde europeia, principalmente as de Vassily, Kandinsky, Paul Klee, Henri Matisse e Pablo Picasso, tornar-se-iam os alicerces de se próprio desenvolvimento. Picasso, principalmente, tornou-se uma fonte de inspiração para o trabalho inicial de Kooning. Um bom exemplo é Homem, da obra de Picasso. O Cubismo Analítico também fascinava Kooning, o que deu origem a composições como o inacabado Retrato de Rudolph Burckhardt e Mulher Sentada. No garrido Mulher Cor-de-rosa, o rosto distorcido parece ter sido retirado diretamente dos rostos desesperados da famosa pintura de Picasso contra a guerra, Guernica.

Em 1926, a Grande Depressão já sombreava o horizonte. Kooning, nessa altura com apenas 22 anos, decidiu emigrar para os EUA. Esperava ter, no dinâmico Novo Mundo, melhores hipóteses de viver de seu trabalho do que na rígida Holanda. Segundo declarações posteriores, nada sabia dos artisas americanos na época: "Não pensei que houvesse artistas lá. Na Holanda nunca tínhamos ouvido falar de artistas americanos". Kooning pagou sua passagem trabalhando na sala de máquinas do navio que o levou aos EUA, onde entrou sem documentos. Pouco depois de chegar, trabalhou como pintor de casas em Hoboken, New Jersey. Falava muito pouco inglês, e mais tarde brincou numa entrevista que a única palavra sabia então era "sim". Considerava seu salário inicial avultado -- nove dólares por dia. Após cinco meses de trabalho, decidiu tentar a sorte na arte comercial.

Kooning descobriu em Greenwich Village, Nova Iorque, uma tradição de poesia e pintura americanas de cuja existência não fazia a mínima ideia. Exposições em Nova Iorque de Paul Klee e Henri Matisse impressionaram-no profundamente. À medida que se aproximava o final da década de 1920, Kooning começou a afastar-se de seus ideais anteriores de pintura e a pintar com mais frequência. Inicialmente não podia sustentar-se da sua arte, e teve de de continuar a pintar letreiros e a decorar vitrines. Nas suas composições desse período a aplicação de tinta era fina, usando frequentemente têmpera comum. Só mais tarde, quando já tinha dinheiro para comprar tintas de melhor qualidade é que começou a usá-las mais generosamente. 

Em 1934, Kooning lançou suas primeiras composições abstratas.

Em 1935, foi aceito no Federal Art Project, subordinado à Works Progress Administration. 

Em 1936, Kooning entrou em contato com membros da recentemente criada associação dos Artistas Americanos Abstratos (AAA). A sua astúcia política assegurou-lhe uma rápida aceitação no grupo, dominado por ideias comunistas. Mas Kooning insistia na sua independência. Apesar de várias propostas, recusou-se sempre ser membro oficial da AAA.

O ano de 1937 trouxe-lhe finalmente algum sucesso público -- a encomenda de um mural para o Hall of Pharmacy na Feira Mundial de Nova Iorque de 1939.

A presença de trabalhos de Kooning em exposições atraíram aatenção de museus e críticos influentes. Entre 1947 e 1950 surgiram composições abstratas de grandes dimensões em preto e branco, como Orestes, Pintura e Sexta-feira Negra.

No final da década de 1940, Kooning era já um artista respeitado. Em outubro de 1948, o Museu de Arte Moderna apresentou uma tela de grande formato em preto e branco, Pintura, adquirida na sua primeira exposição solo na Charles Egan Gallery, em Nova Iorque.

Willem De Kooning - (Foto: Thomas Hoepker, reprodução do Google)

Sem título (cerca de 1916) - 34,3 x 38,6 cm - Coleção privada - (Foto: Tim Nighswander/Imagin4Art)

Natureza Morta (Taça, Jarra e Cântaro) (cerca de 1921) - Lápis conté e carvão sobre papel, 47 x 61,6 cm - The Museum of Modern Art, Fundo de Van Day Truex , Nova Iorque - (Foto: Google)

Retrato de Renée (1924) - óleo, carvão e lápis conté sobre tela, 56,4 x 46,2 cm - Coleção privada - (Foto: Fundação Willem de Kooning)

Vendedoras de Flores (cerca de 1924) - lápis conté e aquarela, 34,8 x 26,4 cm - Coleção privada - (Foto: Fundação Willem de Kooning)

O beijo (1925) - grafite sobre papel, 48,2 x 33,0 cm - Coleção Allan Stone - (Foto: cortesia de Allan Stone Projects, Nova Iorque)

Sem título (cerca de 1928) - óleo sobre tela, 40,9 x 51,0 cm - Coleção Allan Stone - (Foto: cortesia de Allan Stone Projects, Nova Iorque)

Abstrações sem título (cerca de 1931) - óleo sobre tela, 60,4 x 83,8 cm - Localização desconhecida - (Foto: Fundação Willem de Kooning)

Estudo para o Projeto Williamsburg (cerca de 1936) - guache sobre lápis em papel de escrever branco colado em montagem de papelão, 23,6 x 36,3 cm - Iris & B. Gerald Cantor Centro para Artes Visuais, Universidade de Stanford, herança de Dr. e Sra. Harold C. Tolbert - (Foto: Fundação Willem de Kooning)

Sem título (estudo para o mural "Medicina" da Feira Mundial) (1937) - lápis sobre papel, 24,1 x 28,7 cm - Coleção Allan Stone - (Foto: cortesia de Allan Stone Projects, Nova Iorque)

Nu reclinado (retrato de Juliet Browner) (cerca  de 1938) - lápis sobre papel, 25,9 x 32,2 cm - Coleção privada - (Foto: cortesia de Allan Stone Projects, Nova Iorque)

Estudo de cabeça de mulher (cerca de 1938-1942) - lápis sobre papel, 23,3 x 17,7 cm - Coleção de Chuck Close - (Foto: Bill Jacobson)

Dois homens em pé (1938) - óleo e carvão sobre tela, 154,9 x 114,3 cm - The Metropolitan Museum of Art, da coleção de Thomas B. Hess, Nova Iorque - (Foto: The Metropolitan Museum of Art)

Retrato de Elaine (1940-1941) - lápis sobre papel, 30,9 x 29,9 cm - Coleção privada - (Foto: cortesia de Allan Stone Projects, Nova Iorque)

Mulher Sentada (cerca de 1940) - óleo e carvão sobre madeira prensada, 137,3 x 91,4 cm - Philadelphia Museum of Art, Philadelphia, Coleção Albert e Elizabeth M. Greenfield - )Foto: Google)

Sem título (cerca de 1940) - tinta sobre papel, 36,3 x 27,9 cm - Coleção privada - (Foto: Fundação Willem de Kooning)

Figura sentada (Homem clássico) (cerca de 1941-1943) - óleo e carvão sobre madeira, 137,9 x 91,4 cm - Coleção privada - (Foto: cortesia de Galeria Dominique Lévy, Nova Iorque)

Homem sentado (Palhaço) (1941) - óleo sobre madeira prensada, 103,1 x 60,9 cm - Coleção privada - (Foto: cortesia de Allan Stone Projects, Nova Iorque)

Homem em pé (cerca de 1942) - óleo sobre tela, 104,3 x 87,1 cm - Wadsworth Atheneum Museum of Art, The Ella Gallup Sumner and Mary Catlin Sumner Collection Fund - (Foto: cortesia de Allan Stone Projects, Nova Iorque)

A onda (cerca de 1942-1944) - óleo sobre fibra compensada, 121,9 x 121,9 cm - Smithsonian American Art Museum, Washington - (Foto: Fundação Willem de Kooning)

Mulher (Retrato de Elaine) (cerca de 1942) - óleo sobre tábua, 53,3 x 35,5 cm - Coleção Allan Stone - (Foto: cortesia de Allan Stone Projects, Nova Iorque)

Rainha de Copas (1943-1946) - óleo, carvão e lápis sobre fibra compensada, 117,6 x 70,1 cm - Hirshhorn Museum and Sculpture Garden, Smithsonian Institution, Washington, D.C. - (Foto: Lee Stalsworth)




Anjos cor-de-rosa (1945) - óleo e carvão sobre tela, 132,1 x 101,6 cm - Los Angeles, Fundação de Arte Frederik R. Weisman - (Foto: Brian Forrest)

Cenário para "Labirinto" (1946) - calcimina e carvão sobre tela, 462,2 x 533,4 cm - Coleção privada - (Foto: cortesia de Allan Stone Projects, Nova Iorque)

O Dia do Julgamento (1946) - óleo e carvão sobre papel, 56,6 x 72,3 cm - The Metropitan Museum of Art, Nova Iorque - (Foto: The Metropolitan Museum of Art)

Sem título (Três figuras) (1947-1948) - óleo, esmalte, grafite e carvão sobre papel, 52,5 x 60,9 cm - Glenstone - (Foto: Tim Nighswander/Imagin4Art)

Lagoa negra (1948) - esmalte sobre madeira composta, 118,6 x 141,4 cm - Los Angeles, Fundação de Arte Frederik R. Weisman - (Foto: Brian Forrest)

Mulher (1948) - um lado de uma obra com dois lados - óleo e esmalte sobre fibra compensada, 143 x 113,3 cm - Hirshhorn Museum and Sculpture Garden, Smithsonian Institution, Washington, D.C. - (Foto: Lee Stalsworth)


Mulher I (1950-1952) - óleo sobre tela, 192,8 x 147,3 cm. The Museum of Modern Art, Nova Iorque - (Foto: Google)

Mulher IV (1953) - óleo e esmalte sobre tela, 173,9 x 148,5 cm - Carnegie Museum of Art, Pittsburgh - (Foto: Fundação Willem de Kooning)


Marilyn Monroe (1954) - óleo sobre tela, 127 x 76,2 cm - Collection Neuberger Museum of Art - (Foto: Fundação Willem de Kooning)


Segunda-feira de Páscoa (1955-1956) - óleo e colagem de jornal sobre tela, 243,8 x 187,9 - The Metropitan Museum of Art, Nova Iorque - (Foto: The Metropolitan Museum of Art)

A agradável surpresa de Ruth (1957) - óleo sobre tela, 203,7 x 178,0 cm - The Ovitz Family Collection, Los Angeles - (Foto: Fundação Willem de Kooning)



Autoestrada Montauk (1958) - óleo e mídia combinada sobre papel pesado aplicado sobre tela, 149,8 x 121,9 cm - Los Angeles County Museum of Art - (Foto: Fundação Willem de Kooning)



Porta para o rio (1960) - óleo sobre tela, 203,2 x 177,8 cm - Whitney Museum of American Art, New York - (Foto: Fundação Willem de Kooning)


Uma árvore em Nápoles (1960) - detalhes adicionais indisponíveis - (Foto: Google)


Litho #2 (Ondas #2) (1960) - litografia, composição irregular, 108,2 x 77,9 cm - The Museum of Modern Art, Nova Iorque - (Foto: imagem digital © MoMA, N.Y.)



Garota em um barco (1964) - lápis sobre papel de desenho, 23,8 x 17,7 cm - Hirshhorn Museum and Sculpture Garden, Smithsonian Institution, Washington, D.C. - (Foto: Lee Stalsworth)



Sem título #2 (1969) - bronze, 17,0 x 27,1 x 7,6 cm - Coleção privada - (Foto: Tim Nighswander/Imagin4Art) 



Sem título #4 (1969) - bronze, 10,1 x 20,3 x 13,9 cm - Coleção privada - (Foto: Tim Nighswander/Imagin4Art)



Anfitriã (1973) - bronze, 124,4 x 93,9 x 73,6 cm - Coleção privada - (Foto: Tim Nighswander/Imagin4Art)


Sem título I (1977) - óleo sobre tela, 194,3 x 222,2 cm - Coleção privada - (Foto: Fundação Willem de Kooning)



Sem título V (1977) - 201,9 x 175,7 cm - Collection Albright-Knox Art Gallery, Buffalo, NY - (Foto: Fundação Willem de Kooning)



Mulher Sentada (1969-1980) - bronze, 287,0 x 373,3 x 238,7 cm - Coleção privada - (Foto: Adam Bartos)



Sem título XXII (1982) - óleo sobre tela, 195,5 x 223,5 cm - San Francisco Museum of Modern Art - (Foto: Fundação Willem de Kooning)



Sem título XII (1983) - óleo sobre tela, 203,2 x 177,8 cm - Collection Walker Art Center, Minneapolis - (Foto: Fundação Willem de Kooning)



Qualidade de um pedaço de papel (1987) - óleo sobre tela, 177,8 x 203,2 cm - Coleção privada - (Foto: Fundação Willem de Kooning)



O miar do gato (1987) - óleo sobre tela, 223,5 x 195,6 cm -Coleção privada - (Foto: Google)




Sem título (1988) - óleo sobre tela, 195,5 x 223,5 cm - Coleção privada - (Foto: Christopher Burke)




2 comentários:

  1. Recebido por email de Wania Peçanha:

    Vasco, maravilhosa esta postagem! Conhecia um pouco da obra do artista e ja gostava, agora passei a gostar mais ainda.

    bj

    Wania

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  2. Recebido por email de Ruderico Pimentel:

    Vasco, Parabéns e obrigado pela escolha; De Kooning é realmente maravilhoso; gosto demais; abraços, Ruderico

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